Ultimamente, a pedido do meu orientador, tenho me dedicado a ler e a escrever sobre a minha dissertação que é voltada para a representatividade de gêneros na mídia, tendo em vista o amorXcapitalismo.
Tenho tomado gosto pela Psicanálise de forma incomum, assunto sobre o qual me deterei em breve, e de forma substancial, neste blog.
Por agora, não resistindo ao apelo de outras boas leituras, sucumbi a Sapiens e Homo Deus, além do que após contundente disciplina no IFCH - UNICAMP, com a disciplina sobre o Golpe, tive acesso a Falácias de Moro.
Super indico a quem quer ter acesso a leituras outras que fogem da reprodução de falas do senso comum.
Seguem aqui escritos sobre os autores dos livros, a que os leitores podem ter acesso ao links inseridos nos textos abaixo, para leituras possíveis.
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LEITURAS:
Sapiens e Homo Deus, clique em: PARA LER EM FORMATO E-BOOK
Falácias de Moro: https://drive.google.com/file/d/1BsSkXPLZltZBe3dnNsmMJZyoanfxPwy7/view
Yuval Harari: "Não sabemos o que ensinar aos jovens pela primeira vez na História"
O autor de Sapiens e Homo Deus, Yuval Noah Harari
FONTE: DIÁRIO DE NOTÍCIAS |
João Céu e Silva
27 Maio 2017 — 00:47
O livro anterior de Yuval Harari, Sapiens: Uma Breve
História da Humanidade, foi um sucesso mundial.
Em Portugal, o historiador israelita não passou despercebido
e alguns milhares já leram as quatro edições do antecessor de Homo Deus - História
Breve do Amanhã (editora Elsinore), o seu mais recente trabalho de investigação
lançado seis anos após o primeiro.
Em quase 500 páginas, o professor do departamento de História da Universidade
Hebraica de Jerusalém faz uma análise da evolução do Homem que se segue e
questiona quais poderão ser os passos de gigante dos habitantes da Terra. Uma
antevisão pouco agradável, onde a Inteligência Artificial e a biogenética
destituirão em breve as regras que gerem as sociedades atuais. Nesta entrevista
ao DN, a primeira para Portugal, Yuval Harari explica como os netos dos nossos
netos só serão em parte humanos, que será o algoritmo a decidir os empréstimos
de um banco, que as reivindicações dos excluídos serão ignoradas e que o que
hoje se ensina nas escolas e universidades de pouco servirá dentro de no máximo
duas décadas. Não pretende que seja uma perceção catastrófica, antes o
resultado da evolução da tecnologia ao nosso dispor no século XXI e que será
impossível de travar. Harari tornou-se uma celebridade mundial, gay, vive com o
marido numa comunidade israelita, vegan e recusa-se a usar um smarthphone.
Olho para o seu livro e imagino o autor como um drone
dotado de inteligência artificial a sobrevoar o planeta Terra. Revê-se nesta
imagem?
Até certo ponto. Eu tento ser realmente como um drone que
voa a grande altitude e observa tudo o que acontece na Terra sem tomar
partidos. No entanto, ao contrário de um drone ou de uma inteligência
artificial, eu não me foco apenas nos acontecimentos materiais. Tento
compreender como as pessoas se sentem e dou um lugar central no meu livro às
questões éticas e filosóficas. Não vale a pena escrever História se nos
esquecermos da dimensão ética.
Começa o livro com uma grande pergunta: "Estamos a controlar a fome, as epidemias e a guerra. O que irá substituí-las?" Qual é o seu prognóstico?
No séc. XXI a principal ambição humana não será meramente o
controlo da fome, das epidemias e da guerra, mas sim a de transformar os
humanos em deuses. E digo isto no sentido literal. Os seres humanos
esforçar-se-ão por adquirir capacidades que foram inicialmente pensadas como
capacidades divinas. Em particular, a capacidade de manipular e criar vida.
Assim como na Bíblia Deus criou animais, plantas e seres humanos de acordo com
os seus desejos, também no séc. XXI iremos provavelmente aprender como projetar
e fabricar animais e plantas e, até, seres humanos segundo os nosso desejos.
Iremos usar a engenharia genética para criar novos tipos de seres orgânicos;
usaremos interfaces diretas cérebro-computador com o objetivo de criar
ciborgues (seres que combinam partes orgânicas com partes inorgânicas); e
podemos até conseguir criar seres completamente inorgânicos. Os principais
produtos da economia do séc. XXI não serão têxteis, veículos e armas, mas sim
corpos, cérebros e mentes. Foi por isso que dei ao livro o título de Homo Deus
(homem-deus).
Ao comentar o estado atual da humanidade diz: "Vejamos o que o dia de
hoje nos reserva". Esta é uma questão para o mundo inteiro ou apenas para
os menos afortunados?
Em 2010, a fome e a desnutrição combinadas mataram cerca
de um milhão de pessoas, enquanto a obesidade matou três milhões
Ainda há milhares de milhões de pessoas pobres no mundo que
sofrem de desnutrição e doenças, mas as fomes em massa estão a tornar-se raras.
