E, com vocês, o genial
“trovador”, Zé Ramalho!
E
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ra exatamente meia-noite
quando pisei naquele recinto, sob um frio ártico, garoa fina e a estridente
voz do locutor anunciando: Com
vocês, Zééééééée´ Ramalhooooooooo!!!!!
Uauuu! Cheguei na hora, sem
nenhum contratempo, vaga perfeita para o carro, multidão civilizadíssima -
coisas do sul¿ E, de repente, cessou a chuvinha besta.
Já havia ido a dois shows
dele. O de S. Thomé foi surreal, tamanha a energia que dele emanou e se
espalhou pela multidão. Não perderia
este por nada. Amo esse homem, cujas
canções me embalaram as tardes em Cosmos quando, das janelas envidraçadas da
casa de minha mãe, eu mirava o Morro Castanho, sonhando com novos horizontes, decifrando as letras de
suas músicas, imaginando no que este homem se inspirava pra dizer o que
dizia...Beeeem depois vim a saber. Mas isso fica pra uma próxima crônica!
E ali estava ele, um nordestino desprovido de uma bela estampa,
mas com um carisma descomunal, elegante
em todos os sentidos. E ali, no
gargarejo, estava eu e Zeus, cantando e dançando todas as suas (16) músicas, sendo abduzidos pra outras galáxias, viajando em e com as
suas melodias.
“Rebuscando a consciência,
com medo de viajar, vejo um velho cruzar a soleira de barbas longas: é o meu
velho e indivisível Avorai...avô e pai. São os olhos, são as asas de Avorai”, mas
poderiam ser do meu querido vô NATO – sem as barbas longas –
que tão sabiamente nos
conduzia a novas descobertas, nos lindos tempos de Cosmos.
“Eu desço dessa solidão e
espalho coisas sobre o chão de giz, há meros devaneios tolos a me torturar...
eu vou te jogar num pano de guardar confetes”... e lá vêm amores represados, sufocados, mal vividos,
não correspondidos.
“Eu entendo a noite como
um oceano que banha de sombras um mundo
de sol, aurora que luta por um arrebol de cores vibrantes e ar soberano... além, muito além do que quero chegar caindo a
noite me lanço no mundo, além do limite
do vale profundo que sempre começa na beira do mar”...sempre o mar, feito
esfinge, pronto pra ser decifrado ou nos
devorar.
“Ah, eu não sei se eram os
antigos que diziam em seus papiros que
nas torturas toda carne se trai”...as
torturas que as engenhosas paixões(tão irracionais) nos trazem e os sorrateiros
trancos do destino para os que não conseguem suportá-los (ou superá-los!).
“Foi um tempo que o tempo não esquece ...que os trovões eram roucos de se ouvir e todo o céu
começou a se abrir numa fenda de fogo” ... pode
nos remeter à busca incansável da
espiritualidade. “E o poeta inicia a sua prece, escrevendo seus novos mandamentos na fronteira de um mundo
alucinado,cavalgando agalopado e
viajando com loucos pensamentos” ...e lá
vamos nós, viajantes, em uma profusão de dúvidas que balançam nossas
crenças, que nos reforçam as iminentes
crises existenciais.
“Sete vezes eu me
ajoelhei na presença de um ser
iluminado, como um cego fiquei tão ofuscado ante o brilho dos olhos que olhei...mas a mente talvez não me atenda,
então eu prefiro um galope soberano à loucura do mundo me entregar” ...vai
consolidando minhas impressões sobre o mundo e descortinando as janelas da alma.
“Acho bem mais do que pedras na mão dos que vivem calados,
pendurados no tempo, esquecendo os momentos, na
fondura do poço, na garganta do fosso, na voz do cantador ...e virá como
guerra a terceira mensagem e na cabeça do homem, aflição e coragem...afastado
da Terra, ele pensa na fera que o começa
a devorar”...E, então, incorporo o
verbo, me aproprio da Palavra, me jogo no Apocalipse.
“E se o teu amigo, o
vento, não te procurar é por que multidões ele foi
arrastar”...e, romântica que sou, à procura dele pra sentir o rosto açoitado por ele, o vento,
que tudo arrasta, que tudo traga, que revira cabelos e pensamentos.
“Baby , dê- me o seu relógio que eu quero saber
quanto tempo falta pra eu lhe esquecer
...baby, nossa relação acaba-se assim
como um caramelo que chega -se ao
fim” ... estabelece a intensidade,
incongruências e finitude dos relacionamentos- se bem que o contexto pra ele é
bem outro, dada a sua vida pregressa- mas o que importa¿ E continuo
a viagem através dos sentidos, do
extrassensorial “apanhando na
beira-mar um táxi pra estação lunar...surge a
bela, linda, criatura bonita, nem menina nem mulher e pelo fogo do seu corpo centelham raios de sol.”
E com “não admito que me
fale assim, sou o seu 16º pai,
criptônia desce em teu olhar e
foi no silêncio que se habitou...e de um cometa que se espatifou ao meio, surge um
asteroide pequeno a que todos
chamam Terra”... agora me transporto `ao mundo real, sonhando com a
ficção, “enquanto um olho cego vagueia
na multidão”.
E em transe, danço revisitando o passado com a serpente e a estrela... “ninguém tem
o mapa da alma da mulher ...não existe saudade mais cortante que a de um grande amor
ausente, dura feito um diamante, corta a
ilusão da gente”.
E de Menelau
a Lampião, de Helena de Troia à mulata da terra do condor, vai cantando(
e descrevendo com maestria!) “o feitiço
atrativo do amor” e encantando a todos
com lindas e memoráveis metáforas (“a mulher tem na face dois
brilhantes”) ...até o golpe fatal com
“mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor”. Uau!
E aí encerra o show, deixando a todos
extasiados, emocionados, arrepiados.
Uma hora e cinquenta minutos
de canções atemporais, prolongando as horas de encantamento, de momentos
inebriantes, de sensações
indescritíveis, despertando sentidos, emoções, arrebatando a multidão delirante.
Grande Zé brasileiríssimo
Ramalho, humildemente eu lhe peço toda a licença poética para aqui
despejar desencontradamente ( e ainda inebriada!) fragmentos de sua
poesia, de suas melodias que impregnaram todo o meu corpo, toda a minha alma!
Nada se compara a ir ao
show de um ídolo nosso
e estar tão perto dele!Uuuhuuuu!
Vida loooonga pra vc, Zé! Um
brinde à vida!
Click e se delicie com algumas músicas antológicas do Zé:
https://www.youtube.com/watch?v=wvZCI4e59Uk
Click e se delicie com algumas músicas antológicas do Zé:
https://www.youtube.com/watch?v=wvZCI4e59Uk
Mulher nova, bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor!
Arrasaraaaaam!