Rosana Gimael Blogueira

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domingo, 11 de janeiro de 2015

COSMÓPOLIS: REMINISCÊNCIAS DE UM PASSADO BOM!


Sobre um tempo em Cosmópolis, minha cidade natal


Belos tempos, belas tardes...

SOBRE UMA ÉPOCA EM COSMÓPOLIS

Avenida Ester, centro da cidade, época de minha infância

As ruas não eram enfeitadas em finais de ano, por ocasião do Natal, no início dos anos 60. As casas mantinham as luzinhas acesas tipo pisca-pisca, um pinheirinho iluminado, uma bota de Papai Noel na porta de casa, uma guirlanda simples, com algumas pinhas, bolas vermelhas. Algumas delas tinham lindos presépios que a todos encantavam....e dezembro não tinha esse calor escaldante.
As pessoas improvisavam algum outro enfeite com aviamentos comprados na lojinha da D. Malvina, na rua Campinas ou na loja do Tita, na avenida Ester, em um tempo em que não havia lojas de $1,99.
A missa do Galo era um ritual imperdível. Depois seguíamos pra minha avó Dinorah. Marcaram os presentes da Estrela, da loja de brinquedos da minha madrinha Tia Terezinha, a alegria das ceias, a reunião com todos os parentes, a comilança à mesa sempre farta, diante da qual adultos não discutiam sobre negócios, dietas, crises, fatalidades nem deixavam transparecer pra nós quaisquer resquícios de tristeza, saudade, aborrecimento...nas nossas festas, principalmente nessas ocasiões, tinham canções da jovem-guarda à bossa-nova, trilha sonora vinda da vitrola, comandada pelo tio José Honorato que após os “embalos”, contava-nos longas histórias, fazendo-nos "viajar" através delas, abrindo as janelas de nossa imaginação, povoando nossos sonhos no sono que vinha sereno, reconfortante.
Amanhecíamos com o leite deixado pelo leiteiro à porta de nossas casas, que vinha em uma carroça sacolejante...
Nossos ídolos não morriam tão jovens...nossos heróis estavam vivos, presentes, atuantes, sábios. E nos passavam segurança emocional, amor incondicional, estabilidade e...limites!
Naquela época não se falava tanto quanto hoje em Jesus, nem havia proliferação de religiões, templos, igrejas... Mas sabíamos no nosso dia a dia o sentido da fé, do amor, da paz, da solidariedade, da compaixão que tanto Ele pregou um dia.
Crianças não podiam escutar conversa de adulto, crianças entendiam o olhar de censura dos pais e em questão de segundos e, sem a necessidade de palavras, se “aprumavam”...crianças não podiam tudo, crianças seguiam os “ códigos” do bom comportamento, crianças eram ...crianças.
Os mais velhos eram extremamente valorizados e tinham privilégios do tipo escolherem a melhor parte de qualquer assado da ceia... Os mais velhos não se embebedavam na nossa frente nem discutiam seus relacionamentos nem relacionamentos alheios.
Alguém sempre fazia uma oração ao menino Jesus na ceia de Natal e um agradecimento ao Papai do Céu pela fartura, saúde e dinheiro no bolso pelo ano que findava e para o que se iniciava, não sem antes passarmos pelas romãs e lentilhas, claro! E todos entoavam "Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo" a plenos pulmões, vendo o sol raiar cheios de esperança e alegria - sem grandes bebedeiras, sem grandes tumultos, tragédias ou violência - , junto a lindos fogos coloridos adquiridos com a saudosa e inesquecível D. Mercedes Miguéis.
Nessa cidadezinha todos se conheciam, todos se queriam muito bem, todos se “misturavam” alegremente, todos eram amigos ... o ar que circundava a cidade era mágico. Pessoas se cumprimentavam umas as outras indistinta e respeitosamente e longas conversas se estendiam nas casas, nas calçadas, nas ruas, nas esquinas, nos bares, nas praças da Matriz e do Coreto, na sorveteria, no clube. Não havia pressa, o progresso caminhava a passos lentos, a palavra estresse não constava nos dicionários ainda, ela não existia para aquelas pessoas.
Não se discutia o “ser ou ter”. Apenas se vivia - e muito bem vivida - uma vida tangida por acordes harmoniosos que só uma cidadezinha pacata e totalmente do bem tem.
A avenida principal ainda era de terra no auge dos meus seis anos - as luzes dos postes eram alaranjadas- e, nessa avenida, passeávamos com nossos pais, principalmente nos finais de semana, quando tomávamos sorvete de groselha no Bar Ideal, comprávamos doces de coração no bar do Banjo ou passávamos no restaurante do Arnaldo pra tomar Sodinha e comer carne no palito( contrafilé na chapa). Havia uma parada na farmácia do Sr. Jacinto e D. Chiquinha, logo após na loja de armarinhos da família da D. Onélia Kalil e uma última já na rua Campinas, no armazém do Sr. Lourenço Trevenzolli para uma boa conversa. Sem contar as “paradas” com o Sr. Vicente Morelli e Sr. Armando Mora(ambos sapateiros), com o João, o Pedro Bratifich e o Pirtas (ambos açougueiros), Dona Tonica, Hermínio Campos, Toninho Conservani, Emílio Balloni, Massud, Carlito Botcher, Amadeu Grassi, Guido Longuin, Constantino Coutsoukos, Cabo Cruz, Vô Nato e por aí vai...e haja histórias! quaaantas guardo comigo!
Os homens bem mais velhos usavam chapéu, as mulheres rouge. Lá, os ladrões eram quixotescos (êta Silas!) e os jovens pareciam ser ainda mais sonhadores e idealistas.
Minha cidade tinha espírito natalino todos os dias, minha cidade era um salpicar de cores, de cheiros, de sabores e de pessoas adoráveis, tipos realmente inesquecíveis!
(...)
Hoje, Cosmópolis não é apenas um quadro estático pendurado na parede de casa, nem só mais uma foto no Facebook. A imagem dela está cravada em meu peito, em minhas retinas.
Minha cidade é o meu “Cosmos”... minha memória, minhas raízes, minhas lembranças, minha consciência: de onde vim, quem sou, para onde irei.


O mata-burros da Usina Ester
Era uma tarde luminosa de verão. Munida da minha Monareta vermelha- a minha primeira bicicleta-, resolvi me aventurar por caminhos, até então, desbravados.
O primeiro empecilho estava logo à frente. Arrisquei-me a passar com tudo sobre ele : o mata-burros, que ficava perto da colônia Quebra-Canelas, na Usina Ester. Tinha eu doze anos. E, ao passar com tudo sobre ele, não saí impunemente. Segundos depois, lá estava eu feito um pacote de “batatas esparramando ramas pelo chão”.
.
Um homem, “Otelo, ” se aproximou com a voz embargada ( ou seria amaciada?) pelo álcool. “Ei, vc não é a filha do Michel, o turco? O que vc tá fazendo sozinha por aqui”? Enquanto ele tentava arrancar-me a resposta, ia providenciando folhas secas e jogando um pouco da sua cachaça do vidro escuro sobre elas, molhando-as. Aproximou-se e tocou os meus joelhos e cotovelos com as folhas, dizendo que ia arder mas que aquilo curava tudo, todas as dores. E assim me dissera que eu era “cuspida e escarrada o meu pai”(?). Eu não me atrevi nem a retrucar, fiquei atônita e apenas consenti que fizesse aquele “emplastro”. Ele foi empurrando a minha bicicleta até que eu me recompusesse e começou a entabular conversa. E eu apenas o ouvia. Nessa época eu era uma quase-muda, eu mais ouvia que falava e observava a tudo e a todos atentamente, abstraindo a minha própria filosofia...E ele ia explicando pra mim que o mata-burros era um obstáculo que impedia que cavalos e bois fugissem em disparada e também serviam de ponte. Acrescentou que aquela minha estripulia podia ter feito mais estrago etc e tal e aí foi me explicando timtim por timtim sobre a Usina Ester e também que o povo da “vila” não se misturava com o povo das “colônias” . Eu não conseguia entender essa parte. Vontade tinha eu de perguntar, mas nem me atrevia a tal proeza. Houve um momento em que ele resmungou se tinham passado cola na minha boca rsrsrs.
Este foi o meu primeiro contato com o novo: a descoberta da Usina, com aquela chaminé imponente, a mistura do marrom com o verde, as casinhas todas iguais, algumas pessoas à porta de suas casas conversando, crianças com pipas, trabalhadores com roupas pesadas e alguns utensílios que lembravam a lida com a terra, um “carvãozinho” pairando no ar, um cheiro de açúcar, pessoas que passavam silenciosas. Outras passavam por ele, "Telo", cumprimentando-o efusivamente e questionando quantas branquinhas ele já havia tomado, ao que ele respondia que não era da conta de ninguém.
Paramos frente a uma frondosa árvore. Ele começou a desentortar o aro da minha bike enquanto entoava uma cantiga triste que falava das dores de um amor não correspondido. Era ele mulato, tinha a cara toda inchada, olhos apertados, alguns dentes faltando em sua boca. Eu não tive medo dele. Eu apenas o ouvia e percebia nele uma tristeza, uma dor comovente.
Bicicleta arrumada, ele me dissera para que da próxima vez eu fosse mais esperta e não me aventurasse em coisas que eu não conhecesse. Que era perigoso sair por aí sozinha. E que ele iria contar para os meus pais se me visse por lá novamente.
Tempos depois, soube que ele, o ”Telo”- não sei ao certo se era Telo de Otelo -, por conta de um mergulho na represa com o nível da água bem abaixo do normal, ao nela mergulhar, quebrara o pescoço e morrera na hora. Fiquei estupefata quando soube da notícia que rapidamente se espalhara na “vila”.
E ele, que me alertara a não me aventurar em coisas que eu desconhecia, justamente ele, incautamente, acabou se despedindo da vida de uma forma tão besta.
Poucos momentos com aquele desconhecido saberia eu , logo adiante, o quanto havia me significado - na pele - o que me dissera naquela ocasião: o preconceito devido a uma paixão por um “pé-de-cana”, dentre outras coisas que ele me “desabafara” e vim a entender beeem depois..
(...)O mata-burros serviu-me como uma metáfora. Ele sinalizou em mim, desde cedo, confrontos com as descabidas "diferenças" instauradas pela vida afora.
E a Usina Ester foi cenário para minhas muitas descobertas, aventuras e desventuras. A Usina me trouxe também amores, amigos, alegrias...ela foi palco de boa parte da minha muito bem vivida juventude!

  A Nostalgia me invade agora

 H
oje eu acordei com saudade de um montão de coisas...Pra  variar, de tudo o que vivi em Cosmópolis, minha cidade natal .Da cidade de Paulínia que me acolheu maravilhosamente bem em todos os sentidos. Do Rio Branco, colégio onde aprendi muuuito, especificamente saudade do visual dele, das cores dele...Dos meus alunos incríveis e de tudo que vivenciei com eles.Da minha família, dos meus amigos, professores ou não.Dos meus gatos, das minhas plantas, dos meus bolachões, dos amores antigos e bem vividos, da infância, dos longos papos madrugada afora com meu primo Jorginho Baracat, das mesas fartas e engordativas, das festas de arromba, dos altos papos com o pessoal do RB e do Supla, do pão de queijo da Eli AP.Bottcher, de sair de madrugada de carro sem destino e parar no Guarujá...Saudade do Guaru, onde vivi muuuitos anos de temporadas deliciosas, com um pessoal bacana, saudade até de suar (!¿)....!!!!! Do meu filho bacana, do posto 9, das minhas andanças, das praças, dos bosques, dos clubes, dos bailes do CFC,  das cachoeiras, do café da tarde da vó Dinorah e da Tia Tê,  do sítio do tio Emílio Tetzner, do charmoso e arrojado “saloom” da mineira de Alfenas, d. Auxiliadora com suas balas de café, da modista de Campinas, Mariazinha, da costureira Mafalda de Cosmos, da Neide cabeleireira, do Augusto da farmácia, do meu amigo-irmão Rodolfinho, dos brechós descolados de Barão e de de Sampa,da efervescência de Sampa, da Galeria do Rock, da av. Ipiranga com São João, onde morei por uns tempos, do Largo do Pará da década de 90,da turcaiada, da italianada, da comida da mãe, do óleo de dendê dourando a pele, dos papos com o tio ZéNato,  dos papos com a cúmplice Rebeca, minha afilhada, das risadas do Edu,feito pipoca estourando na panela ...saudade do Eden bar, dos camarões empanados do Castelo, da padaria do Nico, saudade de Minas, do bonde de Campinas da minha infância...de tudo, de todos!!!!!
Aí, abri a janela...lá estava ele, o Mar anil, brilhaaaaando, ofuscando a vista, o vento mais morninho hoje, o verde turmalina dos pinheiros, os quarentões  bem postos surfando, os cães a minha espera, o barulho das altas ondas quebrando nos rochedos, as montanhas impávidas...
Então, tudo ficou para trás, devidamente guardadiiiiinho, represadiiiiinho, emolduradinho num quadro guardado no coração....Aí, a saudade e as doces recordações deram  lugar a uma explosão de sensações de-li-ci-o-sas, a um chamado sonoro me acordando para o hoje e nada mais!
Olho para o  espelho -fiz as pazes com ele, a duras penas-, digo-lhe bom dia, desintoxicada, muito mais leve, de bem com a vida e “o que ela me trouxe”, “ouço”  a paz se instalando, uma música de Antunes, releio alguns versos de Neruda, Pessoa e Quintana pregados  estrategicamente na parede do quarto, pra não me esquecer nunca  de que o tempo é fugaz,  de que tudo é fugaz e me detenho apenas no que é mais sagrado...O hoje urge, o hoje me chama!
Sinto que tudo de bom que vivi, ressoa hoje em mim de forma gratificante, me faz seguir segura, feliz, liberta, pronta pra recomeçar, sem olhar para trás, sem me deter naquilo que poderia ter sido e não foi...percebendo que preciso, hoje, de muuuito pouco para ser feliz, muuuito menos do que eu imaginei um dia. Isto me faz privilegiada, isto me faz um pouco mais sábia, mais desapegada, despojada ... e me descubro com um certo brilho nos olhos, coberta por uma espécie de manto que me imuniza de coisas que hoje já não me dizem mais nada e antes eram tão vitais, essenciais mesmo.
Escancaro o portãozinho rústico, os cachorros se empoleiram em mim, me envolvendo em abraços longos e esfuziantes, seguem comigo feliiiiizes como eu, agora...e eu apenas quero perpetuar este momento...É o que vale, é o que realmente importa...Seguir em frente, sem olhar para trás!
E todas as doces recordações...ficam guardadas pra sempre no meu coração, provendo linda e docemente  a minha alma, o meu espírito!
E lá vou eu para os braços de Netuno...
Carpe Diem!

Feliz Aniversário, pai!
Hoje meu pai faria 77 anos. Ele se foi  aos 48. Cedo,muito cedo pra quem tinha tantalegria,tanta vontade de viver, tantos planos, tantos sonhos!
Amanhecia assoviando, entardecia cantando, anoitecia brincando com tudo e com todos e contando histórias e vendo televisão junto com a gente ou caminhando à noite com a minha mãe, os dois de braços dados , os dois sempre conversando muito por horas, enquanto caminhavam.
Saíamos sempre juntos. Não gostava de ficar sozinho, sentia falta da minha mãe quando ela se ausentava por poucos momentos – os dois trabalhavam juntos.
Um dos melhores amigos dele, além de Agenor Tonussi, meu avô Honorato e meu tio ZéNato, era Jorge Baracat. Os dois juntos era algo lindo de se ver, eram muuuito amigos e, nas reuniões familiares ou em viagens (que não foram poucas), faziam-nos chorar de tanto rirmos com as brincadeiras deles, faziam piadas até das próprias desgraças...rsrsrs.
Tinha o dom de encantar as pessoas com suas conversas, com o seu jeito meio “sarrista do bem” de ser, tinha o dom da sedução pra vender.  Era um homem bonito,  filho de libaneses, era  comerciante inato. Tinha uma energia fora do comum para trabalhar, amava o que fazia, trabalhava feito um mouro, com alegria, com amor.
Gostava de se cuidar, não tolerava a ideia de ficar barrigudo – fazia exercícios todos os dias e,  no verão, nadava todas as manhãs no CFC;  à tarde , fechava a loja e nos levava ora no clube, ora na represa na Usina Ester, onde nos ensinou a nadar. Tinha medo de perder os cabelos. E amava feito um adolescente a minha mãe. Formavam um casal lindo, apaixonado, não tem em Cosmópolis, alguém que o tenha conhecido e  não tenha boas e lindas histórias pra contar sobre ele.
Tinha um amor descomunal pelos filhos, era liberal conosco, bom demais, amigo, conselheiro, nos acompanhava em nossas atividades, enxergava loooonge, era cheio dos “provérbios”, tinha uma criatividade fora do comum e uma paciência de Jó  com a gente. Era caaaalmo demais, falava baixo, nunca levantou um dedo para nós, nunca o vimos reclamar de absolutamente nada, nem mesmo quando ficou doente e passava pela terrível  hemodiálise.
Ele costumava dizer não fossem os gastos na alimentação com a gente, ele estaria muuuito rico. (rsrsrs)Pra se ter uma ideia, meu irmão, Michel  Jemael (atleta, na época), comia dez pãezinhos , eu devorava um queijo sozinha, o Jamil um litro de leite, só  no café da manhã, fora os muitos litros de suco de laranja natural que ele mesmo fazia todo santo dia...
Exageros à parte – fomos criados com uma fartura descomunal (imaginem, cozinha árabe com italiana, além do que minha mãe era e é feeera na cozinha) – fomos muito bem assessorados por ele, quer seja com os seus sábios conselhos, quer seja com sua  postura diante da vida, diante do mundo, que muito nos inspirou a sermos pessoas do bem, pessoas que se encaminharam de forma legal. 
Poderia falar por horas a fio como filha  amadíssima que fui...foi através dele que pude entender   muita coisa do mundo, os percalços da vida, o significado da liberdade,  os mistérios dos sentimentos; foi ele que me fez  descobrir a paixão pela leitura, me ensinou a amar os animais e a natureza, a importância do conhecimento, dos exercícios físicos,  de se cuidar, de cuidar bem dos sentimentos pra não envelhecer por dentro...muitas coisas meeesmo aprendi com ele, coisas que me abastecem a alma, que me fazem seguir em frente, além das muitas histórias, viagens, papos, situações incríveis que povoam meus pensamentos agora e sempre... uma herança sem preço, um tesouro valioso pra sempre!
Tem uma frase dele, dentre taaaantas outras, que eu gravei pra sempre e ponho em prática: “Estenda sempre o tapete vermelho para as pessoas mais simples, para as pessoas menos favorecidas socialmente ou por qualquer outra condição desfavorável  e trate de igual pra igual pessoas do seu nível ou altas autoridades. Não seja subserviente nunca a coisas ou pessoas que não tenham nada a ver com os seus princípios”.
È isso aí, Michel B. Gimael, eu que não pensava em ter filhos, você sabia disso, você sabia a filha que tinha, veio o Michel Bechara Gimael Neto, o seu “clone”(quem o conhece sabe disso)...hoje vejo que filho é a oportunidade que a gente tem de poder passar a nossa vida a limpo em muitas circunstâncias.  Hoje entendo, mais do que nunca, essa sua paixão por nós, seus filhos...e por que vc  teve que partir tãããão cedo!
Todas as vezes que olho para esse seu adorável neto ( vc iria gostar dele e muuito!) não tem como não me lembrar sempre de vc, meu “turco” querido...
Esteja onde estiver...FELIZ  NIVER!!!!!!!Saudadona muuuita ...Beijos e beijos da sua filha que sempre te amou muuuitão,
Rosana

 Homenagem  à minha mãe
Casal apaixonado, apaixonante e inspirador!

