Rosana Gimael Blogueira

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domingo, 18 de janeiro de 2015

Todo dia é dia da mulher!

    

E

xiste uma data especialmente criada para se comemorar o Dia da Mulher. Um dia em que todas as reverências são para ela.  Um dia em que se remete a todas as coisas conquistadas por ela, ao papel que  exerce em todas as áreas onde atua e a sua importância  (mais que relevante)  na sociedade atual. Além dos possíveis  novos caminhos a serem discutidos para que ela conquiste outros tantos direitos, não só no papel, não só no discurso.
Há nesta data, momentos de reflexão, homenagens, comemorações pelo seu dia, dentre tantas outras  deferências. Nada mais que plausível,  merecido, louvável mesmo!
Mas nós sabemos o quanto há a ser conquistado, a ser debatido, a ser consolidado no papel feminino em todas as instâncias de sua atuação.
(...)
Observo uma menininha na praia, não deve ter mais do que cinco anos. Está acompanhada de um casal, possivelmente seus pais. Está concentrada em fazer  o seu castelo de areia. Detalhista, exigente, criativa. O casal dás  uns toques aqui e ali ao que ela prontamente rebate, dizendo   querer construir sozinha o seu castelo, rejeitando possíveis sugestões. Um garoto se aproxima, aparentando a mesma idade dela...ela não dá a mínima. Ele a olha insistentemente, ela se dá áreas de importância, ignora o menino.
Ele diz a ela se ele pode  fazer um príncipe e uma princesa na porta do castelo. Não!  No meu castelo eu vou pôr  os meeeus amigos- retruca ela, com veemência, lançando-lhe um olhar certeiro, fazendo-o recuar e voltar a se ocupar com a sua bola.
Não posso deixar de rir. Mesmo que seja uma garotinha  mimada, de personalidade forte   talvez, mostra aqui a diferença comportamental entre meninos e meninas. Se alguém me pedisse uma definição, hoje, de um modelo de atuação feminino  eu não hesitaria em  responder que o  mesmo está de frente para  mim, neste  espaço democrático, composto de areia, mar, céu azul, verdes ...ela, esta garotinha a minha frente, aparentemente impertinente.Uma menina que já anuncia a que veio, dotada de uma liberdade – está é a palavra! - de atuação, de poder, de opinião que a todos surpreende e mobiliza ao seu redor.

Poderia divagar sobre a real importância da mulher em todas as áreas.
Mas hoje me restrinjo a “viajar” através das   minhas impressões no papel da mulher na família. Uma mulher que tem que assumir o papel de mãe, esposa,  amante, companheira, da profissional que tem que dar conta de estar sempre bem, pronta pra o quer der e vier e ainda cuidar da aparência, sem nunca  deixar a vaidade de lado. Cobranças mil...ufa!
Conciliar ( e atuar em ) tantos papéis não é fácil mesmo. Poucas conseguem dar conta  sem a sensação de culpa que as persegue sempre, poucas passam imunes a tantos desafios. Poucas
sobrevivem a tantas exigências, cobranças, compromissos, sem cair  na histeria, à beira do estresse que permanentemente as acompanham. Muitas, casadas ou não, acabam por ser pai e mãe, duplo papel, duplas jornadas, por opção,  por necessidade ou por qualquer outro motivo.
Bem sei é clichê, mas é real. A mulher move o mundo. A mulher gera filhos. A mulher ainda é a maior responsável pela educação dos mesmos. Ela ainda é a protagonista na criação.