No passado, de tantos em tantos anos havia secas ou inundações, ou outro tipo
qualquer de catástrofe natural, a produção de alimentos caía a pique e milhões
de pessoas morriam à fome. Atualmente, a humanidade produz tanta comida e
consegue transportá-la tão rapidamente e de forma tão barata que os desastres
naturais nunca resultam, por si próprios, em fome em massa. Já não existe fome
natural no mundo, há apenas fome de origem política. Se as pessoas ainda morrem
de fome na Síria, no Sudão ou na Coreia do Norte é apenas porque alguns
governos assim o desejam.
Vejamos a China, por exemplo. Há poucas décadas a China era
ainda um paradigma de escassez de alimentos. Dezenas de milhões de chineses
morreram de fome durante o Grande Salto em Frente e os especialistas previam
rotineiramente que o problema só iria piorar. Em 1974 teve lugar em Roma a
primeira Conferência Mundial da Alimentação e os delegados foram presentados
com cenários apocalíticos. Foi-lhes dito que a China nunca conseguiria
alimentar os seus mil milhões de pessoas e que o país mais populoso do mundo
estava a caminho da catástrofe. Na verdade estava a caminho do maior milagre
económico da história. Desde 1974 centenas de milhões de chineses saíram da
pobreza e apesar de haver ainda centenas de milhões que sofrem muitíssimo de
privações e desnutrição, a China está pela primeira vez nos seus registos
históricos livre da fome.
De facto, na maioria dos países, hoje, comer demais
tornou-se um problema muito pior do que a fome. No século XVIII, Maria
Antonieta supostamente aconselhou as massas famintas a que, se ficassem sem
pão, comessem bolos. Hoje, os pobres seguem este conselho à letra. Enquanto os
habitantes ricos de Beverly Hills comem salada de alface e tofu cozido a vapor
com quinoa, nos bairros da lata e guetos os pobres engolem bolos industriais,
pacotes de aperitivos salgados, hambúrgueres e pizzas. Em 2014, mais de 2100
milhões de pessoas tinham excesso de peso, contra 850 milhões que sofriam de
desnutrição. Calcula-se que em 2030 metade da humanidade sofra de excesso de
peso. Em 2010, a fome e a desnutrição combinadas mataram cerca de um milhão de
pessoas, enquanto a obesidade matou três milhões.
Afirma que as guerras estão a diminuir. Quando vê o Presidente Trump atirar
uma super-bomba sobre o Afeganistão sente vontade de alterar o texto do livro?
Eu não disse que as guerras iriam inevitavelmente
desaparecer. O que eu disse foi que nós transformámos as guerras de uma
catástrofe inevitável além do controlo humano numa ameaça gerível. No passado,
os seres humanos pensavam que as guerras eram uma parte natural do mundo e
somente Deus poderia trazer a paz à Terra. Mas ao longo das últimas décadas, os
seres humanos descobriram que têm o poder de trazer a paz à Terra por si
mesmos, se tomarem as decisões certas.
Ainda há guerras em algumas partes do mundo, eu vivo em
Israel por isso sei muito bem disso. Mas grandes partes do mundo estão
completamente livres da guerra e muitos estados deixaram de usar a guerra como
um instrumento padrão para promover os seus interesses. Nas sociedades
agrícolas antigas, cerca de 15% de todas as mortes eram causadas pela violência
humana. Hoje, em todo o mundo, as mortes causadas pela violência humana são
menos de 1,5%. De facto, o número de suicídios é hoje maior do que o número de
mortes violentas! São maiores as hipóteses de se morrer por suicídio do que de
se ser morto por um qualquer soldado inimigo, um terrorista ou um criminoso. Da
mesma forma, o número de pessoas que morrem por obesidade e doenças
relacionadas é muito mais elevado do que o número de pessoas mortas por
violência humana. O açúcar é hoje mais perigoso do que a pólvora.
O que originou esta nova era de paz? Existem duas causas
principais. Em primeiro lugar, as armas nucleares transformaram a guerra entre
superpotências em suicídio coletivo. Assim, as superpotências tiveram que mudar
completamente o sistema internacional e encontrar maneiras de resolver
conflitos sem grandes guerras. Em segundo lugar, as mudanças económicas
transformaram o conhecimento no principal ativo económico. Anteriormente, a riqueza
era principalmente riqueza material: campos de trigo, minas de ouro, escravos,
gado. Isso encorajava a guerra, porque era relativamente fácil conquistar
riqueza material através da guerra. Hoje, a riqueza está cada vez mais baseada
no conhecimento. E não se pode conquistar o conhecimento através da guerra. Não
se pode, por exemplo, conquistar a riqueza de Silicon Valley através da guerra,
porque não há minas de silício no Vale do Silício - a riqueza vem do
conhecimento dos engenheiros e técnicos. Consequentemente, hoje, a maioria das
guerras está restrita àquelas partes do mundo - como o Médio Oriente - onde a
riqueza é a riqueza material antiquada (principalmente campos de petróleo).
Foi fácil integrar a afirmação constante do terrorismo neste seu exame?
