Se os homens realmente soubessem o quanto as pequenas coisas fazem a grande diferença para uma mulher!
Ao olhar para o espelho, Ana
deu um berro :“Meu Deeeeuuus, essa, definitivamente não sou eu! O que foi feito
de mim? Daquela mulher “viçosa, com pele de pêssego”, olhos e cabelos (fartos!)
brilhantes?”
Aquela imagem refletida no
espelho, logo ao acordar, remoeu-a durante toda a manhã. Era o Dia dos
Namorados. E ainda naquela semana, ela teria duas festas para ir. Ela queria
estar bem. E estar bem ,para ela, era estar devidamente aparentável, desejável.
Contava ela com seus cinquenta anos e não queria aparentar menos; apenas queria
que os seus cabelos não estivessem opacos , com aquela aparência de vassoura,
eriçados. Apenas queria que os sulcos e as rugas em seu rosto não fossem tão
salientes (e evidentes!), que não denunciassem as noites mal dormidas ,os
excessos, os abusos cometidos - bebidas ( ah, a bendita caipirinha!) cigarros,
frituras (ah, a bendita mandioca e o bendito torresmo!) - nem denunciassem a
ansiedade por aquele moço tão disputado e a quem ela dispendeu longas noites de
sedução e empenho para dele arrancar suspiros e algumas “garantias” de amor
explícito ou qualquer tipo de arrebatamento que pudesse fazer dela uma mulher
única, realmente amada! (?)
A única certeza que tinha é
de que precisaria brilhar, ou melhor, ofuscar todas as outras mulheres ao seu
redor. No fundo era isso que realmente desejava Ana. E, para tanto, o momento
de agir era agora, já!
Estava desprovida de
recursos financeiros, pois sempre gastara mais do que ganhara. Tivera que abrir
mão de bons cremes, bons produtos de maquiagem, boas roupas para poder morar
bem, alimentar-se bem - ora, a pele não revela a saúde do corpo, a boa
nutrição?
E, assim, começaria
ali,naquele momento, com toda a sua inerente versatilidade e criatividade, a
batalha por ela travada para tentar reverter o “ pavoroso quadro”.
Naquele dia, ela receberia o
tal rapaz em sua casa. Era a “Noite” dos Namorados!
Foi até a cozinha, separou
duas claras de ovos ligeiramente batidas e juntou-as à pasta de argila verde
que tinha, costumeiramente, em seu armário. Colocou-a sobre a face. Essa tal
pasta costumava operar milagres em sua pele. Melhor, funcionava momentaneamente
como uma eficaz substituta de qualquer intervenção cirúrgica que melhoraria a
estética e a deixaria fantasticamente reluzente. Despejou também sobre os
cabelos uma mistureba de cremes, ampolas de vitamina, abacate amassado, as
gemas dos ovos anteriormente separadas das claras e fartas colheradas de um bom
azeite. E foi aos afazeres. Enquanto deixava a casa um brinco para receber o
homem amado, idealizava, fantasiava cada futuro momento que vivenciaria naquela
semana. E enquanto esfregava aqui e ali, deixava-se embalar por melodias
românticas que mexiam com seus sentimentos, deixando-a mais sensível do que
nunca. E , assim, passaram-se as horas. Já eram cinco da tarde. Ela passara o
dia com frutas para atenuar o inchaço, na vã tentativa de afrouxar um “pneu”
(bastante calibrado!) acima da linha da cintura. E bebera muita água para ”
lavar ( e levar embora!) todas as impurezas”. O recomendado era deixar as tais
máscaras tanto da pele quanto a do cabelo agindo por vinte minutos. Ela
resolvera deixar mais tempo para que surtissem um efeito muuuito melhor. Pois,
bem. Já era hora (passava da hora!) de tirar toda aquela parafernália. E, ao
término da faxina, lá foi ela resgatar a cútis sonhada e o brilho da cabeleira
farta.
Resolvera, inicialmente,
tomar uma ducha gelada - seria perigoso para o corpo e rosto receberem um
choque térmico, já que estava toda suada? Quem sabe todos os poros, todas as
células levassem um susto, acordassem ( ou seriam ressuscitados?) e dessem a
ela um novo frescor, pensava ela agora, animada. Esfregou todo o seu corpo com
óleo de amêndoas e sal grosso, esfoliando ligeiramente todo ele com essa tal
gomagem , para ativar a circulação e proporcionar-lhe uma pele tipo bumbum de
neném. Lavou os cabelos. Constatou que o cheiro do azeite e dos ovos impregnara
os fios. Tentou tirar a máscara facial. Ela simplesmente colara em seu rosto!