Eu acredito em uma mulher (sonho mesmo com isso!):
Que ensine suas filhas a serem mulheres ( no sentido restrito e amplo, sem competição, sem ciúme – ou seria uma certa inveja?).
Que  consiga criar os seus filhos com um  novo modelo de homem que supere um certo estereótipo  arcaico ainda vinculado ao machismo.
Que consiga conversar qualquer tipo de assunto com seus filhos de forma aberta, sem hipocrisia, principalmente sobre sexo e drogas, de tal forma que não idiotizem os seus filhos.
Que esqueçam a frase “No meu tempo não era assim”.
Que não incutam em suas filhas o complexo de Cinderela; e não contribuam para o complexo de Peter Pan em seus filhos.
Que possam passar valores  morais e ou  religiosos sem fanatismos ou quaisquer ismos.
Que deixe claro que amor não tem nada a ver com sexo e, principalmente, com a condição sexual – errônea e “toscamente” rotulada como escolha, preferência etc e tal.
Que não façam de seus filhos  seus projetos de vida.
Que, se não puderem incentivá-los em suas escolhas, pelo menos os aceite, os apoie incondicionalmente.
Que não manipulem os seus filhos, nem os exponha face aos embates de  eventuais  problemas conjugais.
Que incentivem sobremaneira seus maridos a exercerem o papel de pai.
Que incentivem coisas que contribuam para o amadurecimento de seus filhos, para o crescimento espiritual e ou intelectual em vez do incentivo ao consumismo.
Que possa dar exemplos a eles  com atitudes e não com palavras.
Que não queiram competir com as suas filhas, querendo resgatar um tempo que não volta mais – muitas querem parecer  adolescentes tanto no vestir quanto no modo de agir ou  de falar.
Que entendam que os filhos não são delas  e que  não se abatam com a síndrome do “ninho vazio”.
Que não se deixem enganar com a “imposição” dada a elas de que se não forem mães – ser mãe é padecer no paraíso, a melhor coisa do mudo -  não se realizarão ...muitas não têm mesmo vocação para isso, mal sabem cuidar delas mesmas. Há muitas outras formas de se sentirem no paraíso, “ padecendo” ou não.
Que consigam fazer de seus filhos  pessoas livres de dogmas ultrapassados, libertos  de todo e qualquer tipo de preconceito.
Que olhem mais nos olhos deles quando conversarem e, principalmente, fiquem atentos ao seu “crescer”, acompanhando-os em suas descobertas.
Que não demonstrem o sacrifício e o quanto fazem por eles, deixando claro, muitas vezes, o quanto isso lhes  custa, o quanto é penoso para elas.
Que não incentivem entre eles a competição, que não demonstrem predileção por algum deles, que não os “castrem”.
Que os faça entender que antes de serem mães são mulheres e, como tais, têm os seus sonhos, os seus desejos, os seus temores, os seus hormônios oscilando e, consequentemente, têm  os seus humores, os seus “rumores”, as suas angústias, os seus dias difíceis.

Sonhar é possível. E eu aqui nem ouso falar o que penso do quanto a mulher tem a caminhar no quesito relacionamentos com seus (ou suas) parceiros(as).
Mas me vêm à memória situações vivenciadas durante décadas em sala de aula...Meninos e meninas perdidos, ávidos de informações consistentes sobre as suas angústias,independente
de classe social. Vi e ouvi coisas comoventes. A muitos desses alunos pude dar algum tipo de contribuição, uma resposta, um alento ...a muitos não tive como fazer mais do que me permitia fazer  naquele espaço físico, naquele espaço de tempo, naquele contexto de sala de aula.
Lembro-me  de um rapaz de uns 17 anos que me procurou em um dos intervalos, meio atrapalhado, meio sem graça, tímido, procurando um “conselho”:
- Rosana, eu não consigo entender as mulheres. Me  ajuda, o que eu faço? - tentando explicitar a situação.
Eu pega de surpresa, no meu emaranhado de pensamentos longe dali, preocupada com tantas outras coisas que, naquele momento, me afligiam, respondi-lhe apenas, olhando em seus olhos:
- Cara, mulheres não foram feitas pra serem entendidas. Foram feitas pra serem amadas.
Sorrimos um para o outro. Ele me abraçou, agradeceu. Saiu efusivamente.
E é isso.

Agora sou pura emoção, lágrimas inundando meu rosto diante dessa Ave Maria, nesse concerto fabuloso (e surreal!) de André Rieu...  coisas de mulher ?!


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