H
oje eu acordei com uma vontade imensa de escrever para você. Sem receio algum de lhe escrever...
Hoje é um dia especial. Hoje é um dia de comemoração. Hoje é o seu dia, mãe.Vc nasceu em 13 de novembro de 1940!
 Você  deve estar recebendo um telefonema  atrás do outro, a loja se enchendo de flores, a casa idem, presentes e mais presentes , cartões e mais cartões...provavelmente suas amigas já a  estão ajudando com os  preparativos da sua já famosa e esperada reunião festiva  .
Imagino você  elegante como sempre, impecável com os cabelos e  as  unhas feitas, sendo assessorada pela  Rosely na loja, pela Maria e a Tânia Bico – suas leais secretárias-  que, como sempre, dedicam-se com esmero para deixar a casa “uma pintura”.
Provavelmente  você acordou cedo como sempre, conversou com Deus, agradeceu por mais um amanhecer, por mais um ano de vida, cuidou das plantas assoviando, deu uma geral na sua área de lazer  e foi andar de bicicleta pela cidade, como você habitualmente o faz há décadas. Pontualmente, às 9h,  abriu a  loja, como assim você  também  o  faz  há décadas.
São 72 anos de vida , muito bem vividos e abençoados, como você costuma dizer.
Você realizou muitos sonhos, teve muitas conquistas,  foi  ( e é) muito amada, casou-se com o homem que escolheu, 
que a fez  feliz -  formavam um casal perfeito - , construíram uma família.  Teve excelentes pretendentes, verdadeiros partidões (houve até um aviador), mas  você só teve olhos para o meu pai.
Você não teve muita  paciência de estudar (embora tenha priorizado os estudos em nossa educação), mas sempre leu muito, se expressa muito bem com essa sua voz rouca, sempre procurou se informar, destacou-se como comerciante, soube sozinha tocar o que meu pai deixou,  soube encaminhar seus filhos, foi sábia, íntegra e digna.
É referência  como mulher, como cidadã cosmopolense e como comerciante.
Vc  foi uma mulher lindíssima – ora chamavam-na Grace Kelly ora Ingrid Bergman (Uau! Ser comparada a essas divas hollywoodianas não é pra qualquer uma!) – e você  nunca deu bola para isso. Soube  lidar com as diversidades do tempo, consciente da efemeridade de tudo: continua bonita,  não  envergou, não se submeteu aos caprichos do destino.
Aprendeu  muito e colocou em  prática tudo o que aprendeu, com maestria.
É uma mulher de personalidade forte, pragmática, com um brilho incomum.
Tem um talento para a cozinha inquestionável, é habilidosa nas vendas, no trato com as pessoas.
Nunca mais pensou  em se casar novamente.
Tem três filhos  e três netos...
É uma mulher realizada e feliz...É, d. Cida, eu poderia ficar horas falando sobre você.Mas, hoje,  apenas lhe agradeço por ser minha mãe.
Não foi tarefa fácil pra você  ter sido escolhida pra ser minha mãe;  também não foi tarefa fácil pra mim,  ter sido escolhida pra ser sua filha.
Casou-se aos 17  anos por opção, você  e meu pai  eram garotos, foi mãe muito jovem.Não foi fácil a nossa convivência, lidar com as nossas divergências...eu insuportavelmente contestadora pra não dizer desaforada, rebelde... Você  dizia que o meu pai me mimava, me dava asas de mais, liberdade de mais - um amigo dele dizia que na casa onde se  convive com  mais de uma mulher é um verdadeiro milagre a harmonia reinar absoluta...rsrsrs.
Você teve  pulso  firme. Você não nos mimou. Você soube ser firme sem vacilar nunca, cumpriu habilmente com  o seu papel.Então, Cida, entre oscilações emocionais, hoje –seria a distância? Os quase mil quilômetros que nos separam¿  O que importa¿ - entendo você...Tudo sempre é culpa da mãe;  não fosse isso, os consultórios dos terapeutas seriam menos concorridos.  É comum pais acharem que filhos são projetos de vida-  ou se projetarem através deles ou se realizarem através deles...É comum os  filhos culparem os pais por tudo.
Por sorte e felizmente,  a maturidade traz a sabedoria, o discernimento ... e as coisas vão se ajeitando, se encaixando nos devidos lugares. E  os filhos, tardiamente ou não, reconhecem a árdua missão de seus pais em transmitir valores que julgam  imprescindíveis para o encaminhamento dos seus.
Aquilo que julgamos que poderia ter sido e não foi,  vai dando  vazão  a outras descobertas,  a outros caminhos, a outras compensações...tudo foi devidamente preenchido, resgatado, redimido  pelo amor extremo dedicado ao  meu filho, o seu neto, o Michel Neto , por tudo o que faz por ele, um verdadeiro oásis, um transbordar  de amorosos sentimentos, devida e intensamente correspondidos por ele.
E eu  lhe sou grata, muito grata por isso! E também a  admiro por isso! Muito mesmo.
A vida, o tempo se encarregam de apaziguar tudo...de esclarecer tudo, de acertar os ponteiros, de zerar pendências.
Talvez por sermos muito parecidas, tivemos os nossos embates. Somos sinceras de mais e olha que meu pai dizia que sinceridade em excesso  é falta de educação!rsrs.Então, seríamos mal-educadas?  Temperamentos fortes, sanguíneos?  Apenas mãe e filha...querendo acertar, aparar arestas. Faz parte da nossa evolução, do nosso crescimento espiritual...
Tudo ficou para trás e acredito que  para você tenha sido assim também.
Apesar de não ter herdado a sua beleza  de diva(rsrsrs), agradeço a  você  por ter herdado a sua garra, a sua disciplina, a sua saúde de ferro, a sua determinação, o seu astral, a sua alegria de viver.
Agradeço a Deus e a  você, mãe, a oportunidade de tê-la como mãe e  de ter aprendido tanto com você...como  mulher, como filha e como mãe!
Um  Feliz Aniversário, muuuuitos anos de vida!!! E que você  continue com essa sua fé inabalável, com essa sua vitalidade, com essa sua força...que venham muitos anos pedalando, assoviando, viajando muito e com muitas festas celebrando a vida – hoje e sempre.
De  novo, obrigada, D.Maria Apparecida Fozatti Gimael , por me tornar uma pessoa melhor...
Parabéns  pra você nesta data querida!!!!
Beijos da sua filha que hoje a reverencia,
Rosana



A música e eu



T
enho a música como a expressão máxima de um estado de alma, a melhor  
tradução de um  canal de comunicação extrassensorial  entre as pessoas que têm uma percepção muito além  da  imagem aparente das coisas ao redor.
A linguagem musical muito cedo se apossou de mim. Desde o assoviar contínuo da minha mãe, entoando  trilhas de músicas de filmes da década de 50  - enquanto cozinhava -  às batucadas do meu pai  sobre a pia do banheiro,  ao amanhecer , durante a minha mais tenra infância, passando pelas festas  na  casa de minha avó Dinorah, casa cheia de italianada varando madrugadas - regadas à Jovem Guarda - às aulas particulares do meu Tio ZéNato,  que ensinava matemática em casa, sob o som da bossa-nova, apresentando-me Nara, Chico, Caetano, Gil, J.Gilberto.
Depois vieram  Beatles, Rolling Stones,  Gênesis , Pink Floyd  e outros estilos de  rock mais pesado, todos eles apresentados pelo meu tio Jorge  Baracat, um descendente de libaneses à frente do seu tempo,  período intercalado por Luiz Gallani e seu conjunto, Rage Baracat, Paulinho Tavano  e  meu tio Rubens Gimael , eternamente acompanhado de seu sax.
E , paralelamente,  veio o piano, com quem tive afinidade imediata, assessorada,  a princípio pela D. Stella Tavano e depois pela  Maria Ignês  Scorsoni, maravilhosa pessoa (e paciente professora!)  com quem aprendi tantas lindas coisas. Meu namoro com esse instrumento durou quase duas décadas. E foi, nesse período, que fiz minhas incursões pela música clássica, que aprimorei  meus  ouvidos, que viajei por lindos caminhos, descobrindo melodias e partituras que me faziam sonhar e sonhar.
Fui crescendo acompanhada de meus primos e primos da minha mãe extremamente musicais que atravessavam dias e noites em nossos encontros,  embalados  pelo violão ( ocasiões que também estimularam meu irmão Michel a iniciar-se nesse  instrumento) e, logo após, pela minha tia Célia, com sua voz poderosíssima  e performance única que abrilhantava nossas festas.
Depois vieram as  nossas viagens na Kombi  do meu   Tio Jorge  devidamente acompanhadas por uma trilha sonora impecável, deliciosa ... “viajava” sob o som das músicas através da janelinha, vendo os azuis, os  verdes, a vida que se descortinava além do horizonte... e sonhando sempre!
E seguiram-se  os romances, os bailinhos na garagem,  no CFC, as inúmeras viagens, a gravidez  e todos os eventos que se tornaram marcantes através de  uma melodia, de uma canção que me transportava para um universo mágico, que me inspirava - o que sempre me fez levar a vida com certa leveza  e muita alegria.
Não há um casal que não tenha uma música-tema para o seu relacionamento. Se não houver, então não há sintonia de romance. Não há uma viagem fascinante sem uma boa trilha sonora que perpetue em nossa memória, que  nos remeta a emoções e sensações vividas nos momentos pra lá de especiais ou àquelas que  sempre associamos a pessoas por quem nutrimos carinho, afeto, amor.
Aqui, no sul, chove, venta – eu diria que mais parece um vendaval -, faz um frio danado. Me preparo  para as próximas horas para uma viagem de carro, um percurso com duração de mais ou menos  14 horas. Sozinha. E preparada. Sim, organizei, previamente  uma seleção de mais de mil músicas que farão dessa viagem uma conexão com o divino. Nada a temer. Apenas sentir e sentir.  E viajar e “viajar”. Acho que os meus tios e meu pai amariam ouvir essa extensa coletânea .  E com  certeza, reverenciariam essa minha trilha sonora.
(...)
E que todos possamos fazer da vida a melhor ( e a mais harmônica!) melodia para os nossos ouvidos!
E  que venha a vida... Lindo dia a todos!



 Feliz Aniversário, Tia Terezinha, minha querida madrinha!



D
e longe, mando-lhe toda a minha vibração por este seu dia , de muita festa, alegria, presentes mil. Bem sei que a sua sala, a sua cozinha, a casa toda deve estar repleta de pessoas desde o amanhecer até o varar da noite, todas elas  desejando a você muuuitos anos de vida, todas elas a sua volta comemorando o seu aniversário em grande estilo.
Você hoje faz 76 anos, muito bem vividos. Sempre solícita com todos, sempre com a casa cheia de pessoas que te adoram, que te rodeiam de mimos, de atenções, de gentilezas, retribuindo a você tudo o que faz por elas: sempre pronta para recebê-las, para ouvi-las, sempre com a mesa posta (e farta!) revelando a sua generosidade, dando sempre o seu melhor para todos.
Reconhecida pelo lindo trabalho com a costura –  é uma exímia profissional, dom herdado do meu maravilhoso vô Honorato -, pelos dotes culinários, pela atenção desmedida com todos, revelando sempre, através da sua aparência frágil, corpo de moça, voz baixa, sorriso no rosto, o quanto é forte, cheia de personalidade, independente, decidida e sábia.
Tem uma única filha, minha prima Soraya, de quem tanto se orgulha – e com razão!-  por ter formado uma linda família, por ter-lhe dado tantas alegrias e ter uma louvável trajetória de vida.
Minha amiga de muuuitas horas de confidências, com quem muito me identifico, com quem aprendi tanto, com quem sempre fui eu mesma, sem reservas, já que ela sempre me deixou à vontade, sempre me entendeu, sempre me apoiou, não sem ter dado  broncas nas horas certas, não sem antes ser bastante imparcial, porém sempre minha cúmplice e incentivadora em tudo o que fiz.
Bem sei que ando em falta com ela por não ligar e ficar horas ao telefone, dadas as circunstâncias nas quais hoje me encontro, a quase mil quilômetros dela. Com ela a conversa tem que ser olho no olho, pelo menos durante uma tarde inteira, frente a uma mesa, sem pressa alguma.
Temos a mesma paixão por animais, principalmente pelos felinos, muitos gostos em comum, inclusive a de sempre testar novas receitas na cozinha, território que ela domina muito bem, principalmente o dom que tem em preparar massas, pães, doces bem ao estilo da sua mãe, minha querida avó Dinorah, italianíssima.
Minha tia é bastante romântica, sonhadora, discreta, bem musical e, embora tenha  enfrentado vários desafios pela vida afora, soube se sair de forma corajosa de todos eles, sempre mantendo a sua essência e  uma certa leveza no modo de  enxergar a vida!
É uma pessoa muito conhecida e amada em Cosmópolis, muito admirada por sempre receber tão bem as pessoas e fazer delas  sempre únicas, exclusivas,  através do  seu carinho e prezando sempre a amizade em primeiríssimo lugar.
Minha Tia Tê, um brinde a você, muita paz, saúde e sucesso sempre!!!
Obrigada por tudo  o que fez por mim sempre!!!!
Beijos e abraços saudosos da sua sobrinha-afilhada, que em breve estará aí para abraçá-la, colocar a  conversa em dia e saborear os seus deliciosos quitutes.





A Kombi amarela


Em um tempo não muito distante lá estávamos nós, família Bechara Gimael e Baracat, "a bordo" de uma Kombi amarela, a descortinar novos horizontes em meio a verdes, azuis, montanhas, estradas, restaurantes, lugares paradisíacos e, principalmente, a visitar os parentes de São Lourenço -onde hospedávamos em muito bons hotéis- e em arredores pitorescos mineiros e no litoral, onde nos deleitávamos.

E lá íamos nós, estrada afora, na Kombi amarela do meu Tio Jorge Baracat...

Capitaneavam no banco da frente, Tio Jorge, Michel-meu pai - e, espremido, o Tio Zé Bechara.

No banco do meio, vinham minha mãe, minha tia Chafia e minha tia Alice, esposa do Zé Bechara, cercadas por Jamil, Jorginho, Rogéria, Salete e Iara- os “pequenos”. Esses se distraíam com os looongos papos das jovens e animadas senhoras que eram incumbidas dos lanches e bebidas para todos. Na maioria das vezes, o famoso pernil era o protagonista, dentre a profusão de petiscos. E quanta comilança havia naquele espaço, naquele veículo!

No banco de trás, estávamos nós, os mais velhos: eu, Michel Jr., Zarif, Meire, Zé Roberto e Luizinho-esses dois últimos primos, juntos com Salete e Rogéria, filhos do pândego Zé Bechara.

O som era comandado por Tio Jorge- rock progressivo dos bons , MPB e, por vezes, Roberto Carlos que ele oferecia a minha tia Chafia-, assim como a “direção” também era somente dele. Esse meu tio era calmo, atencioso, alegre, generoso, emotivo, coração gigantesco. Esse meu querido tio, com sua descomunal generosidade e com sua sensibilidade ímpar nos apontava tudo o que via pela frente de novo, de lindo e tocava nossos corações, nos inspirava e nos comovia com tudo o que pra nós apresentava e, com a trilha musical impecável, introduzia em todos nós um repertório primoroso que ecoa em nossos ouvidos e ressoa em nossa essência até hoje!

Meu pai e meu Tio Zé, além de assessorarem meu tio Jorge, o “piloto”, com “mapas” improvisados, com o “esperto” cafezinho da garrafa térmica e variadas conversas, encarregavam-se das brincadeiras, imitações, tiradas engraçadas com as quais literalmente chorávamos de tanto rir e, através delas, chamávamos a atenção de todos a nossa volta...as pessoas ficavam estupefatas com tanta gente em um “automóvel”, com tanta alegria, com tanta união e, claro, com o nosso “estilo”! rsrs

E fomos nós, durante dezenas e dezenas de vezes, durante nossa infância, adolescência e início de nossa juventude, ancorados por eles -nossos pais-, viajando com eles, aprendendo com eles, protegidos por eles, assessorados e muito bem acarinhados(amados!) por eles...durante muito tempo foi na Kombi amarela, depois em outros carros, já cada qual com o seu.

Foi uma época em que não ouvíamos falar de grandes fatalidades, depressão, estresse, nem de religiões; não havia grandes discussões sobre política, ideologias e tantas outras coisas, dadas as “mídias”(???) da época...e era muito raro as famílias viajarem tanto assim, juntas e costumeiramente. Foi uma época de fartura, de muito amor, respeito, alegria. Não ouvíamos nossos pais “discutirem a relação”, nem falarem mal de ninguém. Não os víamos tensos, tristes, reclamões, falando de finanças, de assuntos impertinentes.
Foram “anos dourados”...

Acordei com as palavras de Nelsinho Motta: “ As pessoas devem parar de viver a nostalgia. Ela emperra o presente, impede você de enxergar as maravilhas do Hoje...” rsrs . Pois bem, eu vos digo, caros leitores, que mal há em reviver, vez ou outra, o bom passado? Se hoje somos o que somos, devemos muito ao que vivemos; se tivemos um “mal passado”, enterremo-nos, pois, ou aprendamos com nossos erros e que eles nos fortaleçam ! Mas se há coisas tão ternas e lindas pra rememorarmos, por que não deixarmos as boas lembranças nos abastecer nessa manhã não tão luminosa? E que o verso “Recordar é viver” faça jus a quem interessar possa...a quem tem a bênção de poder ter coisas lindas pra relembrar e seguir forte e muito bem abastecido no Hoje!

A imagem da Kombi peguei na internet. O “Vamos fugir” é uma pedida pra ficar “fora do ar”, fora do emaranhado de coisas tristes que assolam o nosso país e o planeta em que Hoje vivemos...pelo menos por alguns momentos!


     Para minha prima  Salete  Jemael
 “D
e tanto me perder de andar sem sono, por essa noite sem  nenhum destino,  por essa noite escura em que abandono os meus sonhos de tempo de menina, de tanto não poder mais ter saudade de tudo o que já tive e já perdi.. então, dona menina,  agora eu me resolvo ir embora pra bem longe daqui."
Um dia todos  estivemos juntos. Não faz tanto tempo assim. Mas parece  um século. Tínhamos a presença de todos os que já se foram, sempre ao redor de uma mesa, comemorando datas especiais, com muita comida, com muita alegria, com muitas brincadeiras, com muita música. E a presença constante -  e tão aconchegante!  -  de nossos pais, tios, avós...
Um dia partilhamos sonhos, alegrias, tristezas. E quantas  viagens fizemos juntos! E quantos momentos felizes, de chorarmos de tanto rirmos  com as brincadeiras e palhaçadas que nossos pais faziam! E sem contar a fartura, presença constante em nossas vidas – e  sempre tema  recorrente em nossas conversas.
Bem sabemos que, mesmo a distância, mesmo sem mais nos reunirmos como antigamente, mesmo sem os tempos de outrora, os  vínculos do sangue perpetuam, “falam mais alto”. E tão bem sabemos o quanto você nos queria bem e o quanto nós sempre nos demos  bem. Os sentimentos e a sensação, agora, de que o tempo parou são muito fortes  em mim, em toda a nossa família que sente imensamente  a forma como você partiu:  tão rápido, tão cedo, sem tempo para despedidas.
Você não nasceu pra sentir dor.  A sua alegria, o seu senso de humor  e  a sua vitalidade nunca combinaram com doença, com sofrimento.
Então, querida prima Salete - agora liberta de todas as dores - , descanse em paz nos  braços do Senhor! E que você continue fazendo todo mundo aí, do andar de cima, rir muuuito - quem sabe acompanhada do seu pai, Tio Zé Bechara, do tio Jorge Baracat e do meu pai, sempre tão hilários?! Há de ser uma  festa só!
Abraços saudosos de todos os seus primos e tios...

 Rainha Mercedes, a soberana!