O terrorismo é em grande parte teatro. Os terroristas
encenam um espetáculo de violência aterrorizador que domina a nossa imaginação
e nos faz sentir como se estivéssemos a resvalar de novo para o caos medieval.
Consequentemente os estados sentem-se muitas vezes obrigados a reagir ao teatro
do terrorismo com um espetáculo de segurança, orquestrando enormes exibições de
força, como a perseguição de populações inteiras ou a invasão de países
estrangeiros. Na maior parte dos casos, essa reação exagerada ao terrorismo
representa uma ameaça muito maior à nossa segurança do que os próprios
terroristas.
Os terroristas são como uma mosca que tenta destruir uma
loja de porcelanas. A mosca é tão fraca que não consegue mover nem uma chávena
de chá. Assim, encontra um touro, entra para dentro do seu ouvido e começa a
zumbir. O touro fica louco de medo e fúria e destrói a loja de porcelanas. Foi
o que aconteceu no Médio Oriente na última década. Os fundamentalistas
islâmicos nunca conseguiriam ter derrubado Saddam Hussein sozinhos. Em vez
disso, eles enfureceram os EUA com os atentados de 11 de setembro e os EUA
destruíram a loja de porcelanas do Médio Oriente por eles. Agora eles florescem
nos destroços. Portanto, na verdade, o sucesso ou o fracasso do terrorismo dependem
de nós. Se permitirmos que os terroristas dominem a nossa imaginação e, depois,
reagirmos exageradamente aos nossos próprios medos, o terrorismo terá êxito. Se
libertarmos a nossa imaginação dos terroristas e reagirmos de forma equilibrada
e calma, o terrorismo fracassará.
No subcapítulo O Direito à Felicidade considera que este é o
segundo grande projeto na agenda da humanidade. Mas, como dizia Epicuro, esta
busca não continua a conduzir à infelicidade?
Sim, até agora a busca da humanidade pela felicidade não foi
muito bem-sucedida. Nós somos hoje muito mais poderosos do que alguma vez fomos
e a nossa vida é certamente mais confortável do que no passado, mas é duvidoso
que sejamos muito mais felizes do que os nossos antepassados. Os americanos
médios têm um carro, um telemóvel, um frigorífico cheio de comida e um armário
cheio de medicamentos, coisas com que os seus antepassados dificilmente
poderiam sonhar. No entanto, os americanos estão tão irritados e insatisfeitos
com a sua situação, que elegeram Donald Trump como seu presidente.
Aparentemente, não é fácil traduzir o poder em felicidade.
Uma explicação é que a felicidade depende menos de condições
objetivas e mais das nossas próprias expectativas. As expectativas, no entanto,
tendem a adaptar-se às condições. Quando as coisas melhoram, as expectativas
aumentam e, consequentemente, mesmo melhorias drásticas nas condições podem
deixar-nos tão insatisfeitos como antes.
Ainda teremos netos, mas não tenho muita certeza de que
os nossos netos terão netos. Pelo menos não humanos
Eu valorizo muito Marx. Até certo ponto, todos nós somos
marxistas hoje. Podemos não aceitar o programa político de Marx, mas mesmo os
capitalistas mais radicais analisam a história e a política usando o pensamento
marxista. Por exemplo, quando tentamos entender a ascensão de Donald Trump,
geralmente pensamos que as mudanças económicas, como a crescente desigualdade
entre a classe operária americana e a classe alta, levam a convulsões
políticas. Essa é uma análise marxista.
No entanto, no séc. XXI as teorias marxistas estão a perder
relevância. O marxismo assume que a classe trabalhadora é vital para a economia
e os pensadores marxistas tentaram ensinar ao proletariado como traduzir o seu
imenso poder económico em força política. Esses ensinamentos podem tornar-se
completamente irrelevantes no séc. XXI, pois a IA e os robôs substituem os
seres humanos em mais e mais empregos e as massas perdem o seu valor económico.
Na verdade, pode haver quem argumente que o brexit e Trump já demonstram uma
trajetória oposta à que Marx imaginava. Em 2016, os britânicos e os americanos
que perderam a sua utilidade económica, mas que ainda conservam o poder
político, usaram esse poder para se revoltarem antes que seja tarde demais.
Eles não se revoltam contra uma elite económica que os explora, mas contra uma
elite económica que já não precisa deles.
Preocupa-o a certeza de que nos vamos confrontar em breve com uma raça de
super-homens, o seu Homo Deus?
Sim, existe o perigo de a humanidade se dividir em castas
biológicas. À medida que a biotecnologia se for desenvolvendo será possível
prolongar o tempo da vida humana e melhorar as capacidades humanas, mas os
novos tratamentos maravilha podem ser caros e podem não estar disponíveis
gratuitamente para todos os milhares de milhões de seres humanos. Assim, a
sociedade humana no séc. XXI pode ser a mais desigual da História. Pela
primeira vez na História, a desigualdade económica será traduzida em
desigualdade biológica. Pela primeira vez na História, as classes superiores
não serão apenas mais ricas do que o resto da humanidade, mas também viverão
muito mais tempo e terão muito mais talento.
