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xiste uma
data especialmente criada para se comemorar o Dia da Mulher. Um dia em que
todas as reverências são para ela. Um
dia em que se remete a todas as coisas conquistadas por ela, ao papel que exerce em todas as áreas onde atua e a sua
importância (mais que relevante) na sociedade atual. Além dos possíveis novos caminhos a serem discutidos para que
ela conquiste outros tantos direitos, não só no papel, não só no discurso.
Há nesta
data, momentos de reflexão, homenagens, comemorações pelo seu dia, dentre
tantas outras deferências. Nada mais que
plausível, merecido, louvável mesmo!
Mas nós
sabemos o quanto há a ser conquistado, a ser debatido, a ser consolidado no
papel feminino em todas as instâncias de sua atuação.
(...)
Observo uma menininha na praia, não deve ter mais do que cinco anos. Está acompanhada de um casal, possivelmente seus pais. Está concentrada em fazer o seu castelo de areia. Detalhista, exigente, criativa. O casal dás uns toques aqui e ali ao que ela prontamente rebate, dizendo querer construir sozinha o seu castelo, rejeitando possíveis sugestões. Um garoto se aproxima, aparentando a mesma idade dela...ela não dá a mínima. Ele a olha insistentemente, ela se dá áreas de importância, ignora o menino.
Observo uma menininha na praia, não deve ter mais do que cinco anos. Está acompanhada de um casal, possivelmente seus pais. Está concentrada em fazer o seu castelo de areia. Detalhista, exigente, criativa. O casal dás uns toques aqui e ali ao que ela prontamente rebate, dizendo querer construir sozinha o seu castelo, rejeitando possíveis sugestões. Um garoto se aproxima, aparentando a mesma idade dela...ela não dá a mínima. Ele a olha insistentemente, ela se dá áreas de importância, ignora o menino.
Ele
diz a ela se ele pode fazer um príncipe
e uma princesa na porta do castelo. Não!
No meu castelo eu vou pôr os
meeeus amigos- retruca ela, com veemência, lançando-lhe um olhar certeiro,
fazendo-o recuar e voltar a se ocupar com a sua bola.
Não
posso deixar de rir. Mesmo que seja uma garotinha mimada, de personalidade forte talvez, mostra aqui a diferença
comportamental entre meninos e meninas. Se alguém me pedisse uma definição, hoje,
de um modelo de atuação feminino eu não
hesitaria em responder que o mesmo está de frente para mim, neste
espaço democrático, composto de areia, mar, céu azul, verdes ...ela,
esta garotinha a minha frente, aparentemente impertinente.Uma menina que já
anuncia a que veio, dotada de uma liberdade – está é a palavra! - de atuação,
de poder, de opinião que a todos surpreende e mobiliza ao seu redor.
Poderia divagar sobre a real importância da mulher em todas as áreas.
Mas
hoje me restrinjo a “viajar” através das
minhas impressões no papel da mulher na família. Uma mulher que tem que
assumir o papel de mãe, esposa, amante,
companheira, da profissional que tem que dar conta de estar sempre bem, pronta
pra o quer der e vier e ainda cuidar da aparência, sem nunca deixar a vaidade de lado. Cobranças
mil...ufa!
Conciliar
( e atuar em ) tantos papéis não é fácil mesmo. Poucas conseguem dar conta sem a sensação de culpa que as persegue
sempre, poucas passam imunes a tantos desafios. Poucas
sobrevivem
a tantas exigências, cobranças, compromissos, sem cair na histeria, à beira do estresse que
permanentemente as acompanham. Muitas, casadas ou não, acabam por ser pai e
mãe, duplo papel, duplas jornadas, por opção,
por necessidade ou por qualquer outro motivo.
Bem
sei é clichê, mas é real. A mulher move o mundo. A mulher gera filhos. A mulher
ainda é a maior responsável pela educação dos mesmos. Ela ainda é a
protagonista na criação.
Eu acredito em uma mulher (sonho mesmo com isso!):
Que
ensine suas filhas a serem mulheres ( no sentido restrito e amplo, sem
competição, sem ciúme – ou seria uma certa inveja?).
Que consiga criar os seus filhos com um novo modelo de homem que supere um certo
estereótipo arcaico ainda vinculado ao
machismo.
