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enho a música como a
expressão máxima de um estado de alma, a melhor
tradução de um canal de comunicação
extrassensorial entre as pessoas que têm
uma percepção muito além da imagem aparente das coisas ao redor.
A linguagem musical muito cedo se apossou de mim. Desde o
assoviar contínuo da minha mãe, entoando
trilhas de músicas de filmes da década de 50 - enquanto cozinhava - às batucadas do meu pai sobre a pia do banheiro, ao amanhecer , durante a minha mais tenra
infância, passando pelas festas na casa de minha avó Dinorah, casa cheia de
italianada varando madrugadas - regadas à Jovem Guarda - às aulas particulares
do meu Tio ZéNato, que ensinava
matemática em casa, sob o som da bossa-nova, apresentando-me Nara, Chico,
Caetano, Gil, J.Gilberto.
Depois vieram Beatles, Rolling Stones, Gênesis , Pink Floyd e outros estilos de rock mais pesado, todos eles apresentados
pelo meu tio Jorge Baracat, um
descendente de libaneses à frente do seu tempo,
período intercalado por Luiz Gallani e seu conjunto, Rage Baracat,
Paulinho Tavano e meu tio Rubens Gimael , eternamente
acompanhado de seu sax.
E , paralelamente, veio o piano, com quem tive afinidade
imediata, assessorada, a princípio pela
D. Stella Tavano e depois pela Maria Ignês Scorsoni, maravilhosa pessoa (e paciente
professora!) com quem aprendi tantas
lindas coisas. Meu namoro com esse instrumento durou quase duas
décadas. E foi, nesse período, que fiz minhas incursões pela música clássica,
que aprimorei meus ouvidos, que viajei por lindos caminhos,
descobrindo melodias e partituras que me faziam sonhar e sonhar.
Fui crescendo acompanhada de meus primos e primos da minha
mãe extremamente musicais que atravessavam dias e noites em nossos
encontros, embalados pelo violão ( ocasiões que também estimularam
meu irmão Michel a iniciar-se nesse
instrumento) e, logo após, pela minha tia Célia, com sua voz
poderosíssima e performance única que
abrilhantava nossas festas.
Depois vieram as nossas viagens na Kombi do meu
Tio Jorge devidamente
acompanhadas por uma trilha sonora impecável, deliciosa ... “viajava” sob o som
das músicas através da janelinha, vendo os azuis, os verdes, a vida que se descortinava além do
horizonte... e sonhando sempre!
E seguiram-se os romances, os bailinhos na garagem, no CFC, as inúmeras viagens, a gravidez e todos os eventos que se tornaram marcantes através
de uma melodia, de uma canção que me
transportava para um universo mágico, que me inspirava - o que sempre me fez
levar a vida com certa leveza e muita
alegria.
Não há um casal que não tenha uma
música-tema para o seu relacionamento. Se não houver, então não há sintonia de
romance. Não há uma viagem fascinante sem uma boa trilha sonora que perpetue em
nossa memória, que nos remeta a emoções
e sensações vividas nos momentos pra
lá de especiais ou àquelas que sempre
associamos a pessoas por quem nutrimos carinho, afeto, amor.
Aqui, no sul, chove, venta – eu
diria que mais parece um vendaval -, faz um frio danado. Me preparo para as próximas horas para uma viagem de
carro, um percurso com duração de mais ou menos
14 horas. Sozinha. E preparada. Sim, organizei, previamente uma seleção de mais de mil músicas que farão
dessa viagem uma conexão com o divino. Nada a temer. Apenas sentir e
sentir. E viajar e “viajar”. Acho que os
meus tios e meu pai amariam ouvir essa extensa coletânea . E com
certeza, reverenciariam essa minha trilha sonora.
(...)
E que todos possamos fazer da vida
a melhor ( e a mais harmônica!) melodia para os nossos ouvidos!
E
que venha a vida... Lindo dia a todos!