E
ra uma vez um reino, nas planícies  da Cidade Universo.  Nesse reino, morava uma rainha a quem todos chamavam Mercedes, embora tenha ela nascido Marselha.
Era uma mulher admirável, muito amada,  respeitada,  reverenciada por todos. De ascendência libanesa,  era  munida  de uma alma nobilíssima e de uma bondade incomum. Cultiva o hábito da leitura - principalmente a dos jornais –,  o que a mantinha sempre  bem-informada e a fazia transitar por  assuntos  diversos,   antenada com as últimas tendências.
Não ficava na piedade. ”Praticava” a compaixão.
Tinha a pele claríssima - e sempre muito bem cuidada -, os cabelos dourados, os olhos de menina sábia.  Era dotada  de  porte elegantérrimo e de extrema  generosidade,  distribuída sem parcimônia a todos os seus súditos.
E, por onde passava, deixava o rastro suave de seu inconfundível perfume e  a marca do  seu refinamento nos seus gestos, nas suas atitudes.
...
Essa introdução já me motivaria a  contar uma  linda história de trajetória de vida de uma mulher, cuja existência  foi pautada pela bondade e generosidade extremas, como disse acima.
Por hoje, apenas  arrisco , aqui, a distância, fazer  um tributo a essa mulher que se despede deste plano , deixando o meu coração- e o de muuuuuitas outras pessoas -nublado, tomado de tristeza imensa.  E, nesse meu desalento,  nesse meu  profundo pesar , sinto-me invadida pelas maravilhosas lembranças que tenho dessa pessoa extraordinária , nossa  D. Mercedes.  Hoje veremos o nascer não de mais uma estrela no céu, mas  de uma constelação- de brilho extraordinário- com o seu nome.
Uma senhora  que marcou não só a minha vida, como a vida de muitos cosmopolenses. Uma mulher notável, sempre pronta pra ouvir, ajudar e incentivar  as pessoas a sua volta, sem fazer distinção de ninguém.
Guardo os seus lindos cartões escritos a mão, seus mimos, seus conselhos, sua voz mansa -com o mesmo timbre que a do meu pai- pra sempre na minha alma, no meu coração, na minha memória.
Sua presença luminosa foi marcante na minha infância- e na de muitos- quando nos apresentou os fogos de artifícios, quando nos recebia ( que fartura!) com  o seu cachorro-quente delicioso (com  a famosa salsicha Eder, feita de tripa de carneiro, maravilhosa!),  com os seus “bons- princípios- de- ano-novo” generosos, sempre acompanhados de um sorriso e de uma delicadeza ímpares, de sua “fina e linda estampa”...sempre dotada de um indiscutível bom-gosto,  porte altivo,  lindas mãos sempre prontas pra nos afagar, braços abertos prontos pra nos envolver em longos abraços; com palavras boas, proferidas  baixinho, bem articuladas.
Para a senhora, linda  e distinta D. Mercedes, nossa Mercedes do Aldoyr , da Nadya, da Thaís, da Miriam, da Marselha, do Miguéis e de todos nós que tivemos a honra, a alegria, o privilégio, a dádiva de tê-la conosco sempre a nos confortar, a nos acarinhar, toda a nossa eterna gratidão, todas as nossas reverências e deferências  por nos ensinar tanto, por sempre nos receber tão maravilhosamente bem em sua casa!
Para a senhora , D. Mercedes, que sempre soube o quanto a amamos, cito a frase que se encaixa perfeitamente para a nobre pessoa  que  foi e que deixa em todos nós uma descomunal  saudade: “As pessoas não morrem, ficam encantadas.” Guimarães Rosa
E que sua luz se irradie pela Eternidade! Para todo o sempre.
Amém.

                    Ulisses, o grande menino de Cosmópolis


Ulisses, em 1978
 Após dez longos anos passados longe de casa, combatendo os troianos inimigos, Ulisses, o herói grego por excelência acabou por conseguir  a vitória pela astúcia graças, no caso,  ao famoso cavalo de madeira-o cavalo de Troia- abandonado na praia, perto das muralhas por tanto tempo sitiadas.
Os troianos imaginaram se tratar de uma oferenda aos deuses e, no entanto, era uma máquina de guerra com o ventre repleto de soldados. À noite, os guerreiros gregos  saíram de dentro da imponente estátua e massacraram até o último dos  troianos, que dormiam.. Foi uma atroz  carnificina, que suscitou  a ira dos deuses. A  guerra estaria terminada. Ulisses (Odisseu, que originou a Odisseia-narrativa das peripécias do herói -  de Homero) voltaria pra casa, pra sua ilha, Ítaca (onde  era rei), para sua mulher, Penélope, e  para  seu filho, Telêmaco.
Na volta para casa – mais dez anos-,  enfrentou toda a sorte de percalços, de desafios - é, os deuses lançaram a sua fúria, atormentando o herói - e a todos eles, sábia e corajosamente, Ulisses venceu, conquistando o reconhecimento  e todas as glórias cabidas a ele.  E, quando finalmente chegou à sua terra natal, junto aos que o amavam, foi recebido com  imensa alegria e  as honras que lhe eram devidas.
Ulisses, o herói  semideus,  protagonista  da epopeia grega,  representa na mitologia grega o arquétipo da coragem, da sabedoria, da astúcia, da inteligência, do  homem destemido e autêntico, o sábio que sabe o que quer e para onde vai.
Familia Coutsoukos, 1960: D.Rosinha e Sr. Constantino Coutsoukos,com George e Ulisses...lindas lembranças!
(...)
O Ulisses sobre o qual falo acima é  conhecido de muitos -  interessados ou não em relatos fantásticos da miologia grega.
O Ulisses, a quem me reportarei agora,  da minha querida Cosmópolis,  embora carregasse  o mesmo nome do herói,  teve uma saga inversa ao do destemido “Odisseu”. 
Ulisses, o “grego” cosmopolense, era  um rapaz adorável que um dia participou de muitos bons momentos da minha infância, junto com os meus pais e os dele, pessoas muito distintas e amorosos pais –saudosos - D.Rosinha Damiano  e  o Sr. Constantino Coutsoukos, o grego;  foi um  moço lindo, amoroso, gentil que, na minha adolescência, se fez ainda mais presente em muitos bons( e também angustiantes) momentos, compartilhando tristezas e alegrias.  O Ulisses que fora, um dia, apaixonadaço por minha prima Zarif.  O Ulisses que, um dia, na juventude, “se esvaiu” de todos nós e, dali por diante, foi se perdendo na estrada da vida.
De nome grego, ascendência grega por parte de pai. Aparência, um dia, também de um deus grego, de feições lindas e marcantes, de estatura alta, um menino gigante.  Grande no tamanho, no coração, na alma. Frágil, indefeso, extremamente tímido, um menino na essência. Ulisses da esquina do Itaú, irmão  do George.
Querido - um dia - por  todos ... e sacaneado – um dia- por muitos.
O primeiro baque veio com a morte prematura do pai; logo depois, veio o outro,  com  o  da perda da mãe. Teve uma infância feliz, farta, ótima educação. Tudo começou a mudar drasticamente com a morte do pai e piorou ainda mais com a morte da mãe. O menino frágil não teve a sorte do herói grego, não teve estrutura pra aguentar as rasteiras da vida. Passou  por toda a sorte de privações e provações. Começava aí  um outro tipo de  Odisseia. A do inferno das drogas, a  do perverso mundo dos excluídos, o vagar sem destino, a despeito das inúmeras tentativas da família, sem sucesso, de tirá-lo das ruas.  E Ulisses virou “Lissão”(ou Lição!). E Ulisses vagava dias e noites  a esmo. Sozinho. Maltrapilho. “Ligeira”.  Tinha uma casa. Recusava-se a voltar pra ela. Perdeu o seu chão, o seu lar. Sentia-se livre na rua. Contava com a generosidade de muitos. E escárnio de outros. Mantinha o sorriso de garoto, a  inocência de garoto, de quando, juntos, dávamos comida aos patos e marrecos na chácara da família; a alegria, de quando, juntos, partilhávamos mesas fartas também  em família.  Apesar da aparência de maltrapilho,  sua compleição física, seu jeito calmo, sua fala mansa e a maneira como se dirigia às pessoas denotavam que fora bem-nascido.
Os irmãos inseparáveis, George e Ulisses, em tempos lindos de infância em Cosmópolis
A vida nos separou. Vez ou outra quando visitava a minha família,  aos domingos, lá estava ele na soleira da porta da  casa de minha mãe, à espera de uns trocados, de um prato de comida. E eu tentei, de todas as formas, muitas vezes, a  dissuadi-lo daquela vida que levava...em vão! E ao adentrar na casa de minha mãe, muitas vezes impotente diante daquela situação, não conseguia almoçar pensando naquele moço ali, jogado na porta, não querendo entrar nunca, comendo rápido,  faminto...não tinha como não me remeter à vida linda que um dia ele tivera...sempre impossível deter as lágrimas, a tristeza, sempre com meu coração moído sem poder fazer absolutamente nada. E tendo sempre  a plena convicção de que muitos a minha volta também se sentiam assim, sem poderem nada mais fazer...
E ele se foi. Um anjo se foi. Seu corpo foi encontrado  de frente à antiga casa de sua família-segundo eu soube pelo jornal local- , onde passou a sua infância, uma linda infância que eu pude presenciar de perto.
Guardo comigo as melhores recordações desse menino-gigante-frágil que um dia me fez muito feliz; o menino com quem, um dia, juntamente com nossos irmãos, George e Michel, ouvimos belas  histórias “gregas” ou não, do lindo, elegante, sempre sorridente e bem-humorado pai, Sr. Constantino, ao lado de sua não menos maravilhosa e linda mãe, D.Rosinha,  que  vestia – e  tratava!-  os seus dois filhos como verdadeiros príncipes!
Guardo comigo a sensação de ternura imensa e, ao mesmo tempo, a eterna impotência ao tentar  lutar (em vão!) contra uma batalha inglória: a devastação que as drogas trazem, principalmente para os que estão ao redor da pessoa envolvida, para aquelas pessoas que sofrem sem nada poderem  fazer por aqueles que se afundaram no mundo sombrio; por aqueles que recorreram a elas, às drogas, tentando camuflarem, tentando  se refugiarem, tentando se esquecerem das dores do mundo aqui fora, sem forças pra saírem do submundo no qual  mergulharam... pra nunca mais voltarem pra nós.
Siga em paz, Ulisses, doce menino, não mais errante. Você está liberto definitivamente dos perigos dessa vida. Deus e todos os que verdadeiramente te amaram e que já não se encontram mais neste plano aqui,  estão a postos, aí no céu, à  sua espera pra te acarinharem, pra te cuidarem, pra te receberem de braços abertos e liquidarem de vez com todas as suas “dores”, cicatrizando, finalmente, todas as tristezas, todas as feridas de sua alma.
Que assim seja!
Beijos de alguém com saudades daquilo que poderia ter sido e que não pôde ser...não, nesta vida.
Rosana




São demais os perigos dessa vida, Lê Bebê!



Era uma sexta-feira, dia 28 de junho de 2013. Leandro saíra do seu trabalho, após uma reunião festiva com seus novos colegas, quase dez da noite, rumo a sua nova casa, próxima dali, ao encontro de seu companheiro, com quem dividia há quarenta dias o apê, em Sampa, em um lugar privilegiado. Vinte e seis anos, recém-formado, cheio de sonhos, ele acabara de ser contratado por uma agência de publicidade renomada, mudando-se de Jundiaí - onde morava com a família- para a capital. Ligou para Jamil, dizendo-lhe que já estava saindo, todo animado, todo feliz, como assim se encontrava desde o dia quando lá chegara.
(...)
Leandro está em nossa família há pouco mais de seis anos. Assim que nos foi apresentado, sabíamos que estávamos diante de alguém que veio até nós para que pudéssemos resgatar sentimentos represados, para que pudéssemos entender muitas coisas que suplantam a razão, para apaziguar alguns questionamentos de alma, para suavizar,  harmonizar,  arrefecer ânimos mais acalorados, para “diminuirmos ruídos e volumes de vozes”, para prestarmos ainda mais atenção às sutilezas de alma, para alegrar ainda mais nossos encontros familiares, para somar sentimentos de ternura, amizade, compreensão...
Ele é um rapaz de pele clara, sorriso luminoso, cabelos e olhos profundamente escuros - e silenciosamente expressivos-,estatura mediana, órfão de mãe aos oito anos. É músico, tem a alma musical e é apaixonado por Legião (tem o R.Russo como ídolo), - além  de ter um gosto musical inquestionável, tem uma voz grave, porém macia. 
Leandro carrega uma quietude na alma comovente,  sabe ouvir e falar na hora certa,  é nobre em suas ações e em suas atitudes. Tem personalidade marcante, aprecia a arte e entende muito da parafernália tecnológica. Leandro é calmo, centrado e, o mais importante, é uma pessoa sem afetação, apesar do brilho, do fogo pela vida, pelo conhecimento e da luz que dele emana - não por acaso  é do signo de Leão, tendo Sagitário como ascendente  ...uau!
Mas me reportando agora àquela noite de sexta, tumultuada, na capital...Naquela noite, a sombra da morte rondou Leandro, nosso Lê Bebê. Ao passar pela estação do Metrô, fora abordado por rapazes sombrios que levaram o seu telefone e, não bastasse,  cravaram uma afiada faca em seu peito, a poucos centímetros do seu coração. Leandro na calçada ficara desfalecido, esvaindo-se em sangue, rodeado de transeuntes curiosos. Mas o nosso Lê Bebê tem anjo da guarda parrudo, nosso Lê já nasceu guerreiro vencedor. Conseguira balbuciar o número do telefone de casa a um rapaz que assistira a tudo,  antes de desmaiar ali na rua. Jamil, meu irmão,  atendeu e, em minutos, estava ali com ele e, apesar do tumulto todo daquela noite fria em Sampa, a assistência veio rápida, a despeito da burocracia pública hospitalar que se  seguira até chegar ao primoroso hospital particular...Foram horas de agonia, horas de cirurgia, horas de semblantes carregados, choros, desabafos incontidos... a tormenta das horas à espera da operação, à espera do que aconteceria com ele. Horas entremeadas por palavras desconexas, orações,  sofrimento, angústia entre o meu irmão e eu, por telefone, a muuuitos quilômetros de distância, para depois, sermos recompensados com a notícia de que Leandro sairia sem sequelas- um verdadeiro milagre, segundo os médicos.
Milagre para um menino sempre  imbuído da fé, do menino que, quando questionado sobre o que lhe acontecera, quando indagado sobre todas as dores, sobre a cicatriz que carregará no peito pra sempre, apenas sorri lindamente, dizendo ter sido usado por Deus pra prestar atenção em algumas coisas e  que tudo passou, sem tristeza, sem trauma...contingências da vida.
Um menino que, em pouco tempo em seu novo trabalho, já é reconhecido pela equipe como o melhor de todos os tempos, portanto seu emprego está garantido – sua “chefe” e tantos outros o visitaram, colocando-se à disposição para o que ele precisar, já que ele deverá ficar afastado um tempinho de suas atividades.
Um menino que mobilizou encantadoramente não só familiares e amigos, como toda a equipe médica, enfermeiras e funcionários, com seu sorriso de luz, com a sua simplicidade, com a sua fé, com o seu otimismo!

E eu, aqui de longe, apenas agradeço a Deus o privilégio por tê-lo em nossa família, família que tanto o ama e que, com ele, tanto tem aprendido.
Esse é o nosso Leandro,  um menino-Leão que faz dos perigos da vida apenas desafios de quem já nasceu vencedor. 
.........
Ps. Lê, que você se recupere cada vez mais rápido! Te amamos muitão!


Beijosss, seu lindo! Saudadona...

“Pai, você faz parte desse caminho que hoje eu sigo em paz!


Olho a única foto que tenho sua hoje, aqui, comigo.
Sinto o seu perfume, a sua essência, a sua presença permanentemente comigo. Dizem que o tempo atenua tudo. Quase trinta anos sem você, mas parece que foi ontem que você se foi!
A mesa está posta para dois, antes para muuuitos... Inevitável não me remeter à antológica música de Nelson Gonçalves –Naquela mesa. Já não choro nem lastimo a sua ausência. Apenas sorrio ao me lembrar de suas sábias “tiradas” e agradeço a Deus por ter colocado você em minha vida, de ter tido o privilégio de ter convivido com você durante 25 anos, de ter aprendido tanto com você, de ter sido tão amada e acarinhada por você. E de ter podido expressar, em vida, todo o amor e admiração que lhe tenho.
Hoje, lembranças de infância vieram me visitar. Impossível contê-las, impossível pensar em você sem me remeter a nossa Cosmópolis, ao povo de lá, a tudo de lindo que lá vivemos.
Você fechava a loja mais cedo nas longas tardes de verão pra nos ensinar a nadar na represa, para irmos ao sítio do “tio” Emílio Tetzner na perua do tio Jorge, pra fazermos longas caminhadas
pela Usina (tomando garapa), pela avenida Ester, parando pra conversar com o meu vô Nato, alfaiate, com o Sr.Vicente e o Sr.Armando-ambos sapateiros-, com o Dr. Kalil, médico da família, com o Hermínio Campos, responsável ´pela telefonia, com o Augusto da farmácia, com o João açougueiro, com o “mascate turco” Zé Louco, com a D.Mercedes, com a Neusair Vieira, com a D.Tutu, amigas queridas...Lembro-me de você nos levando ao bar do Banjo pra comer doce de batata- doce em forma de coração, ao “saloom” da refinada mineira D. Auxiliadora pra degustar as famosas balas de café, aos armazéns do Sr. LourençoTrevenzolli e do Sr. Emílio Balloni, à lojinha da D. Malvina, ao restaurante do Arnaldo, ao CFC para nossas braçadas na piscina, logo depois de termos aprendido a nadar-agora sem a boia feita da câmara de pneu...vc fazendo litros de suco de laranja, churrascos, flexões abdominais, tendo papos intermináveis com a gente em casa, com toda a família reunida nas lindas tardes de domingo em Cosmos.
E me recordo também da sua paciência conosco quando montamos juntamente com o Michel Jr e o Jamil, um imenso quebra-cabeças de cinco mil peças com a imagem de um lindo castelo medieval-ainda o guardo comigo, agora em um quadro com linda moldura!
Muitas outras músicas, cenas, paisagens me remetem a você, especialmente hoje, quando olho pra esta mesa -agora, sem a sua presença física-, sentindo todo o calor da sua luz que aquece a minha alma, o meu coração e ilumina os meus pensamentos.
“Meu querido, meu velho, meu amigo, meu herói, meu bandido”, você me fez forte, sensível, decidida...Então, hoje agradeço imensamente a você todo o amor e a dedicação que nos dispensou. E sigo em frente, abastecida de lindas e tão boas lembranças . . . totalmente em paz.

