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entou-se ao meu lado à mesa do bar, um rapaz boa pinta, Juliano.
Um gaúcho guapo, olhos claros, quarentão,realmente uma linda estampa, não
fosse o estado um tanto agitado, que
talvez denunciasse algum tipo de dependência química...Já havia passado pelo bar várias vezes, mas naquela madrugada
de vento nordeste, parou para uma birita. Das vezes que passara , trocamos
cumprimentos e algumas observações sobre
os ruidosos jovens argentinos e, naquela madrugada, segundo ele, percebeu
em mim um olhar menos luminoso do que de costume que o obrigara a
parar...e entabular conversa.Sob o olhar inquisidor do meu filho, sob o olhar
preocupado do meu namorado,que neste bar
onde, hoje, juntamente comigo, administram, conversamos por um bom tempo. Quem me conhece bem, sabe que não faço
distinção de pessoas, sejam quais sejam as condições das mesmas, me interessa
apenas a essência e nada mais. Ao olhar de pessoas que não partilham desse meu
digamos, “conceito”, logicamente sou sempre alvo de críticas, uma pessoa sem
“critério de escolha razoável” no quesito aproximação de estranhos... expansiva, tida como uma pessoa bem “zen”,
tenho esta estranha mania de, às vezes, “dar corda” a eles...às vezes me
decepciono, muitas vezes não...me encanta o inusitado, me seduz a alma cigana,
me inspira histórias alheias, boas histórias...gosto de ouvir, gosto de
observar, gosto de escrever sobre elas, “fotografar “ por escrito... T alvez me
escolham para isso, acho mesmo que tenho esse dom. Ou
talvez percebam que eu esteja em paz com os meus hormônios( !¿) rsrsrs...
Bem, seja o que for, este
rapaz apareceu no momento certo não pra me despejar histórias mas apenas pra me
dizer coisas que eu precisava ouvir naquele momento, neste lugar...coisas
simples, coisas talvez tão óbvias, talvez clichês, frases que ouvi a vida toda
em casa, pela vida...”toques” preciosos dos quais eu havia me esquecido, que
fazem a diferença, que nos fazem seguir em frente, sem mágoas, cicatrizando
dignamente todas as feridas e a continuarmos
acreditando na vida, mesmo após certas ciladas que o destino nos prepara
hábil e duramente, porque deixamos abertas as brechas para tais trapaças, porque
nos entregamos, nos damos o melhor de
nós mesmos, incautamente, a pessoas que
confundem sentimentos e valores talvez porque não tiveram o melhor da vida,
porque querem obter vantagens em tudo, porque vivem para juntar mais coisas do
que gente, porque têm uma dimensão muito mais material da vida, porque são
incapazes de acreditarem que as pessoas possam não ser canastronas como elas...
Ele me disse coisas
naquela noite de vento intenso e lua lindamente redonda que me fizeram melhor... “não se relacione
intensamente com pessoas mesquinhas, miseráveis, indolentes, que não têm vida
própria, que testam a sua amizade, que usam as suas fraquezas, a sua
intimidade, a sua fragilidade pra tripudiar sobre vc em um momento de deslize
seu, de uma fraqueza sua, de uma vacilada sua...respeite-as, tenha papos bem
amenos, trate-as bem, vc pode até alimentar o ego delas, mas mantenha a
distância, não as traga para o seu convívio.
O ideal seria não se
relacionar mesmo com pessoas que, de cara, de acordo com a sua intuição, com a
sua essência , com o seu estilo de vida, com a sua verdade, não batem com
vc...quando a luzinha interna se acende, sinalizando que algo realmente não
bate com vc, saiba ser sábia, não se jogue, não se entregue, não se doe...siga
a sua intuição sempre!”
Tão simples, tão verdadeiramente certo!
Quando as pessoas verdadeiramente gostam de vc, elas não se
utilizam de palavras doces, elas têm atitudes. Elas não te convidam pra se
sentar à mesa seja pra comemorar datas ou pra conversar, elas te arrastam pra
ela, pra casa delas, pra perto delas...elas percebem quando vc é do bem, o
quanto vc é amiga, o quanto vc gosta delas através de suas atitudes coerentes.
Elas não sugam a sua energia, elas ampliam a sua luz; elas não te amarguram nem
te entristecem, elas te alegram, elas te confortam.
Há amigos pra horas certas e incertas; há amigos pra rir
juntos, pra se divertir e ter papos
amenos; há amigos de trabalho, da faculdade;
e há aqueles amigos pra tudo, pra o que der e vier. O ideal é nunca
esperar nada , não misturar interesses materiais – principalmente quando vc não
é” expert “ nesta área - com
amizade pra nunca se decepcionar...a decepção
acontece quando vc espera do outro aquilo que vc é com o outro, aquilo que vc
faz pelo outro...aí não vale!!!Há de se ser amigo pelo simples prazer de ter alguém em quem confiar de verdade, pra compartilhar coisas boas ou
ruins, mas quando pinta a traição,não há nada que possa fazer valer a pena o que confundimos ser
amizade - isto serve pra qualquer tipo
de relacionamento....fica apenas a tristeza daquilo que poderia ter sido e
nunca foi!!