A ascensão da inteligência artificial pode exacerbar este
problema. Dentro de algumas décadas, a IA pode tornar a maioria de seres
humanos inúteis. Estamos agora a desenvolver software para computadores e IA
que superam os seres humanos em cada vez mais tarefas, desde conduzir carros
até diagnosticar doenças. Como resultado, os especialistas calculam que dentro
de algumas décadas, não serão só os empregos de taxistas e médicos, mas cerca
de 50% de todos os postos de trabalho nas economias avançadas serão ocupados
por computadores.
Podem aparecer muitos novos tipos de empregos, mas isso não
irá necessariamente resolver o problema. Os seres humanos têm basicamente
apenas dois tipos de capacidades - físicas e cognitivas - e se os computadores
nos superarem em ambas, eles podem superar-nos nos novos empregos tal como o
fizeram nos antigos. Então, qual será a utilidade de seres humanos nesse mundo?
O que faremos com milhares de milhões de seres humanos economicamente inúteis?
Não sabemos. Não temos qualquer modelo económico para tal situação. Esta pode
ser a maior questão económica e política do século XXI.
Além disso, à medida que os algoritmos expulsam os seres
humanos do mercado de trabalho, a riqueza pode concentrar-se nas mãos da
pequena elite que possui os algoritmos todo-poderosos, criando desigualdades
sociais e políticas sem precedentes. Hoje, milhões de motoristas de táxi, de
autocarros e de camiões têm um peso económico e político significativo, cada um
comandando uma pequena parcela do mercado de transportes. Se o governo faz
alguma coisa de que não gostem, eles podem sindicalizar-se e entrar em greve.
No futuro, todo esse poder económico e político pode ser monopolizado por
alguns bilionários que possuem as empresas que detêm os algoritmos que dirigem
todos os veículos.
O Homo sapiens foi apenas mais uma etapa da evolução do
Homem e deixou de ser a referência?
Nós somos provavelmente uma das últimas gerações de Homo
sapiens. Ainda teremos netos, mas não tenho muita certeza de que os nossos
netos terão netos. Pelo menos não humanos. No próximo século ou dois, os seres
humanos ou se destroem a eles mesmos ou evoluem para algo completamente
diferente. Algo que será mais diferente de nós do que nós somos diferentes dos
neandertais ou dos chimpanzés.
[citacao O algoritmo discrimina-o não porque você é mulher
ou homossexual ou negro, mas porque você é você. Há algo específico sobre si de
que o algoritmo não gosta]
Elege o algoritmo como um fator de discriminação. Como
podem os mais fracos defenderem-se?
Ao reunir dados e poder de computação suficientes, empresas
e governos poderão criar rapidamente algoritmos que me conhecem melhor do que
eu próprio, e então a autoridade deslocar-se-á de mim para o algoritmo. O
algoritmo poderá entender os meus desejos, prever as minhas decisões e fazer
melhores escolhas em meu nome. Tais algoritmos contêm um grande potencial, mas
também um grande perigo. À medida que os algoritmos nos começam a conhecer tão
bem, os governos ditatoriais poderão obter um controlo absoluto sobre os seus
cidadãos, ainda mais do que na Alemanha nazi, e a resistência a tais ditaduras
poderá ser totalmente impossível. Mesmo em países democráticos, as pessoas
podem tornar-se vítimas de novos tipos de opressão e discriminação. Hoje em
dia, cada vez mais bancos, empresas e instituições estão a usar algoritmos para
analisar dados e tomar decisões sobre nós. Quando pedimos um empréstimo a um
banco é mais provável que o nosso pedido seja processado por um algoritmo de
que por um ser humano. O algoritmo analisa muitos dados sobre nós e
estatísticas sobre milhões de outras pessoas, e decide se somos suficientemente
confiáveis para nos conceder um empréstimo. Muitas vezes, o algoritmo faz um
trabalho melhor do que um banqueiro humano. Mas o problema é que, se o
algoritmo discriminar algumas pessoas injustamente, é difícil saber isso. Se o
banco se recusar a dar-nos um empréstimo e perguntarmos "porque
não?", o banco responde "o algoritmo disse que não". Se
perguntarmos "por que motivo o algoritmo disse que não?", o banco
responde, "Nós não sabemos. Nenhum ser humano entende este algoritmo,
porque é baseado na aprendizagem avançada da máquina. Mas nós confiamos no
nosso algoritmo, por isso não lhe concederemos um empréstimo".
No passado, as pessoas discriminavam grupos inteiros como
mulheres, homossexuais e negros. Assim, as mulheres, os homossexuais ou os
negros, podiam organizar-se e protestar contra a sua discriminação coletiva.
Mas agora o algoritmo pode discriminá-lo a si, e você não faz ideia da razão.
Talvez o algoritmo tenha encontrado alguma coisa no seu ADN ou na sua história pessoal
que não lhe agrada. O algoritmo discrimina-o não porque você é mulher ou
homossexual ou negro, mas porque você é você. Há algo específico sobre si de
que o algoritmo não gosta. Você não sabe o que é, e mesmo que soubesse, não se
pode organizar com outras pessoas para protestar, porque não há outras pessoas.
