Rosana Gimael Blogueira

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sábado, 16 de abril de 2016

A partir de segunda-feira...

A partir de segunda-feira (18), o Brasil não terá mais governo. Na democracia, o que diferencia um governo do mero exercício da força é o respeito a uma espécie de pacto tácito no qual setores antagônicos da população aceitam encaminhar seus antagonismos e dissensos para uma esfera política. Esta esfera política compromete todos, entre outras coisas, a aceitar o fato mínimo de que governos eleitos em eleições livres não serão derrubados por nada parecido a golpes de Estado.

É claro que há vários que dirão que o impeachment atual não é golpe, já que é saída constitucional. Nada mais previsível que golpe não ser chamado de golpe em um país no qual ditadura não é chamada de ditadura e violência não é chamada de violência. No entanto, um impeachment sem crime, até segunda ordem, não está na Constituição. Um impeachment no qual o "crime" imputado à presidenta é uma prática corrente de manobra fiscal feita por todos os governantes sem maiores consequências, sejam presidentes ou governadores, é golpe. Um impeachment cujo processo é comandado por um réu que toda a população entende ser um "delinquente" (como disse o procurador-geral da República) lutando para sobreviver à sua própria cassação é golpe. Um impeachment tramado por um vice-presidente que cometeu as mesmas práticas que levaram ao afastamento da presidenta não é apenas golpe, mas golpe tosco e primário.

Temer agora quer se apresentar como líder de um governo de "salvação nacional". Ele deveria começar por responder quem irá salvar o povo brasileiro dos seus "salvadores". Seu partido, uma verdadeira associação de oligarquias locais corruptas, é o maior responsável pela miséria política da Nova República, envolvendo-se até o pescoço nos piores casos de corrupção destes últimos anos, obrigando o país a paralisar todo avanço institucional que pudesse representar riscos aos seus interesses locais. Partido formado por "salvadores" do porte de Eduardo Cunha, Renan Calheiros, José Sarney, Sérgio Cabral e, principalmente, o próprio Temer. Pois nunca na história da República brasileira houve um vice-presidente que conspirasse de maneira tão aberta e cínica para derrubar o próprio presidente que o elegeu. Em qualquer país do mundo, um político que tivesse "vazado" o discurso no qual evidencia seu papel de chefe de conspiração seria execrado publicamente como uma figura acostumada à lógica das sombras. No Brasil de canais de televisão de longo histórico golpista, ele é elevado à condição de grande enxadrista do poder.

Mas não havia outra chance para tal associação de oligarcas conspiradores. Afinal, eles sabem muito bem que nunca chegariam ao poder pela via das eleições. Esta Folha publicou pesquisas no último domingo que demonstravam como, se a eleição fosse hoje, Lula, apesar de tudo o que ocorreu nos últimos meses, estaria à frente em vários cenários, Marina em outros. O eixo central da oposição golpista, a saber, o PSDB, não estaria sequer no segundo turno. Temer, que deveria também ser objeto de impeachment para 58% da população, oscilaria entre fantásticos 1% e 2%. Estes senhores, que serão encaminhados ao poder a partir de segunda-feira, têm medo de eleições pois perderam todas desde o início do século. Há de se perguntar, caso fiquem no poder, o que farão quando perceberem que poderão perder também as eleições de 2018.

Os que querem comandar o país a partir de segunda-feira aproveitam-se do fato de o país estar em uma divisão sem volta. Eles governarão jogando uma parte da população contra a outra para que todos esqueçamos que, na verdade, são eles a própria casta política corrompida contra a qual todos lutamos. Diante da crise de um governo Dilma moribundo, outras saídas, como eleições gerais, eram possíveis. Elas poderiam reconstituir um pacto mínimo de encaminhamento de antagonismos. Mas apelar ao poder instituinte não passa pela cabeça de quem sempre sonhou em alcançar o poder por usurpação.


Diante da nova realidade que se anuncia, só resta insistir que simplesmente não há mais pacto no interior da sociedade brasileira e que nada nos obriga à submissão a um governo ilegítimo. Nosso caminho é a insubmissão a este falso governo, até que ele caia. Este governo deve cair e todos os que realmente se indignam com a corrupção e o desmando devem lutar sem trégua, a partir de segunda-feira, para que o governo caia e para que o poder volte às mãos da população brasileira. Àqueles que estranham que um professor de universidade pública pregue a insubmissão, que fiquem com as palavras de Condorcet: "A verdadeira educação faz cidadãos indóceis e difíceis de governar". Chega de farsa.


sábado, 2 de abril de 2016

PEDRA FILOSOFAL



Hoje
A moça-caixa do supermercado
Torceu o nariz para o gorgonzola
Resmungando com cara de asco frase do tipo “como pode alguém gostar disso?”
Então, fiz semblante de "paisagem" como se eu  não soubesse que a mim ela se referia.
Enquanto ela insistia na  murmuração , inconformada, teorizando sobre  o mau-paladar  alheio
Eu via pessoas - na fila - blasfemando sobre o trabalho que as sustenta
Outras desesperadas procurando – fora dali - em asfalto incandescente
Por um trabalho que da fome as afugente.

Hoje
Deparei-me com pessoas bem-sucedidas
Insatisfeitas
Desejando muito mais do que já têm...
Uma mulher sentou-se ao meu lado e pregou a Palavra
Enquanto apontava os erros do seu próximo carregada de rancor.
E eu olhava para as nuvens visualizando símbolos da paz...
Vi pessoas  protagonizando a estupidez humana
E também os náufragos do amor.
Presenciei
Choros contidos
Em grilhões de  tristeza profunda.
E eu deixei minhas  lágrimas  secarem ao sol.

Hoje
Vi pessoas pregando seus dogmas
Donas da  suas verdades incontestáveis.
E eu sentia o sol queimando minha pele, incendiário...
Em instante seco
O dia se fez noite
A chuva veio
Arrastou
Meus pensamentos e meus chinelos
Cortou
Minha fala – um entrevero -  com o Mestre
Sobre as pedras no caminho
Em águas violentas
Em lama humana
Em palavras sombrias
De seres funestos.

De repente: a resposta!
Veio-me  a boa-nova se apresentar
Como sonho meu  materializado
E o que parecia  surreal, tornou-se real!
Então, naquele momento
Olhei para o Alto
Vi um imenso arco-íris rasgar o firmamento
O céu  se abrir no entardecer, entre flocos de algodão
E a noite cair em céu ofuscante de estrelas.
No lusco-fusco
Vislumbrei três delas - as mais brilhantes
Que me remeteram a pessoas queridas.

Fora o "dia da mentira"
Mas sucedeu a verdade compreensível.
Veio O Altíssimo me sorrir
Abraçou-me
Acenou-me que
A vida é um cisco
Não é pra ser entendida
Apenas deve ser sentida e muito bem vivida.

Hoje
Ciente de que tenho
Um dia a menos em jornada terrena
E de que não sei quantos outonos me restam
Com a certeza de que o amanhã, tão incerto
Já se prenuncia
Tenho em minhas mãos
Minhas  atitudes - no agora.
Então,
Escancaro portas janelas coração
Para deixar entrar
O mais novo presente
Dádiva tão esperada.

Hoje
Agradeço
Retribuo o afago vindo do Alto
Faço da vida - doce ilusão
Significância maior
E, entre a gangorra da tristeza e da  alegria,
Apenas decido materializar o desejo
De esgotar nesta vida
Tudo o que vem a mim por direito – ou quem sabe e por que não?-
Por merecimento.
Pois, que assim seja!
Valeu, Deus do Impossível
Que hoje me revela

O muito além do Possível!