Feliz Dia dos Pais, meu turcão liiiiindooooo! Beijos e beijos
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Revisitando Cosmópolis


A avenida Ester  fervilhava de gente, de carros, de calor. Não havia espaço algum para estacionar. De um carro, vinha Robertão, no último volume, com a nostálgica O portão - seria uma mera coincidência?- a anunciar a minha chegada. Uau!
Quase uma hora da tarde, quinto dia útil de uma sexta-feira de quase primavera. Rodo, rodo e não encontro vaga para o “possante”. Me deixo conduzir pela melodia, pelas minhas divagações. Tudo tão diferente, tudo tão meu, minha vida se passou feito um filme naquela avenida. Belos tempos, belos dias.
Onde estavam os pontos de outrora, onde estavam os rostos tão familiares? Sigo até o clube. Que transformação! Minha memória me remete ao Sr. Nelson Aranha à entrada da piscina a me saudar alegremente e já avisando: “nada de bronzeador, menina, pode passar pela ducha” rsrsrsrs
Passo pelo Paredão, não há conhecidos nem desconhecidos...ninguém, sob o sol escaldante!
Retorno à avenida. Estaciono a cinco quadras dela. Desço do carro já tomada por uma emoção incontida de menina, rememorando histórias, casos, fatos... meu coração espremidinho, aceleraaaado.
Avisto o escritório. Meu tio Jose Honorato me recebe com o mesmo olhar, com o mesmo afeto, com o mesmo abraço, com as palavras boas, em meio ao seu “exército” de funcionários, a quem ele calmamente se dirige, com seu carisma habitual, naquela tarde atribulada. Meu amado tio, sempre tão disponível pra mim, pra taaanta gente, sempre tão requisitado, tão especial pra mim!
Inevitável não nos remetermos ao bom passado, às boas coisas que vivemos...
Dirijo-me a minha madrinha, tia Terezinha. À porta, não mais meus avós a me receberem de braços abertos, entre afagos, brincadeiras, beijos, não mais o cachorrinho “pique”. Mas lá estava ela, tão frágil, tão forte, sorriso e braços abertos, mesa farta de café da tarde, hábito que ela mantém há décadas, com cara e mimos de vó! La estava a minha tia a me esperar, naquele entra e sai de pessoas queridas que constantemente a visitam. Lá estava a minha pequena Janys, amiga-irmã que há muito não via. E tudo parou. E, juntas, viajamos no túnel do tempo, rimos muito, confidenciamos tanto, revivemos histórias, nos fartamos com as guloseimas..e tudo ficou com cheiro de infância. E nos tornamos meninas soltas, livres, arteiras, confidentes, comemorando a vida, libertas de rótulos, impregnadas de conteúdos.
Já estava anoitecendo. Faltou visitar muita gente. Passei,então, pela casa da minha mãe. Lá estava ela, sempre disposta, com vários mimos pra mim(!?), não sem - claro- deixar de dar os toques dela de sempre...interpretei-os desta vez como saudade, acho que é a maneira dela de dizer que sentiu a minha falta. Ou seria porque saí da minha tia Tê muito zen, ou porque a Janys me dá sorte...o que importa?
Estar em Cosmópolis, rever meus lindos primos, meus tios, minha família, amigos queridos, sentir a cidade bater forte dentro de mim como antes é algo indescritível, é reforçar aquilo que eu sempre soube: a felicidade me elegeu como sua morada predileta (e permanente!). Uhuuuuu! — com Janete Carlos Eduardo Aun Paschoal em Cosmópolis.


www.alegriadeviver.com


Ingressei na profusão de flores  daquela casa. Primavera...alegria no ar-cenário perfeito. Variadas orquídeas assumiam o papel principal, em cores vibrantes e  de todos os tipos. A casa banhada pela claridade daquela tarde  memorável revelava a “cara” da dona da deliciosa morada; aquela que, ali, naquele momento, trazia-me de volta as tardes lindas que tive com ela (a dona da casa) : a Tia Mercedes Frungillo, irmã de minha avó Dinorah.
Lá estava ela lendo cartas para uma consulente atenta, com o olhar espremidinho a me olhar, a me reconhecer, a me receber calorosamente, lúcida nos seus noventa e dois anos de vida. A mesma tia, amiga, cúmplice, feliz com a minha chegada, mais que lúcida- linda de viver, com a sua alegria contagiante.
Ao término da leitura, dispomos a conversar . E a recordar. Ela sabe o nome de muuuita gente, de muitas histórias, tem uma agilidade mental fora do comum, não reclama de doenças, não fala de coisas tristes, dialoga sobre qualquer assunto. Tem um senso de humor e uma presença de espírito louváveis. Brincou estar na cadeira de rodas (ela levou um tombo) porque os ossos não aguentam mais tanta “estripulia”.
Com ela partilhei adoráveis momentos na infância, na adolescência, na juventude. Ela é quem fazia lindas ( e um tanto ousadas– eu amaaaava!) blusas  de crochê pra mim, pras minhas primas Tere e Soraya.Com ela aprendi muitas coisas. Ela sempre foi exemplo pra todos nós. Fez de seus pontos fracos os seus pontos poderosamente fortes, revertendo dificuldades e limitações em superação sempre.  Mantém uma meninice, uma beleza, um ar de sapeca que a tornam ainda mais especial. E carrega certas sutilezas de alma e uma ternura comoventes!
Em todas as leituras de cartas a mim dispensadas, ela sempre me disse que o meu grande amor viria do mar. E veio. Ela estranhou eu não querer que ela abrisse o baralho pra  mim. Eu apenas lhe disse  que eu não precisava  saber nada. Não dessa vez. Não naquele momento. Naquele momento eu só precisava da presença luminosa dela- agora a protagonista-  e daquela casa tão sedutoramente colorida  pra me inspirar cada vez mais, pra me deter naquilo que realmente faz sentido:  a imensa alegria de viver pela simples vontade de viver, de seguir em frente com leveza, sem olhar para trás.
E após abraçá-la muito, registrar nossos momentos com algumas fotos, matar a saudade, volto pros braços de Netuno. E com a alegria e o sorriso escancarado  de minha querida Tia  Mercedes cravados na minha alma, no meu coração!

AOS MEUS MESTRES

Devo muito do que sou a grandes e sábios mestres(adoráveis!) que passaram pela minha vida, despertando em mim a alegria de aprender, a magia de ensinar, de sonhar e de conquistar. Esses me marcaram demais e muito me influenciaram em minhas escolhas..José Honorato Fozzati,Vilma Zenaide Nollandi Costa, Lidia Onelia Kalil Aun Crepaldi, Maria Lúcia Pozzi, Dante Pozzi, Silvia B.Sampaio, Irineu Avellar, Doracy Rodrigues,Ingrid Schwarz, Helena Curiacus Nallin, Roseli Bongiorno, Dilce Biazotto de Oliveira, Isabel de Oliveira, Maria Alice Lapa.
E, especialmente, como não citar a responsável maior pela "apuração dos meus ouvidos", com a introdução do piano em minha vida: Maria Ignês Scorsoni, Mestra enviada por Anjos, que me fez mergulhar no universo da música clássica com maestria, que me incentivou, que tanto esteve presente em minha vida com tanto afeto, dedicação, com tantos mimos...sensível,maravilhosa sempre! Com ela estive dos meus seis aos meus dezoito anos de vida e quantos momentos lindos juntas tivemos frente ao piano!
Esses professores fizeram a diferença dentro e fora da sala de aula. Pessoas que fizeram do dom de ensinar uma arte: a arte de revolucionar mentes, de transformar pessoas; profissionais que viraram amigos para sempre, inesquecíveis! Foi uma época em que estudar em escola pública em nada lembra os dias de hoje.. Era realmente uma linda época! Outros tempos...bons tempos!
Neste dia 15 de outubro, desejo aos meus amigos professores -que incansavelmente dão o melhor deles sempre -que continuem a se inspirar nos Grandes Mestres com quem -como eu- tiveram o privilégio de aprender tanto!
Hoje reverencio Otávio Carlos Firmino Filho, nosso amadíssimo Ted, o professor que sempre soube o que fazer, como fazer, onde fazer, para que fazer e oferecer o melhor dele a todos os seus alunos, indistinta, incansável e maravilhosamente bem! Profissional competente, exemplar, que fez a diferença para muuuuitos paulinenses, inspirando crianças, adolescentes, jovens e adultos a seguirem o seu exemplo de humildade, respeito e paixão pelo que faz! A vc, Ted, que não fez da sua profissão apenas opção, a vc que sempre incentivou seus alunos a não desistirem de seus objetivos, que sempre foi amigo presente na vida de tanta gente, que transformou a vida de muitos jovens, deixo aqui meu abraço, meu carinho, e minha profunda admiração por tudo o que fez e continua fazendo!
E a tantos outros que - muuuito bem sei -, exercem(ou um dia, exerceram) com maestria, dedicação ímpar e verdadeira paixão a profissão, o ofício de ensinar (incansavelmente!) deixo meu abraço carinhoso e cheinho de saudades. E que vcs continuem encantando a todos com essa magia, essa sedução, essa paixão pelo ensinar...e aprender sempre!
  
Sob a luz de Jorge...Salve, Jorge Baracat!




Ele era um homem grandioso em todos os sentidos: na compleição física, no jeito de ser, no jeito de amar, na nobreza (quantas sutilezas!) de alma, na forma de nos presentear, de receber as pessoas, de acolhê-las; no jeito de contar as histórias de sua gente, de nos emocionar com os seus gestos e atitudes; de nos surpreender com a sua generosidade (e religiosidade), nos abraços, nas risadas...
Esse descendente de libaneses, nascido em Minas, apaixonado por Cosmópolis -onde se estabeleceu com sucesso -a quem hoje me refiro é Jorge Baracat. Marido da Chafia, pai da Zarif, da Meiri, da Yara, do Jinho, avô da Flávia. Meu mais que amado Tio Jorge, figura ilustre inesquecível pra todos que tiveram o privilégio de tê-lo por perto, de tê-lo como amigo...Um apaixonado pela família, um devoto fervoroso de Nossa Senhora, um libriano – assim como meu pai- fascinante, um homem adorável, querido por muitos.
São tantas as lembranças, tão lindos e memoráveis momentos, tantas histórias partllhadas, tantas viagens e festanças...muitas lindas recordações temos desse homem que se foi tão cedo, seguido logo atrás por seu companheiro leal, “fiel escudeiro” e cunhado ( meu pai), que ficara abaladíssimo com a sua brusca partida.
Todos os domingos lá estava ele, depois da missa, na nossa casa; duas noites por semana, lá estávamos nós em sua casa. Em volta sempre de uma mesa farta, rindo à exaustão, todos juntos.
O amor e a dedicação que ele tinha para com todos nós era descomunal. Épocas festivas, lá vinha ele com presentaços pra todo mundo. Quando chateados ou entristecidos com algo, lá vinha ele com aquele olhar, aquela voz rouca, aquela fala mansa pronto pra nos ouvir, pra nos orientar com seus sábios conselhos, com seus fervorosos abraços a nos envolver...
E lá vinham as apostas, lá vinham as “barganhas” : quem comesse mais, levava “uns bons trocos” rsrsrsrsrs...se eu me casasse com “aquele bom rapaz”, ganharia um piano; quem tirasse as melhores notas, ganharia ”tanto”; quem se comportasse bem viajaria com ele com direito a muitas mordomias; se eu ouvisse a minha mãe, ele deixaria ouvir o som no Galaxy dele e por aí vai...irresistíveis barganhas – e gulodices à parte que , ironicamente, no futuro, nos fariam constantemente brigar com a balança- que nos tornariam o que hoje somos, adultos resolvidos ...pudera! Com tanto amor e apoio incondicionais , não podería ser diferente...ah, e como ele se entristeceu quando o meu namoro com “aquele bom rapaz” havia chegado ao fim! Só eu sei quanta conversa séria ele teve comigo por conta disso! tcstcstcs
Lembrar da Kombi abarrotada de primos – e de comida, claro!-ao som de Genesis( sim, ele amava o rock progressivo) e do Robertão (que ele oferecia pra tia Chafia com aquele olharzinho apaixonado - e apaixonante- sempre) durante as nossas viagens; lembrar da geladeira farta , sempre com um carneiro temperado, da casa dele cheia de jovens (ele amaaavaaa), dos churrascos, das broncas dele quando me pegava com Hipofagyn (moderador de apetite), dos gigantescos Ovos de Páscoa, dos generosíssimos Bons Princípios, dos lindos presentes que nos dava em aniversários e Natais; lembrar dele nos pedindo “Bênção, Tio”, tirando dinheiro do bolso sempre cheio pra comprarmos doces ou o que quiséssemos; lembrar do perfume dele, do olharzinho dele de menino travesso é como fazer o tempo parar e, através dele, viajar, deliciando-me com as cores, os cheiros, os sabores...é embarcar em sensações indescritíveis com todos os sentidos agora aflorados por essas lindas lembranças.
Em certa ocasião, por conta de uma gincana de jovens da cidade- da qual seus filhos e amigos participavam-, ele comprou uma tonelada de caixas de papelão, vindas em um caminhão de Americana, favorecendo, assim, com essa “tarefa”, a Equipe Gang da Fumaça na prova final...a Gang venceu a Equipe Gramophone, a Gang da Fumaça foi a campeã! E a carinha do meu tio, a alegria dele com a festa que se estendeu da Avenida Ester à Rua Campinas, totalmente demais! Esse era o meu Tio Jorge...
Sinto demais a falta dele e, quando chego à casa da minha tia Chafia, não tem como não me reportar à antiga área-hoje ela não existe mais-, onde ele se estabelecia em seu “Trono” - uma cadeirona de madeira maciça - por horas, durante a noite, às vezes varando a madrugada.
Impossível não me lembrar dos gestos dele, traduzidos pelos dedos ao indicar para os filhos a quantidade de café ou de água que solicitava com jeito de menino mimado; ou com as mãos a pedir massagem...um verdadeiro Sultão!
(...)
Pessoas como ele, com esse brilho, meus amigos, exercem fascínio eterno, estejam onde estiverem.
Pessoas como o senhor, meu amado Tio Jorge, são inesquecíveis pra todos nós que , ficamos a recordar e a recordar incansavelmente a sua breve – mas retumbante-passagem por nós; uma pessoa que não só nos deu muito amor, mas nos ensinou com suas atitudes a grandiosidade dos sentimentos, do respeito ao próximo, da compaixão, dentre tantas outras coisas.
Dia primeiro de outubro foi o seu aniversário...mês em que se comemora o dia das crianças, o de Nossa Senhora e não tem como não me lembrar do senhor!
Hoje é o aniversário do meu pai. Acordei pensando em vcs dois. Caminhei ouvindo música, me conectei com as boas vibrações, deixei a inspiração me tomar e aqui estou a desejar-lhes Feliz Aniversário com todo o meu carinho, - e em nome de todos que estão cheinhos de saudades - e agradecer, hoje ao senhor, tio( porque meu pai tá cansado de saber o que sinto por ele), por tudo o que fez por nós. Agradeço com uma frase que definiria bem o que aprendi com o senhor: “Não importa o que juntamos, o que acumulamos neste plano; importa é o que espalhamos, o que distribuímos!”
Então, hoje apenas desejo que a sua luz continue se irradiando aí no Paraíso e, quando , ao encontrar com os Anjos do Senhor para entabular uma boa conversinha “mineira” , o senhor possa ser saudado alegre e veementemente por todos eles: Olhem só, é a luz de Jorge se aproximando!!! Salve, Jorge!!!!
Uhuuuuuuuu, Tio Jorge liindoooo!!!!!
Abraços imensos e beijos estalantes,
De todos nós, que te amaremos por toda a Eternidade...
   
“Dentro de cada pessoa tem um cantinho escondido, decorado de saudade” (M.Monte)


Era uma vez D’Artagnan e os Três mosqueteiros: Athos, Porthos e Aramis.
Segue, aqui, bem de leve, apenas uma referência ao clássico de Alexandre Dumas. O que me motiva a isso se deva, talvez, à amizade incomum - rara nos dias de hoje-, desses quatro rapazes cosmopolenses que tinham muitos sonhos em comum, muitas afinidades.
D’Artagnan, o mais ambicioso e talvez o mais arrojado, Agenor Tonussi, descendente de italianos, começou como engraxate e acabou parando em Moscou, onde estudou. Viajou o mundo; hoje mora na CalifórnIa, fala vários idiomas, é empresário bem-sucedido. Escreveu um livro “Fui estudante em Moscou”, onde fala o que viveu por lá e, no final, faz uma deferência a sua cidade natal. Alimentei por ele um amor platônico quando ainda menina até o princípio da fase,digamos, “adulta”. Eu ficava extasiada quando vinha a nossa casa com sua mercedes prata, alinhadíssimo, cheio de presentes, com muita boa conversa madrugada afora, grande amigo do meu pai. Escreveu uma linda carta um mês antes de meu pai morrer -ele não soubera da gravidade da doença dele nem da iminência de sua morte – elogiando a família e a trajetória do meu pai . Essa carta ficou no bolso do paletó do meu pai. Nunca mais a achamos, supomos que ele a tenha levado pro túmulo com ele...
Athos ,meu pai, Michel, descendente de libaneses, tinha grande admiração por D’Artagnan e,desde a mais tenra idade , tornaram-se amigos e muito idealizavam sobre negócios, sonhavam alto, eram inseparáveis. E também dividiam as “dores”de amor!
Porthos , meu tio Jorge Baracat, também descendente de libaneses era generoso, solidário, extremamente afetuoso; tinha em comum com os dois amigos citados acima o amor e dedicação à família, a vontade também de prosperar no ramo dos negócios.
Aramis, o mais jovem, Rubens Jemael, o único canceriano no meio dos três librianos, irmão do meu pai, dedicou-se em ser músico e tinha a alma avessa ao “material” , aos papos sobre negócios etc e tal; tinha uma sensibilidade contrária a esse tipo de conversa, mas tinha em comum além do espírito sonhador e do bom humor, a arte de saber viver bem.
Athos e Porthos - Jorge e Michel- se foram. D’Artagnan -" meu querido "TioGenor" - andou muito doente, hoje está melhor. Aramis - Rubens - continua o mesmo. Apesar da paixão pela música, tem um pé na cozinha – é um mestre dos sabores e da culinária árabe (de mão cheia) nas horas vagas...

Tempos bons, lindas recordações!

Talvez esse texto pudesse render uma letra de música...rsrsrs. Mas fecho com Marisa Monte. Então lá vai: “Eu posso até mudar/Mas onde quer que eu vá/O meu cantinho há de ir/ Dentro...” (Cantinho Escondido 

Para o meu “Turquinho” amado Michel Bechara Gimael Neto

Vc conseguiu! Não foi fácil, eu sei. Sim, abdiquei do paraíso, dos braços de Netuno, pra exercer o meu lado mãe mais incisivo, fui obrigada a ser “linha dura” com vc.
Eu sei que vc não entendia porque eu sempre achara as suas outras duas faculdades irrelevantes. Briguei muito com vc por priorizar o seu “hobby”, se bem que, ao mesmo tempo, lhe dei asas pra fazer o processo inverso ao da maioria quanto à escolha de sua carreira. Por outro lado, havia em mim uma certa culpa por ter feito mais pelos filhos dos outros do que pra vc e também por me dedicar tanto ao meu trabalho, à minha profissão. Então, deixei vc livre, leve, solto. Éramos muito mais amigos do que mãe e filho.
Só que eu sentia em vc um potencial extraordinário, um talento e competência mal explorados, mal direcionados e percebia também que vc estava deixando de lado a sua vocação. Vc estava solto demais, meio perdido nos sonhos, nos projetos, desperdiçando seu tempo(e talento!) em coisas das quais mais tarde talvez vc pudesse se arrepender.
Aí, eu tive que entrar com o meu lado chato de mãe: cobrar, cobrar e cobrar uma postura coerente com a criação que lhe dei, com os valores nos quais sempre acreditei – e bem sei que vc também!!!! – na prática e pra valer!!!
Exerci apenas o meu papel que era o de fazer vc enxergar o seu potencial, o seu dom, a sua vocação.
Dei um tempinho pros meus projetos e viagens e investi pesado em vc, com atenção e pulso firme. E descobri aquilo que cansei de ouvir dos mais velhos: filhos precisam de atenção permanente, eles precisam que mães e pais estejam por perto, atentos, assessorando-os, incentivando-os, com olhar perspicaz, sem descuidar. Eu realmente não havia percebido que vc com o seu jeito “descolado” e independente, no fundo era um garotão que precisava de mim ainda por perto.
A partir do momento em que acordei para esse fato, aí tudo deu certo! Vc conseguiu. Vc merece essa conquista e muito mais! E eu estou em paz, com a sensação de missão cumprida e muito mais antenada com vc, com nossa parceria, com nosso afeto.
E foram seis meses... muitos dias e noites de estudo dirigido, focado, uma rotina espartana, e vc hiper disciplinado!
Agradeço a Deus por ter me dado esse privilégio de entender vc mais do que nunca, de ter podido assessorá-lo com afinco nessa “luta” que é passar em uma das universidades mais disputadas do país!
Parabéns, meu lindo filho! Agora é continuar estudando muito, com muita dedicação e disciplina. Estarei sempre do seu lado para o que der e vier!!!!
Um brinde a vc e a sua determinação!
Se jooogaaaaaaa!!!!!!!!!
Bjos da mãe.