Que
consiga conversar qualquer tipo de assunto com seus filhos de forma aberta, sem
hipocrisia, principalmente sobre sexo e drogas, de tal forma que não idiotizem
os seus filhos.
Que
esqueçam a frase “No meu tempo não era assim”.
Que
não incutam em suas filhas o complexo de Cinderela; e não contribuam para o
complexo de Peter Pan em seus filhos.
Que possam passar valores morais e ou
religiosos sem fanatismos ou quaisquer ismos.
Que
deixe claro que amor não tem nada a ver com sexo e, principalmente, com a
condição sexual – errônea e “toscamente” rotulada como escolha, preferência etc
e tal.
Que
não façam de seus filhos seus projetos
de vida.
Que,
se não puderem incentivá-los em suas escolhas, pelo menos os aceite, os apoie
incondicionalmente.
Que
não manipulem os seus filhos, nem os exponha face aos embates de eventuais
problemas conjugais.
Que
incentivem sobremaneira seus maridos a exercerem o papel de pai.
Que
incentivem coisas que contribuam para o amadurecimento de seus filhos, para o
crescimento espiritual e ou intelectual em vez do incentivo ao consumismo.
Que
possa dar exemplos a eles com atitudes e
não com palavras.
Que
não queiram competir com as suas filhas, querendo resgatar um tempo que não
volta mais – muitas querem parecer
adolescentes tanto no vestir quanto no modo de agir ou de falar.
Que
entendam que os filhos não são delas e
que não se abatam com a síndrome do
“ninho vazio”.
Que
não se deixem enganar com a “imposição” dada a elas de que se não forem mães –
ser mãe é padecer no paraíso, a melhor coisa do mudo - não se realizarão ...muitas não têm mesmo vocação
para isso, mal sabem cuidar delas mesmas. Há muitas outras formas de se
sentirem no paraíso, “ padecendo” ou não.
Que
consigam fazer de seus filhos pessoas
livres de dogmas ultrapassados, libertos
de todo e qualquer tipo de preconceito.
Que
olhem mais nos olhos deles quando conversarem e, principalmente, fiquem atentos
ao seu “crescer”, acompanhando-os em suas descobertas.
Que
não demonstrem o sacrifício e o quanto fazem por eles, deixando claro, muitas
vezes, o quanto isso lhes custa, o
quanto é penoso para elas.
Que
não incentivem entre eles a competição, que não demonstrem predileção por algum
deles, que não os “castrem”.
Que
os faça entender que antes de serem mães são mulheres e, como tais, têm os seus
sonhos, os seus desejos, os seus temores, os seus hormônios oscilando e,
consequentemente, têm os seus humores,
os seus “rumores”, as suas angústias, os seus dias difíceis.
Sonhar é possível. E eu aqui nem ouso falar o que penso do quanto a mulher tem a caminhar no quesito relacionamentos com seus (ou suas) parceiros(as).
Mas
me vêm à memória situações vivenciadas durante décadas em sala de
aula...Meninos e meninas perdidos, ávidos de informações consistentes sobre as
suas angústias,independente
de
classe social. Vi e ouvi coisas comoventes. A muitos desses alunos pude dar
algum tipo de contribuição, uma resposta, um alento ...a muitos não tive como
fazer mais do que me permitia fazer
naquele espaço físico, naquele espaço de tempo, naquele contexto de sala
de aula.
Lembro-me
de um rapaz de uns 17 anos que me procurou em um dos intervalos, meio
atrapalhado, meio sem graça, tímido, procurando um “conselho”:
-
Rosana, eu não consigo entender as mulheres. Me
ajuda, o que eu faço? - tentando explicitar a situação.
Eu
pega de surpresa, no meu emaranhado de pensamentos longe dali, preocupada com
tantas outras coisas que, naquele momento, me afligiam, respondi-lhe apenas,
olhando em seus olhos:
-
Cara, mulheres não foram feitas pra serem entendidas. Foram feitas pra serem
amadas.
Sorrimos
um para o outro. Ele me abraçou, agradeceu. Saiu efusivamente.
E
é isso.
Agora sou pura emoção, lágrimas inundando meu rosto diante dessa Ave Maria, nesse concerto fabuloso (e surreal!) de André Rieu... coisas de mulher ?!