(Dulces recuerdos acerca de
un invierno remoto)
Eram os anos 80, exatamente
em 1981, na capital portenha, Buenos Aires. Anos de chumbo, anos de ditadura
ferrenha.
Uma jovem turista
brasileira, após ter sua bagagem roubada em um trem que a trouxera de San Juan
até ali, viu-se hospedada em um hotel próximo à Plaza Mayo e até resolver o que
faria- somente com a roupa do corpo, que era o que lhe restara-,decidiu por
conhecer cada canto daquela cidade com jeitinho de Europa. Comportamento típico
de uma jovem “desprendida” aos 22 anos. Foram 28 dias conhecendo as principais
cidades (e os pontos turísiticos mais interessantes) da América Latina, em uma
grande aventura, não tão programada por ela mas que, afinal, até aquele
momento, a despeito do “imprevisto”, tinha valido muito a pena.
E, ali, conhecera o filho do
dono do hotel onde se hospedara e seus dois amigos, um também argentino e o
outro, um uruguaio. Todos com a mesma faixa etária.
E, com eles, ela iniciara
uma linda amizade. E, junto deles, descobriu os encantos da cidade. Com eles,
desfrutou de lindos e inesquecíveis dias. E, através deles, desvendou mistérios
.E, juntos, puderam compartilhar segredos, alegrias e o encantamento pela vida.
Pois bem, naquela cidade,
ela se deslumbrou com as livrarias ( quantaaaas!) e cafés (ah, os tais
alfajores e o tal doce de leite... únicos!). Provou (e aprovou) a Picada, um
mosaico de sabores, resultado da mistura de frios da melhor qualidade; a
Empanada, muito parecido com nossos pastéis de forno; o Locro (ensopado de
milho, abóbora, feijão), o arroz Portenho ( cozido no leite e finalizado com
finos queijos); a medialuna ( similar ao croissant). Mas foi com numa Parrilla
tradicional, num "bodegon", que ela pôde antever, ao provar um bom
pedaço de carne naquela cidade, o quão inesquecível e saborosa seria também a
(outra) "viagem" gastronômica por lá.
A jovem amava viajar
sozinha, amava saber da cultura , das caracterísiticas peculiares do povo, da
arquitetura das cidades, da gastronomia e dos costumes locais e, principalmente,
de conversar, fazer amigos.
E foi assim...
Em La Bombonera, o estádio
"templo" , - cujo apelido se devia à sua forma retangular (disposição
vertical das arquibancadas) como a de uma caixa de bombons- , assistiu a um
clássico entre o Boca Juniors e o River Plate.
Entusiasmou-se com a
arquitetura da Casa Rosada, sede do governo.
Encantou-se por Palermo ( e
com o seu Hipódromo, onde assistiu ao "Derby"-Gran Premio El
Nacional).
Deslumbrou-se com a
elegância e sofisticação de La Recoleta - o bairro mais "parisiense"
de Buenos Aires, reduto da antiga aristocracia portenha.
Achou um charme San Telmo
com as relíquias nas galerias ou feiras de rua.
Maravilhou-se com o suntuoso
Teatro Colon, onde assistiu ao genial bailarino russo Mikhail Baryshnikov,
"um baixinho" de l,68m que voava no palco com o seu salto de 3 m de
altura, emocionando-a e proporcionando-lhe um verdadeiro espetáculo da mais
genuína expressão de pura arte.
Amou Caminito, um incrível
museu ao ar livre e o Museu de Bellas Artes de La Boca.
Apaixonou -se pelas
madrugadas geladas de julho quando transitavam a pé , os quatro juntos,
filosofando, rindo, divagando sobre assuntos mil frente ao Obelisco, na
histórica 9 de Julho e à Catedral Metropolitana, entre largas e arborizadas
avenidas. Depois, sucediam-se as descobertas de bares charmosos, cercados de
boa música- como não se render a um caliente tango? E durante as tardes, lá iam
eles às incursões ao Museu Nacional do Cabildo, após o tour ao rio Tigre,
Zoológico de Lujan...quanta coisa pra ver, sentir, vibrar.Quanta coisa pra
sonhar, pra viver, pra celebrar.
Formava-se ali - tinham os
quatro parceiros plena convicção disso- um quarteto para a vida toda. Pelo
menos, assim pensavam aqueles jovens idealistas.
(...)
Bem, a bagagem nunca fora
encontrada. Muito se fez para resgatá-la. Aí ela pôde entender a repressão pela
qual o país passava, quando precisou ir em busca de autoridades para que se
resolvesse o “extravio”( assim fora denominado!) das malas... muitos foram os
transtornos por conta desse episódio que, juntos, os amigos acompanharam
rsrsrs. Uma verdadeira odisseia!
Ela que, a princípio,
ficaria apenas por uma semana na capital, acabou ficando por lá mais 33 dias!
E, claro, junto ao trio.
Ao se despediram, prometeram
um ao outro se falarem constantemente, nunca se separarem...planejaram mil
coisas, quando e onde seriam os próximos encontros ...e com promessas e pactos!
Pablo, o mais sensível, o
mais musical era com quem mais se identificara. Todos eles, ao se despedirem,
verteram-se em emoções do mais puro calibre. Todos derramaram lágrimas e
lágrimas e foram tantos abraços longos, tantos olhares encharcados já de
saudades...
A princípio, sim, mantiveram
estreito contato, muito se falaram, durante quase dois anos! E ela, a
brasileira, continuou com suas viagens ali, acolá...De repente, o contato foi
se esvaindo ...nunca mais se falaram, nunca mais se viram, nunca mais souberam
uns dos outros.
Pablo - na despedida-, dera
de presente à jovem uma gravura feita por ele que se transformara em um quadro
pendurado na área da casa dela, onde lá se encontra até hoje, impecável.
Ele foi o que mais a
marcara...e,estranhamente, lembrava-se apenas do seu primeiro nome e do seu
codinome “Uruguayo”...nada mais.
Sempre se recordava de tudo
o que viveram naquele inverno gelado e tão caloroso, tão especial!
Eis que há alguns dias,
passados 33 anos (inspirador esse número!) de sua inesquecível estada em Buenos
Aires, em uma noite insone e gelada, ao abrir o Facebook, havia uma solicitação
de amizade de um certo Pablo. Aí, veio um filmezinho em sua mémoria, fazendo-a
reconhecer que era ele...Pablito, o Uruguayo!
Pura emoção e alegria esse
redescobrir de coisas tão ternas, tão lindas...
Pablito manteve a doçura no
olhar, o jeito sensível de ser. Hoje é veterinário – sempre fora um apaixonado
por animais! - mas nas horas vagas, exerce o melhor dele...faz as pessoas
levitarem com seu violão, com sua música! Como nos velhos e bons tempos da
Buenos Aires tão querida!
Quanto aos outros"
meninos", ela apenas sente que um dias se reencontrão ...porque, segundo
ela, a vida sempre nos reserva (e nos brinda!) com muito boas e gratas
surpresas. E o que é de verdade, é o que permanece. Para sempre.
(...)
Bem, talvez comece aqui uma
outra história. Mais uma, traçada pelo destino (quem pode saber?), que ficará
registrada em linhas (?) e em uma próxima ocasião! Porque agora, neste exato
momento, a vida me chama pra mais um mergulho profundo e, sem medo de ouvi-la e
sem medo algum de me afogar..lá vou eeeeeu!!!! Uhuuuuuu!