 O Casarão e Eu


Foto enviada pelo meu primo Paulo Fungillo. Tio Alcides, ao centro, de branco...lindo como sempre!
Naquela esquina havia um casarão imponente. Exercia ele grande fascínio em mim, remetendo-me às histórias de D. Bertha e D. Guilhermina, amigas da minha avó Dinorah que me faziam “ viajar” com o que contavam sobre ele: que fora ele uma pensão no início do século passado, uma época em que ali havia saraus, bailes e hóspedes que vinham de todas as partes de trem. Enquanto discorriam passagens sobre damas e cavalheiros, eu ouvia o apito do trem na Estação, as valsas, os xotes, imaginando encontros e desencontros, encantos e desencantos...
Ali estava ele, imponente, um tanto sinistro, abandonado, vazio, em um certo dia em que uma certa audácia me tomara de súbito e falara mais alto... tinha eu uns seis ou sete anos. Desenrosquei-me das mãos do meu pai que conversava com um amigo, o sr. Maximino Magossi, e me adentrei naquela vastidão desconhecida ...
Enorme sobrado, imensa escadaria, terraço suspenso, altas paredes – depois vim a saber que se chamam “pé- direito” alto- pintadas com motivos florais que lembravam azulejos portugueses, ostensivos janelões, amplos cômodos...intactos! Consegui, naquele momento, sentir o frescor de uma áurea época... homens alinhados, mulheres elegantes, pares dançantes, grandes amores, grandes paixões, encontros e despedidas entre imigrantes alemães e italianos, em meio a calorosas reuniões festivas.
Subi e desci aquela escadaria entremeada de colunas e apoios adornados que denotavam o estilo de uma época. Percorri todos os amplos cômodos . Havia um portão imenso que separava a escada de cimento do quintal que a mim parecia um jardim, talvez o do Éden. Foi a primeira vez que avistei um poço, macieiras, pereiras, parreiras, pés de louro, de ervilha, romãs, pinheiros, hortênsias, camélias, lírios, palmas, roseiras, uma mistura de cheiros e cores...depois, anos depois, enxergava toda essa exuberância da natureza na casa de meus avós maternos, descendentes de italianos e vim a saber através de minha avó que a mãe dela teria sido uma das donas daquela pensão...vagas lembranças, não sei ao certo.
Pois bem, aquele jardim era imenso e cheio de pássaros coloridos... havia uma certa vida pulsante ali! Aquela casa parecia habitada, apesar dos musgos em meio a algumas trincas e imensas teias de aranha!...Subi a um dos pavimentos, avistei três corujas parrudinhas com os olhos estaladões cravados em mim. Senti um certo calafrio e dali parti em disparada pra só voltar em um certo dia frio, porém ensolarado.
E foi nesse tal dia em que disparei a chorar de frente pra ele. Foi o dia em que eu o vi sendo “demolido”(implodido!?). Um comerciante “turco” iria construir a sua casa sobre aquele espaço, casa esta que levaria seis anos para ficar pronta e onde viveria eu, filha do “turco”, dos meus quinze até os meus vinte e seis anos – por sinal, anos muito bem vividos...
Alegrias viveria eu nessa nova casa -aliás ela foi “ oficialmente inaugurada” no dia da minha festa de quinze anos ...muitas alegrias, encontros e desencontros, deliciosas reuniões entre amigos e familiares, conversas pela madrugada afora, angústias, descobertas e redescobertas.
(...)
Sinto o “cheiro” daquele dia em que o casarão desaparecera em meio a densa poeira ...o casarão povoado de histórias, histórias essas que me acompanham até hoje, exatamente agora quando ouço uma cantiga que me remete a ele...da trilha de um filme “filosófico”, Lost Horizon – Horizonte Perdido -, que também me marcou lindamente.
O velho casarão se foi para dar lugar à nova casa onde outras lindas lembranças agora viajam céleres dentro de mim.
A noite fria e cheiiiinha de estrelas anuncia o começo de uma nova estação e, não obstante essa nostalgia que toma conta de mim , apenas reforça que tudo se renova...e que tudo é efêmero!
Olho para o jardim tomado de folhas secas e me vem a frase: “Perca suas folhas, mas não perca suas raízes”!
E que venha mais um Outono... e que venha mais um recomeço!


 Mãos de Ouro...Inesquecíveis tesouros (tesouras)!

Minha querida, adorável e inesquecível Mafalda, a Mafa, costureira brilhante, amiga-confidente, maravilhosa
O cheiro de café preto e do bolo de fubá sobre a mesa posta com toalha xadrez verde invadem toda a casa . Das vidraças da janela embaçadas pelo calor do fogão dá pra ver uma bananeira a se entregar ao vento.
Enquanto tento, sem sucesso, fazer a bainha de uma calça, o tempo chuvoso me arrasta às grandes mulheres, mestras em transformar sonhos de menina-moça em realidade, mestras em nos transformar em princesas nos grandes bailes, nos carnavais, nas festas à fantasia, nas formaturas, nas festas em família e com amigos, nos bailinhos de garagem na casa do tio Jorge, nos nossos passeios(e encontros!) à Praça do Coreto, à Praça da Matriz; algumas delas se esmeravam nos enxovais da família toda, nos lindos bordados de cama, mesa e banho, nos pijamas, nas camisas masculinas, nas capas de chuva...
E lá vem elas: Mafalda Stucki...Nair Dias, Maria Fernandes, Amélia Carone, Geny Minorello, Evanilde Conforto, Nancy Tonussi, Tia Terezinha, Marilia Moraes ...brilhantes, incansáveis, artesãs da costura, mãos de fada, mãos de ouro, transformadoras...vitais, indispensáveis! E reconhecidamente valorizadas, muito valorizadas e amadas por todos nós.
Cada uma delas teve uma participação marcante e inesquecível em minha vida, fizeram parte da minha história assim como na de muuuitos cosmopolenses.
Cada uma delas trazia-nos novas ideias, elas nos deixavam à vontade em meio a montanhas de revistas de moda, nos apresentando novos conceitos do bem-vestir, eram nossas amigas e confidentes, vibravam com nossa alegria e satisfação, se desdobravam pra camuflarem nossos supostos defeitinhos, pra nos valorizar, pra nos deixar felizes, saltitantes, esvoaçantes...verdadeiras divas!
Teve uma, em especial, de quem tenho liiindaaas recordações. É a Mafalda Stucki.
A alegria dela, a sensibilidade dela, a dedicação e atenção comigo era algo comovente, me tocava profundamente. Eu me encantava ao vê-la conversar com as plantas e animais...e me extasiava com as conversas, com as sonoras risadas dela, com aquele olharzinho de menina...e nas noites (altas noites) em que precediam os “eventos tão esperados” lá estava eu e ela em meio às finalizações das “provas” de roupas, com o fumegante cafezinho e o delicioso bolo de fubá dela a coroar com sucesso o resultado ma-ra-vi-lho-so, o que me fazia vibrar diante do espelho, ao som das risadas dela acompanhadas dos seus pulinhos de satisfação.
Ainda guardo comigo uma peça confeccionada de cada uma delas...eu sei, pode parecer estranho, mas são tão perfeitas e trazem cada qual uma linda história! Algumas estão em fotos por aí...
Tempos depois, já não mais em Cosmos, tive a honra de ter Rosemari Gallani Avansini (uma fada!) como substituta temporária , filha também de uma exímia artesã da costura, dona Iva.
Ainda têm os alfaiates que mereceriam uma crônica à parte...Vô Honorato Fozatti e seus ajudantes , Seu Zuza e filhos, Tio Tarcílio, Tio Carlos.
E já que cito os “mestres” das tesouras, também falarei sobre os barbeiros (naquela época ainda não era gíria, não!) e as inesquecíveis cabeleireiras em outra ocasião...quantas histórias pra contar de um tempo lá atrás!
Será o outono a trazer à tona tantas lembranças?


Recordar é viver...e viver é muito bom demais!

Meu avô Honorato, meu querido amigo vô Nato, um dia me dissera - ao ser por mim indagado sobre sua prodigiosa memória - que, à medida que envelhecemos vamos nos lembrando de coisas e “cheiros” remotos, de situações trazidas pela mente lá de trás, coisas de que anteriormente não recordávamos e que vêm em flashes, assim do nada, sem esperarmos!
Lembrei-me do que ele mencionara há décadas , hoje, ao amanhecer, ao acordar e sentir um cheiro de quase início de outono após um período de calor dantesco.
Senti o cheiro de terra molhada. Logo a seguir, veio até mim a avenida Ester. Nesse cenário, os tais “flashes” abrigaram minha mente. E como um véu a se descortinar, vi a família Fáveri animadíssima na avenida com imensos bois estilizados numa alegria e colorido indescritíveis, entremeados de serpentinas, confetes, cantoria de marchinhas de carnaval, gente bonita, gente animada; em minha imaginação de menina de olhos estupefatos, cravados naqueles “bois” imensos, eu enxergava pés e pés sob eles, numa coreografia estonteante diante da criançada gritando “é a banda do boi chegando”. Eu fitava aquilo tudo num misto de espanto, curiosidade, admiração, alegria incontida, paralisada atrás da porta de vidro semiaberta de casa.
Depois veio uma neblininha tipo “fog londrino”...era a semana santa e, com ela, havia o ritual da via-sacra... A avenida estava escura, porém em cada casa havia do lado de fora, uma iluminação tênue. As portas das casas – ao todo 14, que representavam as estações (ou quadros!) da Paixão de Cristo - da avenida eram tomadas por uma espécie de altar, cortinas esvoaçantes, claras e, de uma delas, na esquina, grudada à Coletoria, iluminada por uma lâmpada esverdeada, havia uma mulher a cantar com “voz de ópera”. Era a personagem Verônica que a saudosa e inesquecível D.Pegy, esposa do sr. Zé Garcia, cabeleireira prestigiada na cidade- e a qual tive o prazer depois, já moça, de entregar minhas encaracoladíssimas madeixas aos seus cuidados - protagonizava lindamente. Me lembro- agarrada à calça cáqui de brim do meu pai - da minha emoção, do meu corpo grudado às pernas dele, do meu coração batendo descompassado querendo pular pra fora, dos meus olhos cheios d’água, da avenida fervilhando de gente em silêncio, de pessoas prostradas diante daquela mulher frágil de cabelos negros, figura diáfana... Lembro-me do monsenhor, dos sacristãos com roupas cor de vinho , da procissão, das rezas. Ao meu lado, me lembro de senhoras vestidas de preto com mantilhas sobre as suas cabeças também da mesma cor, a chorarem em silêncio, a proferirem orações baixinho. Elas pareciam gigantescamente maiores que eu e muitas delas carregavam velas que, vez ou outra me faziam imaginar - ao olhar fixamente para elas enquanto queimavam -, a imagem de Jesus na cruz!
Quanta imaginação mora em uma criança...eu não deveria ter mais do que cinco anos!
E agora se “instala” em mim o cheiro de contrafilé na chapa me remetendo ao meu pai, ao Hemes Kiehl, ao Banjo (Bar) que calorosamente me acenam, dizendo “vem experimentar essa carne que tá uma delícia”! rsrsrsrs
Viajo através do tempo, dos cheiros, das cores, dos sabores e desperto pra minha realidade de mulher “madura” (rs) ..Saio lááááá de trás, de lindas recordações e me transporto para o HOJE - não menos lindo - feliz, muito feliz em reencontrar alguém muuuuito querido que veio me ver, depois de uns 17 anos e trouxe, dentre outros mimos, uma peça imensa de contrafilé para o meu filho fazer um churrasco com amigos!
Sim, recordar é viver. E viver é muuuuito bom! Bom demais! Uhuuu...
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“Dura a vida alguns instantes
   Porém mais do que bastantes
   Quando cada instante é sempre” (Chico Buarque)

NOTÍCIA DE FALECIMENTO EM COSMÓPOLIS

“Faleceu hoje com tantos anos de idade o fulano ou fulana...” este era o prenúncio da “fatalidade” via alto-falante da Igreja, acompanhado de uma musiquinha triste, fúnebre, para anunciar quando alguém da minha inesquecível cidade partia para o “andar de cima”. E nesse anunciar, vinha a descrição da idade da pessoa falecida , onde morreu, quem deixou, a que horas seria o enterro, onde seria o velório.
A voz de mulher- a locutora- dissipava-se em meio ao vento ou leve brisa, com chuva ou sol e, de repente, todos paravam de fazer o que estavam fazendo para ouvir com atenção quem seria o mais novo viajante a nos deixar.
Não sei hoje se essa voz ainda ecoa por lá, distante que estou de tudo, de todos.
Sei que a “indesejada das gentes “- Manuel Bandeira já disse um dia- chega pra todos, é inevitável.
Sei que nem sempre sabemos suportar, aceitar a partida daqueles que nos são caros, com quem pudemos passar uma “temporada” breve ou não, daqueles com quem tanto aprendemos, daqueles que nos deixam saudades, rastros e laços de luz, carinho, afeto.
É difícil, muito difícil... há época cinzenta em que todos os dias há uma pessoa querida que se vai, a sensação de um por dia a nos deixar sem tempo pra despedidas...e fica um vazio, uma lacuna impreenchível.
Pessoas que fizeram parte de minha vida, que coloriram momentos, que deram sentido em passagens da minha história, que se fizeram presentes na minha querida Cosmos... na infância, na juventude, em família, no clube, nas andanças pela cidade, na praça...no meu coração e no de muitos cosmopolenses.
E foram eles...
Tenem, Helio Suzara, desprovido da visão, porém dotado de uma sensibilidade e de uma delicadeza de sentimentos ímpares...eu adorava ouvir as conversas dele com o meu pai, com o Radium.
Ricardo Alves, apaixonado pelo esporte, desenvolveu com maestria projetos tanto em Cosmópolis como em Paulínia, enquanto professor apaixonado pela profissão...sempre com um sorrisão aberto.
Marilene Bottcher, uma explosão de alegria constante a nos contagiar...carismática, excelente pessoa e profissional. Perto dela, a tristeza nuuunca dava o ar da graça!
Valber de Faveri, meu querido amigo, doce romântico, alegre, cavalheiro, luminoso...quantas coisas dividimos, quantas coisas nos confidenciamos, quantos bailes frequentamos, quanto falamos de amor!
(...)
Nuuunca estaremos preparados pra partidas súbitas...nunca estamos preparados pra morte.
O que nos consola é saber o quanto privilegiados somos em termos tido pessoas como essas por perto!
Lindas pessoas que partiram deixando um enorme rastro de luz.
Aqui ficamos nós...apenas a suspirarmos de saudades!

 Um nobre nascido *Honorato


Vô Nato em niver de minha mãe, D.Cida
Tesouras, tecidos ( as "fazendas"), fitas métricas, giz colorido apropriado para marcação de roupas, alfinetes, linhas, agulhas, dedais, manequins de madeira e os ajudantes Eurides e Adilson, sempre por perto em torno de uma imensa mesa: esse era o cenário do local de trabalho do meu avô Nato.
Todos os dias eu passava por lá e me encantava com o que via.
Era rotina de criança. Brincávamos na casinha “lúdica”que ele construíra nos fundos do vasto e farto quintal da casa onde morava na avenida Ester e onde se estabelecera como alfaiate. Depois eu ficava observando-o trabalhando por um tempão, com o rádio ligado nas notícias, nas músicas do Vicente Celestino e ficava prestando atenção na conversa dele com os amigos sobre os curiosos “causos” da cidadezinha em que morávamos.
Depois de brincar muuuito em torno de frondosas e frutíferas árvores (e sob deliciosa parreira!), depois de me revezar entre a alfaiataria e a loja de brinquedos da minha tia e madrinha – na sala ao lado da dele - era a hora do café da tarde com mesa farta e todos em volta dela, experimentando as delícias da vó Dina.
Era a hora da pausa de trabalho de todos... hora em que meu querido avô começava a contar curiosas, interessantes e longas histórias dos seus antepassados que a todos nós, seus netos (sua assídua plateia!), fascinava.
Meu avô era um homem alinhado. Trajava sempre camisas sociais brancas de mangas longas sobre camiseta branca regata com calça social ora cinza ora preta, de forma impecável. Ele tinha um cheiro bom...e imensos olhos azuis! Era apaixonado pela minha avó - a quem tratava como uma rainha- e era dotado de uma paciência de Jó com todos nós!
Ele lia jornais todos os dias, expressava-se muito bem, tinha um repertório muito bom para discutir qualquer assunto. Tinha ele uma sabedoria incomum.
Nunca o vi disparando palavrões a não ser vez ou outra, em italiano, uma expressão de desabafo.
Era calmo, cavalheiro, atencioso, alegre, um homem sereno, um homem verdadeiramente sábio. E elegante, muito elegante.
Enxergava o melhor da vida, procurava tirar o melhor dela; era um homem que soube sair com dignidade e altivez de todos os percalços que a vida lhe apresentara. Era moderno, um homem à frente do seu tempo e generoso no afeto, nas delicadezas, nas “cavalheirices”. E muito bem-humorado, muito alegre, muito otimista - sabia como ninguém nos apontar sempre a melhor saída nas horas de apuro!
Gostava de vê-lo à cabeceira da mesa sempre tomando seu aperitivo habitual - uma cerveja preta ou um bom tinto -, o jeito que fazia as refeições, por ocasião dos minestrones e polenta; eu apreciava a maneira de como nos fazia refletir sobre tudo, o modo de como nos motivava a aprender, de como nos instigava a sondar e descobrir coisas e coisas interessantes através de metáforas, parábolas, do senso comum, através de um assunto banal que ele dava sempre um jeito de se tornar importante. Nunca o vi destratar alguém, gritando com alguém, falando mal de alguém...nunca o vi afobado, irritado.
Aprendi muito com ele através de suas atitudes, principalmente com o jeito como ele tratava os seus cinco filhos - por sinal muito bem criados e educados por ele e por minha também inesquecível avó.
Eu gostava de vê-lo caminhar com meu pai todos os dias, de vê-lo chupando balas de menta o tempo todo (de quando abandonou de vez o tabaco), de quando passava pela loja todos os dias para saber se meus pais precisavam de alguma coisa, para contar alguma novidade, para conversar. Sempre nos animava a seguir em frente, diante de qualquer tipo de desafio...

Fiquei com algumas camisas brancas sociais dele que eu usava vez ou outra pra fazer um tipo rsrsrs.
Eu gostava de observá-lo ao lidar com as plantas e os animais, sempre assoviando, conversando com eles. Eram mágicos esses momentos!

Tinha ele muitos amigos, tinha ele sorriso e gestos largos. Tinha ele o dom de transformar qualquer tecido em nobres roupas masculinas...assim como outros não menos importantes como o o Tio Tarcílio, Tio Carlos, Sr. Zuza e filhos...
Meu avô tinha as palavras certas e gestos nobres nas horas difíceis. Ele conseguiu se manter lúcido e forte depois da morte de minha avó, mas não demorou muito e ele foi atrás dela, não sabia viver sem sua rainha.

Ele me ensinou muita coisa legal, foi bastante presente quando meu pai se foi e, também depois, quando o meu filho chegou, a quem carinhosamente "batizou" de "Michelão".
Meu avô materno era um descendente de italianos que marcou a minha vida e a vida de muitas pessoas próximas a ele ou não, pelo jeito de ser, de falar, de agir.
Vez ou outra, especialmente em dezembro, sonho com ele! Coincidência ou não, é o mês de aniversário e da morte dele. E, ao despertar, sinto lindas e boas vibrações... sempre nessas ocasiões estou bem próxima do mar, que tanto amo!
Meu avô me ensinou a contar histórias, meu avô tinha uma memória prodigiosa.
Meu inesquecível avô, meu amigão, hoje é uma linda estrela a brilhar e a me rondar deliciosamente - em noites de incertezas ou de certos desencantos - encorajando-me, abastecendo-me com sua ternura, com seus longos e afetuosos abraços!
(...)
*Honorato: do Latim, aquele que recebe honras, que merece ser honrado.