É apenas você. Em vez da discriminação coletiva como no século XX, talvez no
século XXI tenhamos um grande problema de discriminação individual.
Quando aponta o Dataísmo como a próxima religião não está a ir longe de
mais? Falando de religião, esta tem um prazo de validade?
Primeiro, devemos entender o que é a religião. A religião
não é a crença em deuses. Em vez disso, a religião é qualquer sistema de normas
e valores humanos que se baseia na crença em leis sobre-humanas. A religião
diz-nos que devemos obedecer a certas leis que não foram inventadas pelos seres
humanos e que os seres humanos não podem mudar à sua vontade. Algumas
religiões, como o islão, o cristianismo e o hinduísmo, acreditam que essas leis
sobre-humanas foram criadas pelos deuses. Outras religiões, como o budismo, o
capitalismo e o nazismo, acreditam que essas leis sobre-humanas são leis
naturais. Assim, os budistas acreditam nas leis naturais do carma, os nazis
argumentaram que a sua ideologia refletia as leis da seleção natural, e os
capitalistas acreditam que seguem as leis naturais da economia.
Não importa se acreditam em leis divinas ou em leis
naturais, todas as religiões têm exatamente a mesma função: dar legitimidade às
normas e valores humanos e dar estabilidade às instituições humanas, como
estados e empresas. Sem algum tipo de religião é simplesmente impossível manter
a ordem social. Durante a era moderna, as religiões que acreditam nas leis
divinas entraram em declínio. Mas as religiões que acreditam nas leis naturais
tornaram-se cada vez mais poderosas. No futuro, é provável que se tornem mais
poderosos ainda. Silicon Valley, por exemplo, é hoje uma incubadora de novas
tecno-religiões. Eles prometem todos os velhos prémios religiosos - felicidade,
paz, prosperidade e vida eterna - mas aqui na terra com a ajuda da tecnologia e
não depois da morte com a ajuda de seres sobrenaturais.
O seu livro anterior foi amplamente reconhecido. Alguém aprendeu a lição?
Não estou certo de que o objetivo do estudo da História seja
aprender lições práticas. Na minha opinião, devemos estudar a História não para
aprender com o passado, mas para nos libertarmos dele. Cada um de nós nasce num
mundo particular, governado por um sistema particular de normas e valores, e
uma determinada ordem económica e política. Como nascemos nele, tomamos a
realidade circundante como natural e inevitável, e tendemos a pensar que a
maneira como as pessoas hoje vivem as suas vidas é a única possível. Raramente
nos damos conta de que o mundo que conhecemos é o resultado acidental de
acontecimentos históricos aleatórios que condicionam não só a nossa tecnologia,
política e economia, mas até mesmo a maneira como pensamos e sonhamos. É assim
que o passado nos agarra pela parte de trás da cabeça, e vira o nosso olhar
para um único futuro possível. Sentimos o aperto do passado desde que nascemos,
por isso nem sequer nos apercebemos dele. O estudo da História visa reduzir
esse aperto e permitir-nos virar a nossa cabeça mais livremente, pensar de
maneira diferente e ver muitos mais futuros possíveis.
Se não conhecermos a História, facilmente confundimos os
seus acidentes com a nossa verdadeira essência. Por exemplo, pensamos em nós
mesmos como pertencendo a uma determinada nação, como Israel ou a Coreia;
acreditamos numa certa religião; vemo-nos como indivíduos; acreditamos que
temos certos direitos naturais. Então, quando me pergunto "quem sou
eu?" posso responder que "sou israelita, sou judeu e sou um indivíduo
que tem direitos inalienáveis ??à vida, à liberdade e à busca da
felicidade".
No entanto, o nacionalismo, o individualismo, os direitos
humanos e a maioria das religiões são desenvolvimentos recentes. Antes do séc.
XVIII, o nacionalismo era uma força bastante fraca, e a maioria das nações de
hoje não tem mais de um século de existência. O indivíduo foi criado pelo
estado e pelo mercado modernos, na sua luta para quebrar o poder das famílias e
comunidades tradicionais. Os direitos humanos são uma história inventada nos últimos
três séculos, que não tem base na biologia. Não há direitos inscritos no nosso
ADN. A maioria das religiões que conhecemos hoje nasceu apenas nos últimos dois
ou três mil anos e sofreu profundas mudanças nos últimos séculos. O judaísmo ou
o cristianismo de hoje são muito diferentes do que eram há 2000 anos. Não são
verdades eternas, mas criações humanas. Algumas dessas criações podem ter sido
muito benéficas, é claro, mas para conhecer a verdade sobre nós mesmos
precisamos ir além de todas essas criações humanas. É por isso que a História
me interessa tanto. Eu quero conhecer a História, para poder ir além dela e
entender a verdade que não é o resultado de acontecimentos históricos
aleatórios.
É sempre referido como um historiador israelita. Porquê sempre a
qualificação da nacionalidade?
