Foto: Gabriel de Paiva - Morro da Mangueira(2007) |
O QUE ACONTECE DEPOIS?
Por Ernesto Xavier
Digamos que no aspecto bélico, a intervenção federal dê
certo. Assim, imaginemos que os caras retomem os territórios comandados pelo
tráfico, que apreendam armas e drogas, que bandidos sejam presos em massa, que
os índices de violência realmente caiam. Tipo, imagina a Noruega, Papai Noel,
renas, crianças cantando jingle bells em norueguês, essas paradas de filme da
sessão da tarde na década de 90.
Os militares podem voltar para suas tarefas diárias, a
intervenção acaba, a segurança volta para as mãos do governo estadual.
Visualizou o cenário?
Então...o que acontece depois?
Imaginem uma árvore bem frondosa, com vários galhos e
folhas. Vem um funcionário da Comlurb e faz a poda. Diminuem os galhos que
estavam atingindo a fiação, somem as folhas por um tempo, a árvore fica
“pelada”. O que acontece depois?
Véi...
Volta a crescer, parece até que ganha mais força, se
espalha, as folhas voltam com tudo, galho pra todo lado. Eita árvore bonita! Aí
tu liga no 1746 pra pedir pra alguém vir podar de novo e a telefonista (ela não
vai te atender, mas...) vai te dizer que o serviço já foi feito, só lamento,
perdeu menor, não vai rolar, contrata um particular. Sacou?
Eu tô tentando falar em metáfora pra ver se o conceito fixa
melhor na mente.
Um helicóptero tinha 400 KILOS DE COCAÍNA EM PASTA, que
virariam mais de 4000 kilinhos do pó branco. Uma carga que vale uns 10 milhões
de dólares apreendido na fazenda do senador, que poderia ter a Holanda como
destino final. Uau! O que aconteceu depois disso? NADA. Nadica de nada. O baile
seguiu. Ninguém sabe, ninguém viu.
Esse foi apenas um helicóptero. Tem muito mais. Tem muito
mais mesmo. Tem aviões. Caminhões. É muito pó. É muita erva. Quem ganha com
essa parada está é rindo da nossa cara discutindo sobre intervenção federal,
intervenção militar, general, Temer, Pezão. Os caras não sentem nem cócegas. O
preço do bagulho tá é aumentando. Estão fazendo propaganda do negócio deles.
Traficante de favela é fichinha no negócio. É só a pontinha
da parada. Tipo Silvio Santos e revendedor Jequiti. Você acaba com o
revendedor, o Silvio Santos ainda tá lá, cara. Ele vai contratar outros.
Entrar na casa do Jurandir com mandado de busca e apreensão
coletivo é moleza. Quero ver bater na cobertura da Vieira Souto. Aí o bicho
pega. Vai vir ministro, general, juiz do STF, o escambau pra impedir. Se quisessem
acabar com o problema da violência na favela, era só prender os bandidos em
Ipanema. Igual acupuntura. Coloca a agulha na orelha pra curar o fígado.
Funciona.
O tráfico de drogas movimenta 1,5% do PIB mundial, o que dá
uns 320 bilhões de dólares por ano. Esse dinheiro tá com o pretinho na favela?
Aquele cara sem camisa, cordão de ouro, bermuda da Redley, Havaianas e um
fuzil? Sério que você acredita nisso?
Se, por acaso, uma grana dessa estivesse concentrada nas
mãos de gente pobre e preta das periferias, a elite imediatamente daria um
jeito de legalizar a parada, cobrar imposto e levar o seu por fora.
A parada funciona exatamente porque assim como no resto da
sociedade, dentro do universo do crime, é na favela que fica a pior parte, o
resto, o lixo, o indesejável. O aterro sanitário nunca fica no bairro nobre,
meu caro.
Então, voltando ao suposto sucesso da intervenção, o que
aconteceria depois?
A periferia continua com gente pobre, sem emprego, com baixa
qualificação, sem posto de saúde, com escola precária, índices sociais
baixíssimos, etc e tal. O moleque vai continuar sem comida em casa. A televisão
vai mostrar o granfino com carro do ano e tênis Nike. Ele vai querer. A equação
não vai fechar. A maioria não vai recorrer ao crime, mas...vai ter gente
disponível pro recrutamento.
Desigualdade, cara.
Tu com esse papo de “ensinar a pescar”, tu é um hipócrita.
Vai lá com teu anzol ensinar alguém a pegar lambari, vai. Tu não quer ver
ninguém aprendendo nada. Tu quer só andar com teu Galaxy sem ser importunado.
Se o moleque tomar um tiro na favela você vai é rir.
O Rio de Janeiro vai ser o mesmo quando a intervenção for
embora, porque a intenção da intervenção é manter tudo como está. Ela não mexe
na estrutura. Ela só pinta a parede da fachada e te vende a casa cheia de cupim
na madeira.
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BI-ZAR-RO
Fonte: Caneta Manipuladora. Disponível em: <https://www.facebook.com/canetadesmanipuladora/posts/559837884382662>
3 das 4 revistas com maior circulação do Brasil chegam as
ruas com a mesma sobrecapa. (Atenção, SOBRECAPA é uma folha que envelopa a capa
principal e está disponível para propaganda).
O Governo Federal segue seu plano de subir os investimentos
em publicidade na mídia, que em algumas revistas chegou a saltar mais de 1000%
após o golpe.
Sabe quanto custa cada sobrecapa? Segundo a tabela oficial:
Veja: R$ 650.000,00 (valores de 2018)
Época: R$ 200.000,00 (valeres de 2013 - não achamos mais atual)
IstoÉ: R$ 358.000,00 (valores de 2018)
Época: R$ 200.000,00 (valeres de 2013 - não achamos mais atual)
IstoÉ: R$ 358.000,00 (valores de 2018)
É triste quando o dever de informar é calado... se não a
força, pelo dinheiro. Com tanto dinheiro fluindo para dentro das redações que
amargam baixas vendas e tiveram demissões de setores inteiros, o apoio político
a uma agenda é feito com o nosso dinheiro.
Não que o governo não deva publicitar o que está sendo
feito. Mas infelizmente o que vemos é uma concorrencia desleal com a compra do
silêncio - quando não do apoio - de colunistas, jornalistas e outros istas para
forçar aprovação de algo impopular e que não tem votos para passar.