Dos bailinhos aos bailões em Cosmópolis


Minha mãe com meu tio José Honorato em baile de Formatura
Alinhados e lindos!
Meu primeiro contato com a música veio quando eu ainda era bem pequena, através da minha mãe que vivia assoviando Moonlight Serenade, Besame Mucho e músicas de Nelson Gonçalves. Encantavam-me a alegria e a disposição dela enquanto realizava suas tarefas cotidianas, devidamente acompanhada de suas lindas melodias. Ela também gostava de dançar e dançava muito bem - que o digam José Honorato Fozzati que, quando jovem era seu par constante e, posteriormente, em várias ocasiões, o primo Jorge Baracat, os pés-de-valsa da família!
Diante das fotos que tenho hoje comigo da década de 60 (Anos Dourados), por ocasião da formatura do meu tio, sinto-me inspirada a escrever sobre certos lindos momentos em Cosmos: a época dos bailinhos de garagem (principalmente aqueles na casa do tio Jorge), dos bailes no Cosmopolitano, na Usina Ester e também no Grêmio Estudantil...noites deliciosas de minha cidade natal.
Em todos eles, o glamour era o mesmo. Cada qual à sua maneira, levando em consideração que, nos de garagem, havia por perto pais vigilantes, ao contrário dos demais; mas nem por isso nós nos sentíamos totalmente libertos da “mira” dos mais velhos ( ou dos mais conservadores) e dos nossos progenitores.
Neles todos havia a fantasia, o romantismo, o sabor das descobertas, a magia dos grandes encontros. E havia a “ebulição” de sentimentos - resultado da “traquinagem” dos hormônios nessa fase juvenil , convém lembrarmos - que muito contribuíam para culminarem na força impetuosa que nos regiam rumo a sensações indescritíveis, entorpecendo sentidos, razão, coração.
Ao mesmo tempo, havia uma inocência, uma doçura, uma aura de fascinação nesses encontros, nos relacionamentos em nosso meio. E um certo refreamento, uma certa contenção, um certo respeito, mensagens e olhares velados. Era um meio-termo sempre entre uma suposta liberdade e uma (desejada e nunca consumada!) “ libertinagem”, entre o avançar e o recuar...e um redemoinho de sensações a nos invadir além, claro, de uma imensa alegria de viver.
Esses “eventos” eram grandes acontecimentos sempre. Os beijos pareciam mais intensos, os grudes ainda mais... no entanto, eram eles sempre trôpegos, desajeitados até!
Todos – homens e mulheres - se esmeravam nas produções, no visual, fossem eles de quaisquer condições sociais ou de qualquer turma, indistintamente.
Era um tempo tomado pelo romantismo, por músicas melodiosas, dançantes, esvoaçantes, esfuziantes, questionadoras, instigantes que nos faziam sonhar, rodopiar, refletir... E lá vinha o som das “pedras rolando” soltas, libertas ( Rolling Stones) ou da batida mais romântica dos comportados meninos de Liverpool (The Beatles); do rock progressivo (de bandas que até hoje fazem sucesso) ou da açucarada Jovem Guarda ; dos revolucionários da Tropicália e dos Novos Baianos à MPB; do “profeta” Raulzito ao melodioso(” Dom Sebastião”) Tim Maia; do Pop Rock nacional e internacional a J.Hendrix e J. Joplin, dentre tantos outros gêneros que ecoavam dos embalos de sábado à noite aos embalos de domingo à tarde nas esquinas, nos bares, nos clubes, nas casas. Havia ainda os que se animavam sob o som das bandas de Jazz e das Big Bandas, sem claro, esquecer os aficionados pelo som dos músicos cosmopolenses como o do "conjunto" de Luiz Gallani, Rage Baracat, Carão, Nato Tonussi, tio Rubens Jemael ( junto de sua companheira e "vocal" na época, tia Celia Artioli, com sua belíssima voz!); do Paulinho Paulo C Tavano com seu Café Melodia e os primos Cacau, Virgínia e Mara com seu Spectro Continuous...será que estou me esquecendo de algum outro?
A música “transitava” nos momentos de puro e autêntico idealismo por um mundo melhor, pelo amor e pela paz sempre.
E sonhávamos. E conversávamos. Nos bancos das praças. Nas esquinas. Nos bares. O tempo todo.
Ao anoitecer, sob luar , garoa ou temporal lá estávamos nós, imersos na meia-luz, no jogo de esconde-mostra (bem sutilmente), no delicioso jogo engendrado da sedução, na magia do encontro, na arte de desvendar doces mistérios. Todos, indistintamente lindos, muito bem aparentados, deixando-se envolver pela sincronia de corpos e de bocas que se entendem sem muitas palavras, no embalar dos sons, do ambiente, das emoções.
Da saída dos bailinhos para os bancos da praça. Dos clubes, nas altas madrugadas, direto para as padarias para pegar pães saindo quentinhos dos fornos – capitaneados por Seu Otacílio, a princípio e, posteriormente, pelo adorável e inesquecível casal D. Hilda Scorsoni e Sr. Osmar Toledo e também pelo Seu Facelli e esposa...sempre incríveis conosco! E que paciência e atenção nos davam!
E saíamos desses bailes cantarolando, rindo muito de tudo e de todos, alguns de nós já nos "consagrando pares”...para sempre. Outros vivendo o amor infinito... enquanto durasse. Outros ainda na “fossa”, com “ dor de cotovelo” por conta de terem “levado uma tábua” ou terem experimentado a agrura de um desenlace amoroso...
Existia traje social seguido à risca. Existiam casais que se destacavam pela harmonia quer fossem na dança (“solta” ou aos pares) quer fossem pela sintonia de recíprocos sentimentos , nos romances que assim se iniciavam (ou se consolidavam) a partir dali, daqueles deliciosos bailinhos ou bailões.
(...)
Impossível esquecer os bailes que vivi. ...nessa época eu morava de frente para o salão do CFC e também não perdia um só baile. Eu , meus primos, meus amigos e minha família ficávamos até o final, época de grandes bandas e orquestras, de grande encantamento.
Inesquecível a minha primeira dança ao som de Roberta Flack - Killing Me Softly ( 1973) com um rapaz pra lá de interessante; do arrasador baile de formatura, quando Cupido me flechou em cheio, embalada por Carole King com sua não menos inesquecível It’s too late. E depois, sob a “bênção” de Elton John, com sua inebriante Skyline Pigeon, veio o primeiro beijo, seguido de namoro à porta de casa.
Mas não dá para esquecer mesmo é de certos lindos casais abrindo bailes no CFC, tais como Marilia Moraes e J. Carlos Trevenzolli, Suséte Kowalesky de Moraes e Rui, Osmarilda Furlan e Zé, Mandi Campos e Cristina Stucki, Olga Mya e Dito Almeida, os amigos Silvia G. A. Moraes e Shasça Milk... Havia também os primos Cacau e Jorginho, sempre disponíveis se revezando e se desdobrando em atender às dançantes, conduzindo-as e fazendo-as “levitar” junto deles, bem como o fazia maravilhosamente bem o saudoso tio Rage Baracat que, segundo nos diziam, era soberano nesse quesito. Quando apontava no salão, não tinha pra ninguém . Mas, infelizmente, essa época eu não vivi.
Há muitos outros pares que tenho na minha memória, mais imagens “arquivadas” do que nomes.
Sem contar a turma de Sta. Bárbara D'Oeste, não é Maria Helena Gagliardi Melcón Regina Gagliardo, Izabel Gagliardi e Maria Emilia Fernandes Mia?
Muitas emoções vividas. Muitas histórias pra contar. Muitas coisas lindas pra recordar, certo Tere Cae , Nei Caetano, Soraya Bragagnollo e Amaury Aranha?
E lá se foram quatro décadas...tempos áureos, lembranças engavetadas a sete chaves, dentro de nossos corações, em um “cantinho docemente decorado de saudade”!

Uma mulher chamada Zarif



Não conheci essa mulher de olhar enigmático e penetrante. Sei pouco dela porque bem cedo se foi, deixando os filhos ainda adolescentes entregues cada um à própria sorte. Felizmente, essa foi generosa e sorriu a cada um deles, à medida que foram muito bem se encaminhando pela vida.
Soube dela, da minha avó paterna, com alguns poucos detalhes, através do meu pai, da minha tia Chafia e pelos mais velhos (e mais próximos) de Cosmópolis que melhor a conheceram.
Ela morrera por conta de uma doença oportunista (para alguns, traiçoeira!) – naquele tempo, sussurrada entre dentes, a doença ruim, “aquela doença”-, hoje apresentada como câncer, sem nenhum preconceito. A tal doença que hoje, sabe-se, é resultado, dentre tantas coisas, de tristezas e mágoas suprimidas, represadas, contidas, sem vazão. E, por conta dessa doença, ela sofrera muito.

Minha avó Zarif Chaib nascera no Líbano e tivera um casamento arranjado com Bechara José Jemael , homem bastante estiloso, comerciante promissor , nascido no Cairo - embora dissessem ser ele sírio, mais tarde vim a saber que ele tinha ascendência egípica. Tivera ele, fora do casamento, José Bechara, a quem reconhecera como filho dele com minha avó (soube que fora contra a vontade dela!). Sei que ele e minha avó formavam, a despeito desse "porém", um casal harmonioso, muito bonito.
Minha avó - falam - era generosa, elegante, envolta em sedas e joias; era quieta, refinada, amável e... linda!

Lembrei-me dela por esses dias , ocasião de seu aniversário - ela era do signo de Gêmeos. Regida, portanto, por Mercúrio e quem tem esse planeta posicionado nesse signo – dizem os astrólogos- se comunica e expressa sua capacidade de raciocínio trocando ideias e opiniões de forma extremamente lógica. Mas não tenho informações precisas sobre a personalidade dela, embora tenha sido ela do “ar” e eu bem sei o quão interessante são as pessoas desse mutável elemento que as fazem tão deliciosamente especiais, fascinantemente sonhadoras e adoravelmente instigantes.

Soube que ela fora a primeira mulher na cidade a usar rouge, hoje chamado blush. Sei que tinha gestos delicados, timbre de voz suave, fala pausada e mansa...e um sorriso triste, brando. Não era uma mulher afetada, embora tivesse atitudes contidas e postura altiva, além de ser bastante vaidosa.

Aos dezoito anos parti em busca de parentes dela em Chepes, cidade próxima a Mendoza, para poder melhor entender quem era essa mulher e também poder decifrar os olhares sombrios e evasivos do meu pai quando (raramente) falava dela e quando o fazia nessas ocasiões , seus olhos enchiam-se de lágrimas. Aliás, em seus últimos momentos de vida, ele a chamara baixinho insistente e comoventemente, segundo me disseram meu irmão Jamil e minha mãe, posteriormente.

Pelas pesquisas, diz-se ser Zarif um nome predominantemente masculino, de origem indefinida. Encontrei em uma delas a definição que bateu com o que o meu pai me dissera um dia: nome de origem árabe, cujo significado é mulher bela, graciosa, habilidosa.
Não à toa minha prima, que chegou ao mundo um mês antes de mim, herdou seu nome que muito condiz e a define tão bem, com tanta propriedade!
Não tive a alegria de conhecer minha avó, mas hoje consigo traduzir -pelo que a vida tem me mostrado-esse olhar dela, profundo e um tanto misterioso. Definitivamente, não mais indecifrável para mim!

Poderia ser mais um anônimo, apenas mais um que partiu...

Mas foi o Paletó, o Luiz Antonio Mariano. O rapaz que conheço desde sempre,  vindo de famílias com as quais tive contato desde menina: os Mariano e os Felisbino. Gente de bem, cosmopolense da gema.
O rapaz que estava por dentro de todos os acontecimentos, que acompanhava de longe minha trajetória, que sabia dos meus amores, das minhas paixões, que torcia por mim, que gritava meu nome por onde eu passava, fosse de bike, de carro, a pé. Que sempre tinha um sorriso nos lábios, que sempre tinha uma palavra amiga, que sempre mantinha um altíssimo astral e  quando me via chegar, saía do bar e ia até mim pra me contar as novidades, querendo saber de mim, do meu filho e que tinha um enorme carinho pela minha família...
A última vez que o vi já faz quase dois anos. Gritou meu nome, me fez parar e conversamos sobre tudo e todos. Seu olhar já não tinha o mesmo brilho, mas mantinha o sorrisão de sempre. Ao nos despedirmos, recordou algumas passagens minhas com um conhecido dele, me emocionando com as suas palavras...tinha esperanças de um dia, eu e esse rapaz, reatarmos o que ficou bem lá atrás, apenas uma lembrança longínqua.
Mais um cosmopolense muito querido que nos deixa e que, por acaso, eu soube de sua partida através do face.
Mais um “mocinho” que marcou uma áurea época. Que não teve seus sonhos realizados, melhores oportunidades...mas deixará saudades do  que tinha de melhor: sua alegria,  seu jeito terno, prestativo, um querido amigo de tanta gente.
Vá em paz, meu querido Paletó,  e que você continue distribuindo essa alegria toda aí no andar de cima.
Eu aqui sentirei falta do seu assovio, do seu grito a ecoar na esquina chamando por mim, do seu astral, do seu sorriso!


Beijão 

As "meninas' que marcaram a minha infância

Veio-me da querida Neusair na primeira postagem à página inicial do meu Face, a música Only You, do The Platters. Ao ouvi-la, logo a seguir, em uma dessas manhãs frias e de sol anêmico, curiosamente, ela não me remeteria a algum baile ou a algum momento romântico mas a certas “meninas” que chegavam, naquele instante, em flashes à minha memória afetiva. Coloquei a linda melodia inúmeras vezes e enquanto a ouvia, palavras, tipo escrita automática, fluíam do teclado, despejando-se na tela, galopantes, céleres, sem que eu muito me pusesse a pensar. Apenas estava eu, naquele momento, imbuída do sentir, fotografando por escrito o que surgia nessa minha memória. E as "meninas" ali, intercalando-se...indo e vindo à minha frente, sobrepondo-se uma a frente da outra em uma sequência colorida.
(...)
As primeiras a chegarem foram Dona Tutu Balloni e Dona Silene Sousa. As duas mulheres vestiam calça preta, um pouco acima do tornozelo, blusa de xadrezinho beeeem miúdo vinho e branco - o uniforme delas. Eram as minhas “tutoras” primeiras no Parque Infantil. Inseparáveis, à beira da piscina (imensa!), ao lado dos brinquedos do parquinho, supervisionando a garotada; lá estavam elas cantarolando músicas infantis, fazendo as costumeiras brincadeiras, lindas, de batom, unhas ( longas e vermelhas!) bem feitas, alegres, vibrantes a nos assessorar, a nos descortinar novos horizontes, a nos iniciar no aprendizado da vida, no espírito de solidariedade, na amizade, inspirando-nos com seus exemplos, com suas atitudes. Incansáveis, lindas amigas e companheiras, doces e animadíssimas professoras! Eu me concentrava na delicadeza delas, no timbre suave da voz delas, nas mãos a delinearem gestos no ar, nas histórias que nos contavam, no carinho delas para com todos nós, meninas e meninos entre 5 e 7 anos!
Depois vieram D. Estella Tavano e D. Nena, inseparáveis irmãs de cabelos prateados que caminhavam sempre de braços dados pela avenida. D.Estella estava sempre alegre e, apesar de um defeitinho na perna que a fazia mancar, dançava , cantarolava e não parava quieta um só instante! Ela foi a minha professora de solfejo, me dando as primeiras noções de música, preparando-me para a minha amada e inesquecível Maria Ignês Scorsoni, minha professora de piano, que muito me incentivou e me inspirou no universo desse instrumento-essa merece uma crônica à parte, tamanha dedicação, carinho e   brilhantismo fora do comum! A D. Nena, mais tímida, concordava sempre com o que D. Estella decidia, tinha um temperamento mais calmo e ambas se complementavam...Não se casaram e eram muito queridas, eram elegantes, eram prendadas, eram carinhosas com todos nós e sempre estavam presentes em nossas reuniões festivas. Eram duas “jovens” senhoras carismáticas. E elas nos enchiam de mimos, elogios, carinhos, conselhos e ...bolos deliciosos!
Seguem-se agora a D. Auxiliadora Vieira Dias e D.Ester Campos...elegantérrimas, antenadíssimas com as últimas tendências, arrojadas, de um bom-gosto indiscutivelmente refinado. Auxiliadora, mineira de Alfenas; Ester, irmã do Hermínio, da nossa cidade. As duas comandavam o Saloon, espaço mineiro charmosíssimo na avenida principal. Nesse espaço estilo meio “western” além das tradicionais balas de café(de-li-ci-o-sas!), eram vendidas coisas de Minas, isso na década de 60. E ali, concentravam-se jovens lindos, bem trajados e animados, sob comando da dupla luminosa, ambas adornadas de roupas e acessórios exuberantes, coloridos...lindas as duas e encantadoras na arte de receber, recepcionar, vender, entreter...prosadoras impecáveis e sempre apresentando novidades!.
E finaliza-se mais uma cena, mais um instantâneo flash: as irmãs gaúchas austeras, místicas, fechadas. As três mulheres –uma delas, jovem, de olhos lindamente amendoados, diziam ser filha de uma delas-, de semblantes pesados, cabelos negros, deixavam “rastros” de forte cheiro de água- de- colônia, cheiro esse que se recendia aos quatro ventos, por onde passavam...todas com rouge rosa -choque e batom e unhas idem... também eram inseparáveis e o que chamava a atenção sobre elas eram as roupas rodadas, amplas, coloridas com cinturas beeem marcadas por grossos cintos de fivelas imensas, brincos de argola, anéis e correntes grossas de ouro mais parecendo ciganas essas três soturnas mulheres . A vida delas era um mistério! Elas preservavam a sete chaves a intimidade, o que incitava a garotada a ser espevitada, endiabrada...essas mulheres provocavam um certo tumulto quando pelas crianças passavam...e todas elas curiosas em querer saber mais sobre aquelas misteriosas “gaúchas-ciganas”!
Havia aquelas também que me marcaram pelo "frisson", provocando um outro tipo de tumulto por onde passavam por serem mais "destemperadas", ousadas, "sanguíneas"...as "Bibas", as "Peixeiras"... E nin-guém desafiava enfrentá-las ...por na-da! E elas, aos homens seduziam, os arrebatavam! Essas mereceriam uma crônica à parte!
Aliás, cada uma dessas "meninas" acima ( e outras tantas!) dariam interessantes protagonistas de boas histórias...
Essas "meninas" trouxeram de volta pra mim, neste momento, explosões de cores, cheiros de tempos bons e muito bem "sentidos".
E há, ainda, muitas outras que fizeram parte da minha infãncia e também da minha juventude, em Cosmópolis. E eram elas receptivas, cúmplices, amigas de todos, solidárias nas confidências conosco, dando sábios toques, sempre atenciosas , queridas por muitos de nós, desde sempre.....a querida Vicentina Bontempo e a Adelaide Leone, tão generosas seeempre, nos enchendo de presentes, de atenções, de gentilezas...Vicentina foi a que me recebeu de braços abertos e com muito afeto na Caixa, sempre me ensinando tantas coisas, com tanta paciência, zelo, sabedoria.
E temos a nossa querida amiga Neusair Vieira da Silva , a que através de sua postagem me inspirou, hoje, a escrever. Uma mocinha que manteve seu ar de menina, seu coração jovem, seu sorriso amplo...lembro-me dela junto a sua irmã também linda como ela...trabalhavam de frente a loja do meu pai, na Telefonia, época de uma comunicação difícil, mas de amizade fácil, verdadeira, linda demais. Sempre alinhadas, sempre alegres, participavam ativamente do que acontecia conosco, vibravam com as coisas boas que nos aconteciam, condoíam-se conosco nos momentos mais difíceis. Sempre estiveram presentes lindamente em nossas vidas!
E agora a voz da minha mãe ecoa, forte, dentro de mim, duelando comigo insistente: “É melhor você voltar, esse seu " isolamento"não tá te fazendo bem, você tá muito nostálgica demais, tá muito voltada pro passado”! Mãe sempre tem razão? Seja o que for, nada é premeditado quando damos vazão a sensações e ou sentimentos que fluem alheios a nossa vontade. E, no meu caso, escrever acaba por ser um mergulho na alma. E ao postar esses tais “mergulhos”, posto-os imaginando passar pra alguém algo mais pra "ser"sentido do que "ter"sentido.. é assim que acontece. Algo que desperte algum "sentido". Ou toque todos os "sentidos".
Vou dar mais alguns outros mergulhos – hoje mornos pra quentes, dada a "condição climática" do meu coração- e eu sugiro a vocês, meus queridos amigos, a fazerem o mesmo cada qual à sua maneira...a ouvirem uma música que realmente “toque” a alma e deixar um “filmezinho” bem legal - ou uma “cena” dele - preencher gostosamente a memória de vocês. Isso pode vir a surpreendê-los. Isso pode aquecer o coração...pode-quem sabe?- despertá-los para pequenos ou grandes milagres...ainda mais se vocês estiverem acompanhados de um bom tinto ou ainda de alguém que hoje os encaminhe para a sensata constatação: "Somente você (sim, só você mesmo, aí que me ouve agora!) pode fazer a escuridão brilhar!"

Caro pai,

o vazio é imensurável, a ferida é latente, o buraco que fica é impreenchível. Tudo soa vazio sem sua voz a ecoar pelos quatro cantos... sem seu lindo humor ao anoitecer, ao amanhecer; sem seu assovio retumbante, sem sua presença,sem suas sábias palavras, sem seus almoços de domingo, sem vc a me esperar para os longos e intermináveis papos filosóficos ou não, sem seu “sétimo sentido” , sem suas delicadezas, sem suas cavalheirices, sem seu carinho a apaziguar temores, sem nossos mergulhos ao amanhecer no CFC, sem nossos finais de tarde na Represa em tardes de verão, em Cosmópolis.
Dizem que o tempo atenua tudo...ledo engano, só faz aumentar a saudade rsrsrs.
Então é isso, não me prolongarei! Há uma lua gordona a minha espera, há pessoas bacanas ao meu redor. Há um Anjão com sua ascendência em minha vida a atenuar certas dores... acho que iria gostar! E , em breve, estarei rodeada de pessoas que você ama.
Rosemari Gallani Avansini convidou-me para estar com Hermes Kiehl, seu grande e querido amigo, em almoço de domingo dos pais...achei que você gostaria de saber - embora não possa estar com eles e apesar de me sentir honrada com o convite.
Acho também, amadíssimo pai, que você gostaria de saber que por aqui tudo anda nos “conformes”...todos estão muito bem, inclusive o seu neto, Michel Neto.
Agora, nesse momento, meu lindo pai, você é uma baita estrela brilhante no firmamento que me encanta, que me afaga, que me acompanha nesta noite de inverno. Você é uma lembrança dolorida, porém linda demais para que eu possa me lamentar.
Obrigada por ter me ensinado tanto. Obrigada pelo amor desmedido. Obrigada por me fazer a pessoa que sou.
Ainda não digeri, devo-lhe confessar, sua partida aos 47 anos, embora tenham se passado quase 31 anos!rsrsrsrs
Entaõ, te desejo um Feliz dia!
E até a qualquer momento, em que colocaremos todo o nosso papo em dia...e quanta coisa tenho pra te contar...e eu bem sei que terá toda a paciência do mundo pra me ouvir!
Te amo infinitamente e para todo o sempre.
Beijos de sua filha que hoje, mais do que nunca, encontra-se diluída em saudades.