Eu não me classifico como "um historiador
israelita". Eu não acho que a nacionalidade seja assim tão importante.
Acho mesmo que os meus antecedentes judaicos têm muito menos influência na
minha visão da História do que se poderia esperar. Eu sou judeu por etnia, mas
não na minha religião e na minha visão do mundo. Sou muito mais influenciado
por Buda e Darwin do que pela Bíblia. É claro que as minhas experiências como
israelita moldaram a minha vida e a minha compreensão do mundo até certo ponto.
O mundo parece diferente visto de Jerusalém, de Nova Iorque ou de Pequim, e se
eu tivesse crescido em Nova Iorque ou Pequim, provavelmente teria escrito um
livro diferente. Em particular, porque vivo no Médio Oriente, com todos os
conflitos nacionalistas e religiosos, estou muito consciente do imenso poder
das histórias imaginárias para controlar as nossas vidas. As pessoas estão a
matar-se por todo o lado por puras ficções. É por isso que é tão importante
para mim distinguir a realidade da ficção.
"Homo Deus" resulta de uma investigação complexa. Foi confrontado
com caminhos sem saída?
O meu objetivo principal ao escrever Homo Deus não era profetizar o futuro, mas
sim questionar o nosso futuro e explorar várias possibilidades. O livro foca-se
na interação entre tecnologia, política, sociedade e religião. O que acontecerá
com a política quando os algoritmos Big Data conhecerem os nossos desejos e
opiniões melhor do que nós próprios os conhecemos? O que acontecerá com o
mercado de trabalho quando os computadores superarem os seres humanos em cada
vez mais tarefas, e a inteligência artificial substituir taxistas, médicos,
professores e polícias? O que faremos com milhares de milhões de pessoas
economicamente inúteis? Como irão lidar religiões como o cristianismo e o islão
com a engenharia genética e o potencial de criar super-humanos e superar a
velhice e a morte? Irá Silicon Valley acabar por produzir novas religiões, em
vez de apenas novos gadgets?
Ao tentar responder a essas perguntas encontrei obviamente
muitos becos sem saída. Ninguém sabe realmente como será o mundo dentro de 30
ou 60 anos. Na verdade, acho que a nossa capacidade de entender o mundo é hoje
menor do que nunca. No passado, o conhecimento humano aumentava lentamente e a
tecnologia demorava tempo a ser desenvolvida, de modo que a política e a
economia também mudavam a um ritmo lento. Hoje, o nosso conhecimento está a
aumentar a uma velocidade vertiginosa e, teoricamente, deveríamos entender o
mundo cada vez melhor. Mas está a acontecer precisamente o contrário. Os nossos
conhecimentos recém-adquiridos levam a mudanças económicas, sociais e políticas
mais rápidas. Na tentativa de entender o que está a acontecer, aceleramos a
acumulação de conhecimento, o que leva apenas a agitações mais rápidas e
maiores. Consequentemente, estamos cada vez menos aptos a dar sentido ao
presente ou a prever o futuro. Ninguém sabe realmente o que está a acontecer
hoje no mundo, ou onde estaremos no futuro.
Há mil anos, em 1017, havia muitas coisas que as pessoas não
sabiam sobre o futuro, mas podiam ter certeza sobre as características básicas
da sociedade humana. Se você vivesse na Europa em 1017 sabia que em 1050 os
Vikings poderiam invadir novamente, as dinastias poderiam cair e as pestes ou
terramotos poderiam matar milhões. No entanto, era claro para si que mesmo em
1050 a maioria dos europeus ainda trabalharia na agricultura, os homens ainda
dominariam as mulheres, a expectativa de vida seria de cerca de 40 anos e o
corpo humano seria exatamente o mesmo. Hoje, pelo contrário, não fazemos ideia
de como a Europa ou o resto do mundo vai ser em 2050. Não sabemos o que as
pessoas farão como trabalho, não sabemos como serão as relações de género, as
pessoas poderão viver muito mais do que hoje e o próprio corpo humano pode
sofrer uma revolução sem precedentes graças à bioengenharia e a interfaces
diretas entre cérebro e computador.
Consequentemente, pela primeira vez na história, não fazemos
ideia do que ensinar às crianças na escola ou aos estudantes na faculdade. Em
1017, os pais ensinaram aos seus filhos como plantar trigo, como tecer lã, ou
como ler a Bíblia e era óbvio que essas capacidades ainda seriam necessárias em
1050. Pelo contrário, a maior parte do que as crianças aprendem hoje na escola
será irrelevante em 2050.
Sabemos que tecnologias como a IA e a bioengenharia mudarão
o mundo, mas não temos certeza de como o farão, porque a tecnologia nunca é
determinista. Podemos usar os mesmos avanços tecnológicos para criar tipos
muito diferentes de sociedades e situações. Por exemplo, no séc. XX, as pessoas
podiam usar a tecnologia da Revolução Industrial - comboios, eletricidade,
rádio, telefone - para criar ditaduras comunistas, regimes fascistas ou
democracias liberais. Basta pensar na Coreia do Sul e na Coreia do Norte: os
dois países tiveram acesso exatamente à mesma tecnologia, mas eles optaram por
empregá-la de maneiras muito diferentes.