Seria a tal clara a “cola”, uma espécie de argamassa? Meu Deus...campainha da
casa tocando agora? Nada da máscara "descolar". Campainha insistente.
Ela começou a se deseperar . Olhou para o espelho e se viu como uma bruxa
aterrorizante. Foi atender daquele jeito mesmo. E encontrou um entregador
diante dela com um imenso buquê de rosas cor-de-rosa junto a um cartão: “Com
todo o meu amor, pra vc! Até às 9! Bjos.. Paulo.” Por um momento, pensou não
serem para ela aquelas rosas. Afinal, rosas dessa cor, pelo que sabia, significavam
amizade, mas ao constatar o cartão com letra conhecida e o nome mais que
familiar,a dúvida se dissipara. O rapaz diante dela a olhava entre surpreso e
curioso, para não dizer um tanto assustado com o que se deparava à frente dele
tkstkstks. Ela lhe agradeceu, engoliu seco, fechou a porta atrás dela e voltou
para o espelho com o coração aos pulos, num misto de raiva e decepção! “ Não
pode ser... rosas cor-de-rosa! Ele quer apenas amizade comigo , depois de
tuuudooo? Mas ele me chama de amor! Ele me paga, isso não fica assim! E agora
esse rosto, esse cabelo...”
Olhou para o aparador onde
já colocara fina toalha, talheres, pratos e arranjos que denotavam gosto
refinado. Abriu a geladeira. Lá estavam as comidinhas feitas por ela para o seu
amado. Voltou à toalete para dar um jeito no visual. Após inúmeras tentativas,
com o rosto em chamas, cabelo ressecado de tantas lavagens, corpo um tanto
"esfolado" e com um péssimo humor, começou se preparar, agora a
contragosto, para receber o tal rapaz. Faltavam quinze minutos para as 21h
quando Paulo apertara a campainha. Ela acabara de se arrumar. Ao abrir a porta
o avistou, entre meios-sorrisos a perguntar-lhe , ao mesmo tempo que tentava
beijá-la, se ela havia gostado das rosas, ao que súbita e inesperadamente, ela
apenas arremessou, num frenesi, o tal buquê contra o atônito rapaz que não
conseguia entender a inexplicável e um tanto violenta reação de Ana, que agora
ia lhe despejando palavras duras e cerrando a porta na cara dele. E lá se fora
a noite pro ralo e rosas pro alto.
(...)
Naquela mesma semana, após a
tal noite, Ana fora encontrada por amigos se esbaldando nas pistas de dança em
privilegiados eventos. Fora alvo de muitos elogios e de grandes e
entusiasmantes aproximações de pessoas bem interessantes. Ganhara ela uma base
(make up) em 3 dimensões de sua amiga a qual fizera milagres em seu rosto; sem
contar o batom vermelho-madonna, importado, milagroso preenchedor de lábios
murchos. Seria isso a lhe dar tanto poder, tanta segurança a ponto de esquecer
o incidente anterior, o da tal noite fatídica, frustrante? Confiante estava ela
e, talvez por isso, era dotada agora de um estranho poder que a fizera a mulher
mais disputada em seu meio. Esquecera-se por preciosos momentos de que,
ocasionalmente, ela se sentia uma” balzaca mal passada”. Rsrsrs.
Quanto ao tal Paulo,
soube-se depois que ele, ao desabafar com uma amiga, questionou-a sobre o
estranho comportamento de Ana . Essa amiga esclareceu a ele que rosas cor- de-
rosa expressam amizade, ou seja, um tipo de demonstração imperdoável para uma
mulher supostamente apaixonada. Paulo, um tanto desnorteado e também desolado -
como taaantos outros homens costumam reagir a essa situação - , apenas
conseguiu balbuciar "como é difícil entender as mulheres"!
(...)
Talvez o que Paulo não saiba
ou nunca pôde entender, caros leitores, é que mulheres não foram feitas para
serem entendidas. Mulheres foram feitas apenas para serem amadas!
E, apesar de ser mais um
clichê de um anônimo, é a pura verdade! E aqui, complemento, meus amigos, que
também nasceram elas para serem admiradas, valorizadas e, sobretudo,
respeitadas! E tantos outros “adas”...não é?