 Uma avó muito especial


Uma noite, eu e uma amiga conversávamos, dentre tantas coisas, sobre a avó dela. Emocionei-me com seus relatos sobre a sintonia espiritual das duas, mesmo depois que ela, sua avó, havia partido deste plano. Muitas afinidades, muitas coisas puderam elas compartilhar e grande cumplicidade mantiveram as duas, de tal forma que essa tal sintonia perpetuou-se além da morte. Seus relatos me comoveram e me inspiraram a falar da minha avó Dinorah.

Não sei se todos tiveram (ou têm) uma avó como a minha - amiga para todas as horas, uma dádiva de Deus a se fazer presente em momentos preciosos e inesquecíveis.
Minha avó Dina foi uma pessoa muito querida por todos. E uma avó bastante atuante em nossas vidas - na minha e na de meus primos.

Como boa descendente de italianos, preparava-nos típicas iguarias com primorosa habilidade. Como tal, mantinha mesas postas (e fartas!) o tempo todo. E fazia festas grandiosas em ocasiões especiais ou não. Nessas festas, além dos parentes, vinha gente de toda a redondeza, inclusive os amigos de sítios vizinhos à nossa cidade, com os quais ela mantinha fortes laços de apreço e estima. Quanta cantoria havia ali! E quantas boas conversas aconteciam ao redor da mesa, lindamente adornada!
Talvez também pelo cheiro no ar - de infância – ou do clima, não há como não me remeter a suas massas, aos seus doces, aos seus temperos, ao seu chocolate quente, aos seus minestrones, a sua sopa de frutas, a suas cantigas enquanto nos aguardava com seus quitutes para o lanche farto de todas as tardes, em Cosmópolis.

Minha avó foi solidária e cúmplice, em muitos momentos marcantes, conosco – “meninas-mulheres e meninos-homens”, seus netos - com sábios conselhos e íntimas conversas quando, em muitas ocasiões, nossas mães não tinham tempo ou muita paciência para, conosco, entabularem-nas.
Minha avó guardava minuciosa e secretamente as economias que amealhava durante o ano todo para nos presentear , em todas as datas, com incríveis presentes - sempre! Minha avó era severa e terna na medida certa, sabendo também o momento apropriado “de agir” para o nosso bem.
Minha avó Dina tinha palavras (e provérbios) na hora exata a nos confortar e a nos animar para seguirmos em frente, para nos fortalecer diante de alguns “tropeços”.
Ela foi uma supermãe, companheirona do meu avô Nato, muito zelosa com ele, não obstante ser um tanto ciumentinha rsrsrs.
Minha avó comemorava quando a chuva chegava deixando no ar o cheiro de terra molhada. Ela cultivava canteiros de ervas e temperos cheirosos, era uma apaixonada por flores, antúrios e samambaias. Ela as mantinha e cuidava delas lindamente ( conversava com elas!) durante o ano todo - espécies variadas, coloridas, perfumadas, exuberantes. Algumas delas já não vejo com frequência nos jardins das casas - dálias, palmas, amores-perfeitos, cravos, rosas, copos-de-leite...

Ela me ensinou muito além das coisas da vida...ela me inspirou na alquimia da cozinha, a manter sempre o humor, a não “deixar a peteca cair” diante de obstáculos e contingências da vida, a amar os animais...
(..)
Com essa chuvinha fria que agora cai, sinto no ar o cheirinho ( e o saboooor!!!!!) dos seus pastéis, pães de torresmo, broinhas de fubá, bolachinhas de nata, bolinhos de chuva, o seu chocolate quente. E ouço as suas cantigas, as suas orações e a sua voz a ecoar, imperiosa : “Vem logo pra mesa, meninada, que vai esfriar!”

Privilegiada sou por ter tido uma avó tão presente em uma infância tão gostosa!
Inesquecíveis lembranças que abastecem a alma...sempre!

 FELIZ NIVER, PRIMO JORGE!



Querido primo, meu amigo-irmão de todas as horas, maravilhoso sempre estar em sua companhia e poder desfrutar do seu carinho, do seu altíssimo astral, partilhando não só alegrias e conquistas mas também os momentos mais difíceis...presença luminosa em minha vida e na de muitas pessoas, sempre nos oferecendo o melhor de vc... O que te desejar neste dia tão especial quando se inicia um novo ciclo em sua vida a não ser saúde, muuuitas realizações e muuuitasss alegrias? Querer vc seeeempre por perto a me acarinhar, a celebrar junto comigo a vida, claroooo! Obrigada por tuuuudo e, principalmente, por momentos tão especiais, tão lindos, tão solidários! FELIZ ANIVERSÁRIO!!!! E que essa data se repita por muuitos e muuuitos anos!!!!Viva o Jorgeeeeeee!!!!!Uhuuuuuu bjosssss

 FELIZ NIVER, MEIRE!


Prima linda, minha querida comadre, eu desejo a vc muuuitas alegrias, hoje e sempre! Vc é especial demais pra mim e pra muuuita gente. Sempre presente em muitos momentos de nossas vidas...sempre generosa, disponível, amiga pra todas as horas, sempre com um sorriso a nos receber, sempre com a mesa farta a nos recepcionar. Turcaaaa lindaaaaa com senso de humor único, altíssimo astral, parceiraça de longa data, que Deus te prolongue por muitos e muitos anos sua estada entre nós, brindando-nos com seus sábios "toques", com sua alegria, com seu jeito incrível de ser, com sua hospitalidade, com seus quitudes delicioooosooos! E agradeço a Deus por tê-la como prima amiga e uma segunda mãe para o Michel Bechara Gimael Neto, que também tanto a admira e te ama muitão! Não pude estar com vc ontem, mas breve estarei com vc pra colocarmos a conversa em dia e, claro, experimentar suas delícias gastronômicas- que bem sei, fizeram o maaaaiooor sucesso ontem aí! Parabéns mais uma vez e que Deus continue te abençoando muitão! Amamooooos vc! Bjosssss

“GIMA”, FILHO LINDO E AMADÍSSIMO, PARABÉÉÉÉNS!!!!


E, então em um sábado ensolarado, às 8h da manhã você chegou...
Não consegui saber durante a gestação toda se viria um menino ou uma menina, apesar de inúmeros ultrassons rsrsrs. Eu torcia pra que fosse um menino e, de preferência, que fosse parecido com o seu avô, meu amigão. O suspense foi enooorme entre enfermeiras e médico, uma farra na sala de parto como assim o foi durante os nove meses que você, em mim, se “acomodava”.
Nove meses de alegria imensa...músicas, conversas e histórias mil com você e pra você, o tempo todo. E, então, uma vitalidade imensa instalou-se em mim.
E, desde o momento em que você chegou, a vida passou a ter outra conotação pra mim: você me trouxe sorte, motivação, me fez rever valores, me fez melhor e me deu a oportunidade de passar minha vida a limpo. Você me trouxe lindas vibrações e a vida tingiu-se de cores, de nuances mil...totalmente demais!
Há 25 anos – como você mesmo diz, um quarto de século! - você tem me presenteado com essa sua luz, com esse seu jeito lindo de ser e de sentir as coisas e as pessoas.
Hoje, por onde passo, todos me perguntam: “ O Michel é seu filho? Nossa, ele é demais, uma pessoa incrível! Vc é uma pessoa de sorte, abençoada!” E lá vêm elogios e elogios a seu respeito.
É, “Gima”, vc é um presentaaaaçoooo de Deus pra mim!
Nesse um quarto de século criamos uma parceria, uma cumplicidade única e quantos momentos incríveis juntos partilhamos, hein?
Nesses vinte e cinco anos você só tem me dado alegrias, você tem sido um filho maravilhoso, amigo, companheiro, uma pessoa de caráter, pautado na ética, temente a Deus, um rapaz de princípios, cheio de determinação em tudo a que se propõe a fazer. Tem espírito de liderança, sentimentos de compaixão que a todos comove, é solidário, autêntico, tem um coração bom demais da conta, tem sabido lidar maravilhosamente bem com as contingências da vida, sempre dotado de uma sensibilidade ímpar que a muitos inspira...cheio de sutilezas de alma que sempre nos emociona, sem contar as cavalheirices! E sabe -como poucos- tirar da vida o melhor ...sempre com um sorrisão aberto , com altíssimo astral que a todos desarma! Eta turquinho legal você!
Poderia contar, aqui, mil coisas lindas e surpreendentes que você faz pra mim, mas aí vão achar que é coisa de mãe “coruja babona” e vão te “zoar” rsrsrs...mas quem tem o privilégio de ter você por perto, com certeza, me dará razão e irá até enumerar outras tantas qualidades suas...e verá que não estou exagerando.
Mas houve uma que marcou demais: do meu quarto, ouvi você chegando de uma festa de aniversário ao amanhecer, assoviando pra variar e demorando pra se deitar. À janela do meu quarto, você me deu o seu esfuziante bom-dia e se recolheu em seu quarto. Algum tempo depois, ao me levantar e abrir a porta do meu quarto, deparei-me com pétalas de rosa de cores variadas e conchinhas de todos os tamanhos , lindas, espalhadas feito um lindo tapete pela casa tooodaaaa, em todos os cômodos até o portão de casa e, sobre a mesa da cozinha, havia uma linda taça colorida cheinha de bombons com o bilhete “Eu te amo, mãe!”
(...)
Nesse um quarto de século muito aprendemos, muito vibramos com nossas conquistas, muito viajamos, conhecemos, experimentamos.. rimos e choramos juntos! Uauuuuuu!!!E quaaaantas sessões musicais! Poderia falar de um montão delas e de nossas afinidades nessa “área”. Pensei em várias vozes - dentre as infinitas - que nos embalaram em nossos momentos, em nosso convívio , desde o amanhecer ao anoitecer...Lulu, Benjor, Tim Maia, Titãs, Legião, A.Calcanhoto, Ana Carolina, Biquini, Skank, M.Monte, Grace Jones, Chico, Caetano, Beatles, R. Stones, Moby, Coldplay, U2...em cada melodia, um momento único, nosso! Uhuuuuu!
Nós dois sempre nos dando o melhor de nós, um ao outro! Entre acertos e desacertos, juntos seguimos rumo aos nossos objetivos e, dentre esses, o de termos uma existência feliz, sem grandes atribulações! E também de darmos o melhor para os que nos rodeiam. Acho que tem dado certo essa nossa parceria, não é, “Gima”?
Então, hoje, filho lindo e amado, desejo a vc um FELIZ NIVER a distância já que, excepcionalmente, você- esse ano- deu uma de “fujão” e não quis comemorar por aqui. Sei que está realizado com suas conquistas, feliz demais com a vida, com você, com o mundo e torço pra que continue assim...Que Deus continue te abençoando muito, que você continue sendo iluminado e luminoso. E, eu aqui, vibro por você, agradecendo a Deus- como você, constantemente costuma dizer: “VALEU, DEUS!”- por esse menino incrível que você tem sido em minha vida!
Deixo-lhe uma de nossas melodias pra você se inspirar, pra sair dançando, pra comemorar esse seu quarto de século pelas praias por onde passar, ok?
TUDO DE MARAVILHOSO PRA VC, MEU TURQUINHO!!!!!!
BJOS e BJOS dessa sua mãe – hoje mais “coruja” do que nunca - que te ama muuuuitoooo!!!!
E VIVA O “GIMAAAAAAAAA”!!!!!! UHUUUUUUUU!!!!!

O NOSSO TEMPO É HOJE!”





A leveza de ser do meu Tio Carlos

A “inevitável visita” chega sem pedir licença. Não temos como fugir dela, disso todos sabemos. Preocupamo-nos com pessoas ao nosso redor, enfermas, na iminência de , a qualquer momento, perdê-las e, assim, vamos sofrendo por antecipação. De alguma forma, tentamos nos preparar para o pior, em vão, posto que nunca estamos preparados para ela, a morte!
E não adianta apaziguar a dor da perda de alguém querido com o discurso de que ela, a morte, é apenas uma viagem, uma passagem etc etc pois nos esquecemos de que a vida é mesmo efêmera e que ela sempre nos reserva surpresas ...Para essa tal visita funesta, nuuunca estamos preparados. E aí, vem o baque: quem a gente sequer imagina parte de repente, sem tempo pra despedidas.
Há alguns dias, um tio muito querido se foi: o meu tio Carlos – Antonio Carlos Fozatti – era um homem leve na compleição física, leve no jeito de ser, leve no jeito de sentir e de viver .
Durante a vida toda, todos nós o tivemos como um homem apaixonado pela vida, pela esposa - nossa adorável Tia Nadir -, pelos seus filhos - primos queridos-, pelos netos e pelo seu time de futebol.
Em nossas reuniões festivas lá estava ele, sempre sorridente. Nunca o vimos “carrancudo”, nunca o vimos reclamar de nada. Talvez porque ele tenha mantido a espontaneidade, a autenticidade e a vivacidade de uma criança, sua essência! Ele contava “causos”, relembrava passagens da infância e da juventude em Cosmópolis, cidade que amava e onde escolheu como sua “última morada”, não obstante há décadas morando em Campinas.
Tinha ele uma memória afetiva incrível. Durante 59 anos esteve ao lado da esposa, Tia Nadir e, com ela, formou sua linda e unida família. Marido exemplar, pai amoroso e dedicado, irmão querido, tio adorável!
Era um homem simples, de hábitos simples, com uma filosofia de vida simples.
Sempre tinha elogios pra todos e, quando nos visitava, sempre trazia boas novas. A relação dele com a família era linda de se ver. Ele me chamava de “Turcona”.
(...)
Fica em minha memória o jeito carinhoso dele –sempre!- para conosco.
Ficam cravadas na minha alma as palavras do pastor Nelson (após uma absurda tempestade na noite anterior) em uma manhã luminosa, na triste despedida, o óbvio que sempre “passa batido” por nós: “O AMANHÃ não nos pertence, façamos tudo o que pudermos pela pessoa a quem amamos em vida, expressando nosso amor, nossa doação, nosso carinho HOJE, o nosso maior presente”.
Fica em nossa memória o amor que esse homem dedicou em vida a todos ao seu redor. Fica em nossa memória o exemplo de sua doação com suas nobres atitudes.
Fica evidente nos seus entes tão queridos quanto amor por eles expressou. Podem passar anos sem ver meus primos e enxergo neles a mansidão do “bom olhar” pra todos nós, o carinho deles para conosco, a sensação de que estivemos sempre juntos, de que apesar das contingências da vida, nunca nos separamos. .. fica a marca registrada-emblemática!- do nosso Tio Carlos e de nossa amada Tia Nadir : “É pelos frutos que se conhece a árvore!”...belos frutos, bela árvore!
Fica a saudade do que, juntos -amorosa e alegremente-, pudemos partilhar e expressar em vida: o carinho por ele.
Fica o som da sua voz a ecoar, da sua risada escancarada...fica sua leveza de ser!
Fica o céu mais luminoso e em festa com a presença dele contando suas histórias, relembrando os bons tempos em sua cidade natal...e sendo muitíssimo bem recebido por seus pais e amigos. E eis que surge mais uma estrela a brilhar intensamente a quem, na cumplicidade, lá de cima, estará a nos acompanhar.
Fica sua família aqui, mais unida do que nunca, assessorando a sua rainha Nadir, mulher forte, plena de fé e muito amor, sua parceiraça!
Fica uma dolorida saudade...
(...)
Beijos, Tio Carlos querido! E até um dia, em meio a muita prosa e festança!
Da sua sobrinha “Turcona”.

(Re)Encontro muito especial!


Existem pessoas que se eternizam em nossos corações. Pode o tempo passar e elas estão ali, em um momento único, como se nunca deixássemos de nos falar, como se nunca tivéssemos nos distanciado.
De repente, parece que o tempo parou. E que nunca nos separamos. E que nada mudou. As lembranças de um passado bom vêm à tona , risos largos e soltos emergem, altos papos acontecem e, sob grande cumplicidade, palavras, gestos e olhares selam o mesmo carinho, afeto e amizade de sempre!
Quanta coisa pra contar, pra recordar, pra desabafar, pra sentir!
E a essência de cada uma dessas pessoas ali estava inalterada e integrada, ao redor da mesa lindamente disposta, devidamente preparada pela eterna menina de sempre, Maria Helena, a anfitriã que se esmerou –como sempre! -em nos receber, atentando para cada detalhe, deixando transparecer sua marca indelével: o bom acolhimento, a incrível receptividade!
Esse tipo de (re) encontro é sempre memorável, um grande acontecimento, um afago na alma. É o que dá um sentido especial à vida. É o que faz a vida valer a pena.
É um aconchego estar entre pessoas que nos fazem tão especiais. Pessoas que nos incitam à vibração de uma energia inexplicável , que nos movem a celebrar com categoria a vida, o presente, o momento!
Foram horas deliciosas que voaram deixando um gostinho de “quero mais”. Momentos gostosos demais que nos inebriam e nos fazem acreditar que a amizade verdadeira suplanta o tempo, a distância e tudo o mais!
(...)
E que venham muitos outros (re)encontros, muitas boas conversas, risadas soltas, movidos por nobres sentimentos e linda sintonia, ancorados pela alegria, pela arte do bem receber, do bem viver...
Vida longa à amizade verdadeira...Um brinde a ela ... um brinde a essas “meninas” que mantiveram a doçura de alma!
E viva a vidaaaaa!!!!Uhuuuuuuuuuuuu!
— se sentindo abençoada

 FELIIIIIZ ANIVERSÁRIO, MICHEL JR!!!!!!!!


Meu amado Michel Jr, "Michelzinho", meu irmão de todas as horas - difíceis e alegres-, companheiro, amigo luminoso e iluminado, te desejo toda a felicidade do mundo neste seu dia e nos muitos dias que virão. Aprendi muito com vc,com seus sábios toques,com suas atitudes, gentilezas e sutilezas de alma. Vc tem muito do meu pai e muito presente esteve todo esse tempo conosco,com sua santa paciência,com sua desmedida generosidade, afeto e atenção, nos assessorando com maestria, nos apoiando, nos acarinhando, nos dando força pra seguir em frente! Com vc ao nosso lado, a caminhada tem sido mais leve, tudo de triste se esvai...ficam suas palavras boas, seu astral lindo, momentos de profunda alegria e gratidão. Muitas coisas vivenciamos juntos e com elas aprendemos. Que vc continue tendo sucesso em tudo o que faz, que seus sonhos se realizem, que todas as bênçãos caiam fartas sobre sua vida. Me sinto mais que abençoada por ter vc em minha vida, em nossa família! Privilegiada sou por dividirmos tantas alegrias,tantas realizações, por vivermos tantas coisas marcantes que nos tornaram mais que irmãos de sangue, somos almas-irmãs!
Obrigada por tudooooooo! Te amamooooooooosssssss!!!!!!!
TUDO DE MARAVILHOSOOOOO PRA VC, MEU IRMÃO,MEU AMIGO!!!!!!
E que venham muuuuitas reuniões festivas, muuuitas alegrias...Comemore muuuito o seu dia e muuuitos outros dias que virão!
Uhuuuuuuuuu e viva o Miiiiiiiii!!!!!!!
Bjosssssssss

A CONEXÃO COM O DIVINO: EU TE AMO, MÃE!