No séc. XXI, a ascensão da IA ??e da biotecnologia irá
certamente transformar o mundo, mas isso não implica um resultado determinista
único. Podemos usá-las para criar tipos muito diferentes de sociedades. Como
usá-las sabiamente é a questão mais importante que a humanidade enfrenta
atualmente. É muito mais importante do que a crise económica mundial, as
guerras no Médio Oriente ou a crise dos refugiados na Europa. O futuro, não só
da humanidade, mas provavelmente da própria vida, depende de como escolhemos
usar a IA e a biotecnologia.
Para dar um exemplo, consideremos o que a biotecnologia pode
significar para a criação de animais. Atualmente, os seres humanos tratam os
animais de criação, como vacas, porcos e galinhas, como se fossem apenas
máquinas para a produção de carne, leite e ovos. Nós infligimos um sofrimento
tremendo a biliões de seres sensíveis, que conseguem sentir dor, medo e
solidão. Os avanços na biotecnologia dão-nos agora uma escolha. Por um lado,
podemos usar a biotecnologia para criar vacas, porcos e galinhas que crescem
mais rapidamente e produzem mais carne, sem pensar no sofrimento que infligimos
a esses animais. Por outro lado, poderíamos usar a biotecnologia para criar o
que é conhecido como "agricultura celular" ou "carne limpa"
- carne que é produzida em laboratórios a partir de células animais, sem
necessidade de criar e abater criaturas inteiras. Se quisermos um bife,
poderemos limitar-nos a produzir um bife, em vez de criar e abater uma vaca
inteira. Isso não é ficção científica. O primeiro "hambúrguer limpo"
foi produzido em 2013. É verdade que custou 330 000 dólares, mas, hoje,
produzir um hambúrguer desses custa apenas 11 dólares, e dentro de alguns anos
é provável que custe menos do que um hambúrguer de "carne abatida".
Com a investigação e o investimento certos, dentro de uma década ou duas
poderíamos produzir carne limpa em escala industrial, que será mais barata,
mais ecológica e mais ética do que criar vacas. A escolha depende de nós.
Clique aqui PARA LER EM FORMATO E-BOOK
OUTRA LEITURA IMPRESCINDÍVEL NA CONJUNTURA ATUAL
Falácias de Moro: entre paralogismos e sofismas
Está
para ser lançado o livro “Falácias de Moro: Análise Lógica da Sentença
Condenatória de Luiz Inácio Lula da Silva”, de autoria de Euclides Mance,
filósofo, professor de Filosofia do Método Científico e de Lógica, ex-docente
da Universidade Federal do Paraná e atualmente integrante da coordenação geral
do Instituto de Filosofia da Libertação.
O
livro, com 276 páginas, será lançado nos próximos dias pela Editora IFIBE, e já
está disponível para acesso em
A
Lógica é a ciência que estuda a relação de consequência entre proposições,
respondendo, assim também, por teorias da argumentação correta nos domínios
da
linguagem comum e científica. Ciências particulares terão seus conceitos
próprios e regras para seus empregos adequados; mas, assim como seus cálculos
têm de ser feitos com as regras da aritmética, seus argumentos precisam
espelhar relações de consequência válidas, caso contrário serão apenas instrumentos de uma retórica carente de
racionalidade. Uma sentença jurídica,
que pretenda ser justa, não pode ignorar, assim, os requisitos da inferência válida
e correta, seja ela de natureza
abdutiva, indutiva ou dedutiva.
Em seu livro, o Prof. Mance apresenta uma análise lógica, bem feita,
sobre raciocínios e argumentos utilizados pelo juiz Sérgio Moro no corpo da
sentença por ele emitida, relativa ao processo em que o ex-Presidente Lula
figura como réu, no caso do apartamento triplex do Guarujá. O filósofo
estuda, detalhadamente, a longa sentença - que pretende provar a culpa do réu e justificar sua
condenação - mostrando que o emprego de diversas inferências falaciosas
desqualifica as conclusões obtidas.
Nas
Considerações Iniciais, o autor, de forma didática, apresenta a definição do
conceito de falácia - erro de raciocínio, argumento sem garantia formal de que a conclusão decorre
das premissas; e apresenta algumas noções lógicas básicas, como a de
condicional e bicondicional, discutindo quando uma condição é necessária,
quando é suficiente, e quando é necessária e suficiente. O domínio do
significado destas noções, entre outras, é fundamental, para quem pretende
derivar corretamente conclusões a partir de hipóteses ou de premissas
verdadeiras.
Mance lembra ainda que, quando cometida de forma
involuntária, a falácia se classifica como ‘paralogismo’, mas quando implantada
de forma proposital em um raciocínio, visando confundir o interlocutor, é dita
um ‘sofisma’. Os sofistas eram professores e intelectuais itinerantes que
frequentavam Atenas e outras cidades gregas na segunda metade do quinto século
a.C., ensinando a arte de influenciar pessoas através da persuasão retórica. A
partir daí, há 25 séculos, sofismar tem sido entendido como procurar
influenciar cidadãos, na política e em outras áreas, através de persuasão
enganosa.