Passei a minha vida entre livros. Eles me foram bem-vindos desde sempre. Eles me trouxeram grandes aventuras, um certo conhecimento de coisas e de pessoas. Abriram-me portas, deram-me aconchego físico, emocional, material e espiritual. Eles me deram alegrias e um descortinar de novos olhares. Eles muito contribuíram para que eu mergulhasse no mundo de cabeça, para que eu ingressasse nos grandes mistérios da vida, fomentaram-me o prazer de incríveis descobertas, trouxeram-me ferramentas preciosas para que eu driblasse tempos difíceis, foram companheiros de jornada,jornada esta entremeada de momentos de prazer outros de melancolia, perplexidade, deslumbramento, fuga...curiosidade, sede de saber, de entender o universo que me rodeava.
A leitura sempre me transportou a um prazer indescritível...lia de tudo, sem preguiça, sem que meus olhos se cansassem. Letras me fascinavam, o cheiro dos livros me aguçava os sentidos.
Paralela à leitura veio a busca pelo entendimento espiritual . Procurei todas as religiões...doutrinas...todas que via pela frente.
Busquei a Psicanálise. A Filosofia. A mitologia. O extrassensorial. O misticismo.
Milhões de questionamentos povoavam a minha cabeça...havia nela sempre muito mais perguntas que respostas, depois de densas leituras.
Então, houve um dia em que resolvi dar uma pausa. Houve um dia em que me dediquei à música. Houve um tempo em que resolvi viajar. Houve um tempo em que me dediquei a amar. A me doar, a compartilhar conhecimento. E sentimentos.
E comecei a gostar mais de gente.
Houve um dia em que, sem mais questionar, apenas deixei –me esvaziar de todos os meus “contéudos” e me despi dos rótulos. E deixei fluir em mim –verdadeiramente – o meu Eu , fortalecido ,então, pelo tempo que me trouxe discernimento, maturidade...e as inquietações se abrandaram.
Fiz o tempo trabalhar a meu favor. Dei sorte. Consegui fazer as pazes com o passado e guardei dele o melhor. Vez ou outra eu aceno pra ele – apelando apenas a coisas( e sentimentos) melhores- pra me abastecer de boa energia e seguir em frente. Vislumbro o meu futuro no meu hoje, meu presente.
E, principalmente, descobri – na prática – o exercício do bem- amar através da liberação do Perdão e da Gratidão.
E veio a mim, digamos, uma Libertação. De tudo o que não mais fazia falta pra mim. E também do que me fazia mal. Fiquei com o que realmente me importava. E isso me trouxe paz interior, muita paz – mesmo que tudo a minha volta esteja em outra sintonia, destoando dessa minha paz. Isso, consequentemente, me trouxe um outro conceito felicidade.
Foi vital seguir em frente, sem mais questionar.
E veio a mim a resposta. Eu estava, então, preparada para receber o Reino que me era oferecido pelo Deus que habita em mim. Foram embora supostas crises existenciais e questionamentos que não me levariam a mais nada de tão concreto, explicável, justificável. Para muitos, tal atitude pode ser chamada de alienação, nulidade.(?rsrs)
Presenciei em minha vida, então, bruscas mudanças, rompimento com velhos padrões de pensamento, de atitudes, o rompimento com ultrapassados paradigmas. Recebi graças, recebi bênçãos...na mesma proporção, na mesma intensidade da minha vontade, da minha busca, da minha fé!
Experiencei, vivenciei, conectei-me com o Divino. Silenciei. E passei a me ouvir, a ficar atenta aos "sinais" - os pequenos grandes milagres que se operavam em minha vida - e a me (re)descobrir... me reinventei. Me reencontrei com Deus. (Re)aprendi a orar, a conversar com esse meu DEUS que em mim reside!
E tudo me foi revelado. E tive as respostas que busquei a vida toda para aquilo que me era crucial.
Houve Pessoas – várias- as tais “pontes”indiretas, anjos intercessores de Deus que viabilizaram esse dolorido,porém libertador processo ...Michel , Tio José Honorato Fozzati.Edina, Tere, Jorge, Soraya, Janete, Chafia, Vinícius.
E o clichê “Vc muda e o mundo muda à sua volta” ,hoje,cabe certinho em mim.
Tudo o que hoje escrevo, tudo o que hoje sinto, o que hoje sou - e o que supostamente tenha ficado nas entrelinhas- eu o dedico à motivadora primordial, o resultado desse meu entendimento , do meu conflito Maior , da minha busca que perdurou durante toda a minha existência: Minha Mãe.
Com ela, por ela, através dela, descobri o significado profundo do PERDÃO e da GRATIDÃO.
OBRIGADA, MÃE , POR SEU ACOLHIMENTO. POR TER ME DOADO O MELHOR DE VC. POR SUA GENEROSIDADE, OBRIGADA POR SEU PERDÃO!
POR ME RESGATAR. POR ME FAZER VERDADEIRAMENTE ENTENDER O ÓBVIO. TE AMO MUITO!
VALEU, DEUS!

Às nossas queridas meninas,



Vocês fazem parte da nossa história, da nossa família desde sempre. Parceiras, amigas, companheiras na alegria, na tristeza, vocês sempre estiveram ao nosso lado, prontas para nos ouvirem , pra nos acudirem... sábias meninas: mãe e filha. Maria e Tânia.
Muitas coisas para contar, para recordar, para compartilhar.
Com vocês, nossa vida, nossa rotina sempre ficou bem mais leve. A boa vontade, a disposição e a alegria de vocês nos conforta, nos emociona, nos fazem gratos pra vida toda.
Desejo a vcs, amadíssimas, um Feliz Natal, Um Feliz 2015! E que venham muuuitos anos juntas conosco nesta caminhada que vocês-com competência, carinho e dedicação-, têm abrilhantado com essa Luz que irradia de vocês!
Que Deus continue as abençoando com muita saúde, muitas bênçãos, muitas realizações!
Obrigada por tudo o que vocês têm feito por nós...Hoje e sempre!!!!!
Abraços carinhosos meus e de toda a família Gimael!
E viva a Maria, viva a Tânia! Uhuuuuuu!!!!Amamos vocês!!!!!
               
Para a nossa  querida Tia  Chafia


Eu tenho uma tia descendente de libaneses e , como tal, mantém certas tradições, comportamento e jeito típicos que “delatam” a sua origem.
Voz macia, olhos miúdos, gestos delicados, postura elegante,  é  uma moça com uma linda “estampa árabe”, que hoje faz 75 anos.
Pessoa quase silenciosa, com olhos expressivos que falam por ela, amada por todos que a conhecem em Cosmópolis.
É presença marcante em minha vida, na vida de muita gente, especialmente na de muitos jovens, que passavam tardes e noites gostosas na casa dela, em Cosmos, em sua companhia, na  de seu marido, tio  Jorge Baracat  e  dos seus filhos - Jorginho, Yara, Meiri e  Zarif - , sempre rodeados de um bom carneiro e  de uma muito bem preparada comida árabe, feita sábia e competentemente por ela.
E  tudo ali era coloridamente salpicado de uma ótima conversa, boa bebida,  boa música, ótimo astral.
É a única irmã de meu pai. É  uma amiga confidente e  sempre me tratou com carinho, com uma atenção desmedida.
Nos últimos tempos tem vivido uma saga, percorrendo uma verdadeira via sacra, enfrentando toda a sorte de  desafios e saindo vitoriosa de todos eles , com maestria. Mesmo bastante debilitada por conta das cirurgias, tratamentos, hemodiálise, ela mantém a fé, não enverga, tem o coração sempre transbordando de amor, apaixonada pela vida, pela família.
Não é de pregar a palavra, de demonstrar  sentimentos com afetação, não faz alarde de si mesma e dos outros. É  reservada e...sábia, extremamente sábia! Tem o  seu charme, o seu algo mais : ser discreta, falar e se calar nos momentos certos  -  na verdade, mais ouve que fala. Isso pra mim é ser elegante, é ser chique.
Eu a admiro, eu a amo, eu desejo pra ela muitos anos de vida...Ela é uma presença marcante, necessária, indispensável em nossas vidas.
Saudade de vc, tia , do seu jeito calmo de ser, da sua ferrenha vontade de viver, dos seus “toques” sábios, da sua comida – ah, sua esfiha, seu quibe de bandeja, meu Deus, é de arrasar!
Te amamos ...Feliz Aniversário, nossa querida Tia Chafia...muuuuuuitos anos de vida, muuuuuuitas alegrias...em breve estarei aí pra te dar aquele abraço.
Beijos carinhosos
Da sua sobrinha que muito te  admira.
Nossa grande família em passeio

Querido Dilmar...

Dilmar Martins, um dia vc chegou na loja do meu pai e, sorrindo, me entregou um liiindooo girassol ! Eu agora devolvo um montão deles pra vc...e que Deus te acolha como vc um dia me acolheu - lindamente!-, entre canções e mimos, em todas as vezes em que vc ia até nossa casa, sempre com um altíssimo astral, com muito boa conversa...siga em paz, agora liberto de todas as suas dores e sendo muito bem assessorado por muuuitos anjos! Bjos saudosos


Cosmópolis, 15 de abril de 2010.
QUERIDO AMIGO RODOLFINHO,

hoje faz um mês que você se foi,  faz um mês que você se libertou das dores, do sofrimento.
Você, com sua alma musical,  deve  estar flutuando no paraíso que lhe é cabido, cercado de anjos entoando melodias transcendentais ao som de harpas e flautins.
Pensar em você é ter de volta o cheiro da infância. Em “Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, o personagem protagonista do livro viaja através dos cheiros para resgatar alegrias antigas.
Viajo agora através de você, mistura de cheiros e “sabores” de ternura, alegria, sensibilidade, coragem, refúgio seguro onde me abriguei centenas de vezes.
Passamos a infância toda juntos, você tentando em vão apartar as brigas entre mim e o Zinho, você e eu com D. Estela e D. Nena entre solfejos e acordes ao piano, tocando Chopin a quatro mãos.
Quando angústias e sonhos apontavam na adolescência e juventude, lá estava você por perto,. E lá estávamos nós conversando por horas a fio na esquina do Itaú ou sob o sol escaldante no Paredão...
Ouvíamos Janis Joplin, identificávamos com a intensidade da voz dela; amávamos as letras, a melodia e o que ela representava: a ruptura com a acomodação, com a mesmice, com a hipocrisia.  Você  me deu o “bolachão” de vinil dela e, agora, no final da sua caminhada eu lhe dei o livro autobiográfico. Seus olhos brilharam intensamente e, mesmo sob o efeito da morfina, você sorriu e me disse: “ A qualquer momento as dores passam e eu lerei, com certeza!”
Era 16 de dezembro, eu estava indo pra praia. Foi a nossa despedida se é que podemos chamá-la assim.
Você foi mais que um amigo, foi um irmão. Você fez parte de muitos momentos importantes. Você foi o primeiro a saber da minha gravidez, o primeiro a dizer: “ Vá em frente, mulher, você é capaz, assuma seu poder, impossível não dar tudo certo!”...
Você participou das festas de aniversário do meu filho e na primeira delas foi você quem fez o bolo (de morango) arrasador para 150 pessoas. Ele cresceu  ouvindo  eu falar de você...
Comemorávamos, sempre que  podíamos , as pequenas conquistas, as grandes vitórias.
A você, confiei “segredos” que você levou consigo pra eternidade. Com você, ri, chorei,desabafei, viajei.
Tivemos nossos “altos e baixos” parecidos, identificávamo-nos com muitas coisas, exceto por você não curtir o lado “natureba” da alimentação. Você não conseguia entender como eu conseguia comer tantas maçãs (6 a 8 por dia!) com semente, casca  e tudo...
Você não quis me devolver a foto 3X4 em que apareço estrábica (vesga mesmo!). Você sempre me dizia que quando eu aprontasse alguma você entraria com ela em cena pra “arrebentar”.
Nos últimos anos, afastada de Cosmos, encontrávamo-nos esporadicamente ora em Paulínia ora em Cosmos em reuniões entre amigos e familiares e aí, eram horas de papo e papo.
Você estava feliz com suas realizações, mais centrado do que nunca, mais forte do que nunca, haja vista a luta que você travou pela vida.
Depois, mesmo debilitado, incentivava-me dando os seus puxões de orelha, ria comigo, ríamos de tudo que tinha ficado pra trás de ruim e comemorávamos onde havíamos chegado – a duras penas.
Falar de você é sentir você plenamente comigo, é saber que tive o privilégio de ter por perto um guardião querido, um herói – menino que, por onde passou, deixou luz, deixou carinho, deixou a essência maior: a tradução plena do amor incondicional ao próximo!
E ainda conseguiu me dar de presente a possibilidade de rever pessoas queridas em sua partida, deu-me a possibilidade de “rever” o meu passado e a oportunidade de prosseguir com outros olhos.
É isso. Você é assim...um anjo inundando luz por onde passa.
Até a qualquer momento, meu doce, adorável e inesquecível amigo,  presentaço de Deus pra mim!!!!
Abraços cheiinhos de muuuita saudade!!
De  sua eterna amiga
Rosana  Cristina  Gimael

Meu querido amigo e eu

Tia Chafia, eu e minha mãe, D.Cida
Inspirada pelas "meninas da minha terra"...
PARTE I - Cosmópolis
PESSOAS QUE MARCAM PRA SEMPRE!
BEL E LENA; LINDAS MENINAS
Elas são irmãs, são parceiras na vida, na garra e na determinação. Essa parceria é linda de se ver, de se sentir! E é a lembrança dessas duas incríveis meninas, amigas queridas que, hoje, nesta madrugada fria, me inspira. Ambas são do elemento Terra, o que traduz senso de justiça, perseverança, solidez, resistência , disciplina e, principalmente, os “pés no chão”, arraigados a suas origens.
Eu as conheço há muito tempo, desde sempre: dos tempos de Usina Ester, na colônia, em tempos de Paredão; depois na “vila”, em Cosmópolis, em bailes e festas. E, com elas, dividi muitos bons momentos!

Elas são filhas de Domingo – por ter nascido em um domingo, fora assim batizado o pai das meninas - e de Helena, progenitores descendentes de italianos, de cujas famílias de imigrantes se fizeram em Cosmópolis.
Domingo, mais conhecido como Seu Tote, o severo pai, com uma certa rudeza nas atitudes e comportamento - um “turrão”, “um cabeça-dura” para uns; grosseiro ou “casca-dura” para outros –deixaria rastros indeléveis na educação dos filhos (elas também têm um irmão, o Juca ) pela intransigência, pela severidade, pela ausência de sutilezas no trato com os filhos, pelo jeito inflexível de ser: uma pessoa emblemática, figurinha carimbada em muitos “causos” da cidade. Chegam a ser cômicos os relatos sobre ele, tamanha a “sisudez” desse senhor. Mas, a despeito dessa não-demonstração de seu afeto para com a família , Domingo sempre foi um homem trabalhador-nesse quesito, inquestionável, muito bom profissional!
Helena, a mãe, contrapõe ao pai com sua leveza de ser, com sua doçura, com seu jeito terno de ser. Sempre engoliu seco as “má-criações” do homem que escolhera para ser seu companheiro até que a morte os separasse. Helena, de nome inspirador, que poderia nos remeter “ a mulheres de Atenas”, a Helena do Domingo- sim!-, também poderia servir de inspiração para poetas, músicos e também musa em centenas de versos de tantas canções ou protagonista de grandes histórias. Caberia muito bem a essa mulher tão querida, tão humana, tão sábia e, principalmente, batalhadora vitoriosa, todas as deferências e reverências.
OS PAIS DAS MENINAS:  SEU TOTE E DONA HELENA
Pois bem, então as meninas cresceram e, entre tantos espinhos e algumas certas ciladas do Destino, seguiram elas determinadas com Fé e, principalmente, alimentadas pelo Amor de Helena. Em alguns momentos foram mal interpretadas; em outros, discriminadas. Porém, seguiram elas pela vida, sendo coroadas pelo êxito de realizações inúmeras.
Tornaram-se lindas mulheres não só na aparência – elas arrancavam suspiros por onde passavam!-, mas em suas lindas essências cristalinas que, ao nosso primeiro “olhar além”, transmitem generosidade, compaixão, solidariedade e, principalmente, a sensação de meninas muuuito do bem! Estudaram, formaram-se excelentes profissionais, viajaram pelo mundo, vivenciaram situações lindas. Hoje são respeitadas, admiradas – e, por vezes, até invejadas! E o melhor de tudo: ainda preservam o mesmo jeito de ser e de sentir a vida.
As meninas – haha – são elas, as irmãs Gagliardi, a Izabel e a Maria Helena. Pronto, falei.
A Izabel – Bel - tem um jeitinho meio turrão – ih, acho que é do Seu Tote- que funciona como escudo pra se defender de outras possíveis “ ciladas”, mas sempre foi doce, sensível demaaais da conta! E, com todos os desafios a ela impingidos, tem se saído muito bem em tudo a que se propõe fazer. O jeito dela que, às vezes, pode traduzir uma certa melancolia ou uma certa tristeza ; talvez tenha a influência maior de Saturno (o planeta que rege o seu signo) que possui a estranha mania de conduzi-la ,por vezes, a um comportamento restritivo-pessimista podendo levá-la a uma certa introversão ou isolamento. Nada que Mercúrio, o que rege o signo da Maria Helena, não possa amenizar já que esse planeta, mais próximo do sol, representa a infância com seu transbordamento de vitalidade e ação!
A verdade é que essa menina, a querida Bel, tem um poder que ela nem desconfia que tem. E o magnetismo que ela exerce sobre as pessoas ao redor dela é algo encantador! (E, a qualquer momento, quando ela estiver pronta, muitas lindas surpresas serão lançadas em seu caminho).  
LENA E  BEL: BELAS E ADMIRÁVEIS MULHERES

A Maria Helena - Lena - é a outra menina por quem tenho grande admiração. Ela me acompanhou mais de perto em tempos áureos e, juntas, vivenciamos grandes momentos de uma época muito bem vivida.
Tem um fato que me marcou. Foi em uma ocasião em que certa forasteira, “travestida” de colunista social , disparou aos quatro ventos que ela era uma “DESLUMBRADA” – ao que ela não rebateu, apenas baixou o olhar. Sofreu calada a injúria. E o tempo provou quem era quem. Ah, o tempo, o grande senhor da verdade! E pra que rebateria Maria Helena, digna e sábia, se a vida deu a ela o que a maioria desejaria ter, tempos depois?
Hoje ela tem uma linda família-sua herança, sua bênção maior- e, a despeito de qualquer coisa que se questione, resgatou tudo o que a vida, um dia, havia lhe negado.

A simplicidade, a humildade e a honestidade dessas meninas são tocantes. É o que me encanta , o que me inspira. Pode o tempo passar, ,ficarmos anos sem nos falarmos mas quando nos reencontramos, nós nos reconhecemos – quer sejam pelos lindos momentos ou por outros não tão lindos que vivenciamos, mas sempre por laços que nos remetem a uma certa cumplicidade e admiração. Sempre!

Ah, não posso terminar sem mencionar aqui que o Juca saiu-se uma pessoa admirável!
Não é que a “mistura” do Sr. Domingo -Seu Tote - com a D. Helena rendeu lindos e bons frutos? Ué, não é “pelos frutos que se conhece a árvore”? Pois, então, constatem vocês aí se assim não é?
E essas meninas seguem juntas, mais unidas do que nunca, solidárias a causas nobres, meninas com sutilezas de alma, meninas de atitude! Pessoas que sabem a que vieram!

Meninas da minha terra...pessoas que, por onde passam, marcam pra sempre!

2 comentários:

  1. Há muitas coisas pra recordar dos tempos em Cosmópolis...aos poucos vou postando!

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  2. Como já é sabido por todos o ser humano teve sempre uma vontade especial de viajar no tempo. Mesmo com tanta tecnologia nos dias de hoje ainda não conseguimos. Não tem problema, pois existem alguns destes seres humanos com um dom incrível de, através do coração da mente e das mãos, transportarem a gente para um passado onde revivemos tantos momentos inesquecíveis e revemos pessoas que ajudaram a construir nosso caráter e personalidade. Tenho a sorte de que uma dessas "Donas da máquina do tempo" seja minha prima Rosana que adicionando seu toque de sensibilidade consegue transformar palavras no principal combustível do nosso transporte para outras épocas. Fantástico. Prima querida, parabéns pelo seu dom de valor inestimável e por, com mestria, fazer tão bom uso dele. Com amor, do seu primo Jorge Baracat (vulgo Jinho 🙂) 🌹❤️😍

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