Na sequência, o livro se divide em duas partes. Na
primeira parte, são discutidos
dez
trechos da sentença condenatória, onde o autor encontra, e analisa com
propriedade, falácias de vários tipos: Apelo à Crença Comum; Circularidade; Argumentum ad Hominem; Non Sequitur; Apelo à Presciência, ou
Falácia dos Mundos Possíveis; Apelo à Possibilidade; Equivocação; Inversão do
Ônus da Prova.
Na
segunda parte, o filósofo aprofunda sua análise sobre as implicações das
falácias discutidas e sobre como elas se articulam na argumentação do juiz para
justificar a condenação.
Professores
universitários e pesquisadores na área de Lógica, decidimos manifestar
publicamente nosso apoio e concordância com a análise e conclusões do colega
Euclides Mance. Com efeito, estamos convencidos de que Mance demonstra,
com perspicácia e competência, que o juiz Sérgio Moro incorreu em inúmeros
erros lógicos no conjunto de raciocínios e argumentações, cometeu equívocos em
aplicações de regras de inferência lógica, além de ter várias vezes assumido
hipóteses e premissas sem critério de veracidade. Em suma, a sentença do juiz
nos surpreende e nos assombra, enquanto profissionais, com a série de
argumentos inaceitáveis que apresenta.
É na
condição de membros da comunidade de uma área do conhecimento em que o Brasil
se destaca no cenário acadêmico internacional que acreditamos ser dever nosso,
como cidadãos e profissionais, contribuir com a Justiça de nosso país, visando
prevenir que quaisquer réus venham a sofrer condenações injustas, baseadas em
conclusões de argumentos, cuja fragilidade, fartamente denunciada desde a
antiguidade grega, é amplamente conhecida.
Abílio
Rodrigues Filho
Doutor em Filosofia, UFMG
Professor de Lógica, Departamento de Filosofia, UFMG
Adolfo
Gustavo Serra Seca Neto
Doutor em Ciência da Computação, USP
Professor Associado, Departamento Acadêmico de Informática, UTFPR
Alexandre
Costa-Leite
Doutor em Filosofia, Université de Neuchâtel, Suíça
Professor Adjunto de Lógica e Filosofia, UnB
Alexandre
Noronha
Doutor em Filosofia, UFRGS
Professor Adjunto, Departamento de Filosofia, UFPR
André Leclerc
Doutor em Filosofia, Universidade do Quebec,
Canadá
Professor Associado, Departamento de
Filosofia, UnB
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Para quem quer se inteirar da Análise de Discurso:
"“Olhares sobre tecnologias digitais” é uma coletânea de quinze artigos retratando um panorama de pesquisa produzida em diferentes regiões do Brasil. Em perspectivas das mais diversas, a coletânea descortina estudos voltados para a questão da tecnologia e da linguagem. Os trabalhos procuram evidenciar os efeitos sociais e educacionais da tecnologia digital na sociedade contemporânea."
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Para quem quer se inteirar da Análise de Discurso:
“Cristiane explicita seu interesse em compreender a ordem do
discurso digital. Busca o entendimento de como o simbólico, na relação com o
político, determina sentidos e também sujeitos. E o faz pela questão que
investe em responder: como o digital significa. Este é o real, esta é a
“ordem”. Considero este um dos pontos altos deste livro de Cristiane e de seu
trabalho, em geral; ela não estaciona na observação e descrição da organização
dos discursos. Isso seria mais uma taxonomia. Ela vai mais longe, lutando pela
sua compreensão: visa a ordem do discurso digital. Desmistificação da
“naturalização” dos sistemas lógicos digitais (como apps de smartphones, como o
Tinder, Bumble, ou facebook, tuíter, googlemaps, etc) em seu funcionamento em
nosso cotidiano. Fica dito de maneira
forte que o digital produz um novo tipo de relação entre o sujeito e o social,
uma nova relação das práticas políticas e discursivas. Sua compreensão passa
pela sobredeterminação do político ao econômico, ao consumo, ao mercado de
dados. Resta avaliar, quantos são capazes dessa compreensão. Daí o meu entusiasmo
por uma reflexão funda como a de Cristiane que dá um passo fundamental tanto
para a teoria do discurso como para a compreensão maior da tecnologia digital.
Mesmo se resta sempre o desafio: o passo teórico foi dado.” Eni Puccinelli Orlandi - precursora da AD no Brasil
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Para quem está em sala de aula ou para quem busca se atualizar:
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"“Olhares sobre tecnologias digitais” é uma coletânea de quinze artigos retratando um panorama de pesquisa produzida em diferentes regiões do Brasil. Em perspectivas das mais diversas, a coletânea descortina estudos voltados para a questão da tecnologia e da linguagem. Os trabalhos procuram evidenciar os efeitos sociais e educacionais da tecnologia digital na sociedade contemporânea."
Por Rosana Cristina Gimael em: