Rosana Gimael Blogueira

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sexta-feira, 10 de agosto de 2018

ENTENDENDO O DISCURSO DE "AGRO É TECH, AGRO É POP, AGRO É TUDO"



Desde o  mês de junho de 2016, a TV Globo passou a exibir uma propaganda chamada “Agro é Pop”, produzida pela própria emissora para fortalecer o agronegócio no país. Mas o que existe por trás dessa aliança, que inclui o próprio presidente interino Michel Temer?

A relação dos grandes veículos de comunicação com os setores hegemônicos da economia brasileira não é novidade para ninguém. Há pouco mais de dois anos, a Rede Globo, começou a circular em seus canais a propaganda “Agro é Pop”.
Junto a isso, a emissora é agora um dos principais veículos de divulgação de campanhas publicitárias da JBS-Friboi e produtora de conteúdo para a empresa com uma plataforma digital instalada na Globo.com. Financiadora de 50% das campanhas do PT e do PSDB em 2014 e alvo da Operação Lava Jato, o grupo JBS doou oficialmente R$ 22,6 milhões ao PMDB em 2014 de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE.).

A JBS já foi fiscalizada diversas vezes com relações de trabalho análogo a escravidão, danos morais coletivos, descumprimento de normas trabalhistas, compra de gado de fazenda inclusa na lista suja do trabalho escravo e da família do maior desmatador da Amazônia (família Castanha).
Mas o que existe por trás dessa aliança entre a Rede Globo e o agronegócio? E qual a relação do presidente interino Michel Temer com isso?
Esse processo de aproximação entre a Rede Globo, considerada um dos veículos “articuladores” do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por seus opositores, com o agronegócio, ocorre ao mesmo tempo em que o presidente interino Michel Temer também tenta fortalecer essa relação.

No final de junho passado, o presidente interino sancionou a lei Nº 12.201/16, que permite a pulverização aérea nas cidades do Brasil para “comnbater o Aedes Aegypti”.
Com essa medida, o governo tenta fortalecer o agronegócio, um dos mercados mais lucrativos da economia brasileira — além de um dos principais financiadores de campanha política, com forte presença no Congresso Nacional, através da Bancada Ruralista.
Com o mesmo objetivo, o governo interino nomeou Blairo Maggi para o Ministério da Agricultura, o famoso “rei da soja”. Durante os anos de crescimento do uso de agrotóxico, as empresas do “rei da soja” dispararam seus lucros. Em 2011, todas suas empresas juntas faturaram cerca de U$3,78 bilhões — cerca de 60,8% a mais na comparação com a receita dos três anos anteriores. Mesmo em crise, o mercado ainda favorece positivamente o agronegócio e as empresas do atual ministro interino.

No dia 4 de julho de 2016, em mais uma investida de Temer na área, o presidente interino marcou presença no evento internacional Global Agribusiness Forum 2016, principal encontro do agronegócio mundial, realizado em São Paulo.
Lá, o presidente interino foi fortalecido pelos empresários do agronegócio, após ter sancionado a lei que deve favorecer os lucros dessas empresas. Das mãos da Confederação Nacional da Agricultura, recebeu um manifesto assinado por 45 entidades, afirmando que Temer tem “legitimidade consitucional”, além de contar “com o comprometimento de uma equipe econômica competente”.

Segundo o dossiê Abrasco, cerca de 34.147 notificações de intoxicação pro agrotóxico foram registradas de 2007 a 2014. O período coincide justamente com a porcentagem de aumento do uso de agrotóxicos no Brasil, cerca de 288% entre 2000 e 2012. Só em 2014, a indústria responsável faturou mais de U$12 bilhões no Brasil.
Com a investida em prol do agronegócio pelos meios de comunicação e pelo próprio governo interino, o que parece surgir é uma tentativa de criar uma espécie de “bloco de resistência” contra uma possível reviravolta no processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff.

A Bancada Ruralista conta com uma forte presença no Congresso Nacional — sendo dela o papel articulador da “virada de jogo” contra Dilma no ano passado, tornando possível a aprovação do seu processo de impeachment na Câmara dos Deputados.

 “Agro é Pop, Agro é Tudo”: os donos do poder e a  manipulação da   comunicação

Fonte/Imagem: Conexão Planeta
 28 de junho de 2018.  Giem Guimarães 
Disponível em Conexão Planeta
http://conexaoplaneta.com.br/blog/agro-e-pop-agro-e-tudo-os-donos-do-poder-e-a-manipulacao-da-comunicacao/

As grandes empresas de rádio e televisão são detentoras de concessões públicas para a exploração da comunicação utilizando-se do espectro de radiofrequências – elevado à categoria de bem público (lei 9.472/97). Elas recebem uma delegação do Estado para atender a finalidades e interesses públicos por meio da exploração de tais serviços (artigo 21, da CF/88). Portanto, as regulamentações que organizam suas atividades, trazem, dentre suas obrigações, deveres para com a sociedade.

Infelizmente, a confusão entre o público e o privado no Brasil é gigantesca e histórica, principalmente, nas atividades desempenhadas pelo Estado brasileiro. A fiscalização da coisa pública aqui, como sabemos, é muito precária e repleta de corrupção por todos os lados. No caso das empresas de mídia – traumatizados que somos pela censura – criou-se um “animal estranho”, o CONAR (Conselho Nacional de Auto-regulamentação publicitária), para exercer essa fiscalização. Trata-se de uma entidade privada sem fins lucrativos que não tem nada haver com o poder judiciário.

Cabe ressaltar que, quem escolhe os conselheiros do CONAR são entidades que dependem de gastos publicitários. A maior parte das vagas para o Conselho de Ética do conselho decorre de indicações das entidades fundadoras e associadas a ele, como ABA, Abap, Abert, Aner, ANJ, Central de Outdoor, ABTA, Feneec e IAB Brasil, por exemplo. Talvez seja por isso que, volta e meia, assistimos bestificados às barbaridades que adentram em nossos lares na forma de programas e propagandas que, na verdade, prestam um desserviço à sociedade.
Pode-se dizer que as campanhas massivas e nacionais intituladas “Agro é Tudo”, apoiadas pela Ford e Seara (pertencente ao grupo JBS) na Rede Globo, e a “Nosso Agro”, veiculada na Rede Bandeirantes, são parte desse rol de publicidade ruim. Essas campanhas caríssimas e massivas são um exemplo de tentativa de manipulação da opinião pública em prol de um setor que, em tempos de crise, posiciona-se arrogantemente como “salvador da pátria”.

Do ponto de vista econômico, a atividade agropecuária brasileira tem se destacado pela exportação de carnes e soja. A maior parte da produção destas commodities está concentrada nas mãos de uma pequena parcela da sociedade brasileira, que ocupa o topo da pirâmide. Ela representa um pequeno substrato da população que pode gastar em torno de 150 mil reais em caminhonetes de luxo, tal qual anunciadas nos comerciais das referidas campanhas de conteúdo impreciso.

Segundo uma das propagandas, o “agronegócio brasileiro emprega 19 milhões de pessoas”, o que representaria “20% do total de empregos no país”. Acontece que quem mais emprega no campo é a agricultura familiar, com 11,5 milhões de trabalhadores. Manipulam-se, portanto, os números para demonstrar que o agronegócio é o grande gerador de empregos.
É preciso esclarecer que a “elite ruralista” concentra mais da metade das terras do país, além de contar com enormes benefícios fiscais como perdões de dívidas pelo governo. Esta gente – que hoje divide com a bancada evangélica a hegemonia no reino político de Brasília – gera menos emprego que a agricultura tradicional.
Na verdade, o que se viu na sequência de comerciais – entre um comercial de produto aqui e um dado setorial ali – foi um grande esforço conjunto do agronegócio no Brasil para melhorar sua imagem. Imagem esta desgastada por inúmeros escândalos pouco divulgados pela imprensa, que depende dos investimentos publicitários do agronegócio.
Escândalos que começam com o envolvimento do próprio ministro da agricultura, Blairo Maggi, um dos maiores plantadores de soja do mundo. Denunciado recentemente pela Procuradoria Geral da República por corrupção ativa, o ministro, cujo nome é sinônimo de agronegócio, também já foi investigado por crimes ambientais. É de se perguntar se a nomeação de Maggi por Temer, para o ministério da agricultura, seria legalmente possível em países desenvolvidos. No caso de Maggi, “agro é puro”. Puro conflito de interesses. Colocar a “raposa cuidando das galinhas” não parece ser algo prudente, ainda mais em países como o Brasil. Fizesse Maggi parte de um conselho setorial que pudesse auxiliar o governo, ainda vá. Mas nomeá-lo ministro da agricultura, é como colocar Eike Batista presidindo a Petrobrás.

Outro escândalo, ainda mais relevante é o envolvimento do atual presidente da república e de boa parte dos parlamentares brasileiros com a JBS, grande “doadora” da chapa Dilma-Temer. Em mais de uma ocasião, dada a gravidade das delações, o atual governo veio abaixo, mas foi salvo pela bancada ruralista e outros integrantes Congresso Nacional. A JBS responde por inúmeras irregularidades trabalhistas, tributárias e ambientais. Além de ser protagonista em um dos maiores esquemas de corrupção da história do Brasil e quiçá do mundo.

Não faz muito tempo, outro escândalo de proporções mundiais envolvendo o suborno de fiscais do governo na fiscalização da carne abalou a indústria brasileira e muitas exportações precisaram ser suspensas. Não faltam, portanto, motivos aos senhores do agronegócio para tentarem melhorar a imagem institucional do setor a qualquer custo. Esta melhoria de imagem também pode ser-lhes útil na tentativa de aprovação de novas leis afrouxando ouso de agrotóxicos, hormônios e fertilizantes.

Mas por que os publicitários brasileiros não possuem olhar mais crítico sobre as mensagens inverídicas sobre o agro? Talvez porque, para algumas empresas de comunicação, agro seja realmente tudo. De rentável. Num outro recente episódio, a GM/Chevrolet, propagandeou uma caminhonete, nas palavras do jornalista André Trigueiro, “utilizando um discurso raivoso e beligerante de lideranças do agronegócio contra ambientalistas”. O texto do comercial, de tão agressivo, abala o prestígio da montadora e da agência de propaganda que assina o comercial.

Uma denúncia sobre esta propaganda foi levada ao CONAR, exigindo que o caso fosse analisado por uma comissão interna. A bancada, formada na maioria por pessoas ligadas a empresas de mídia e publicidade, no entanto, não viu problema algum na peça publicitária da GM. Mas basta assistir uma vez o comercial para entender que o conselho errou de maneira grosseira. A propaganda fomenta a discórdia e a animosidade.

Em seu livro “Homo Deus”, Yuval Harari -link para download desse livro em postagem anterior, neste blog - nos conta que antes do agro, a vida em sociedade era mais equilibrada e a escassez de alimentos funcionava como um regulador natural da população. Na verdade, os primeiros Homo sapiens e neandertais caçadores-coletores, conseguiram sobreviver por longevos 20 mil anos dessa maneira. Ainda segundo o autor, a agricultura foi, na verdade, o começo do fim para muitos. Com ela vieram ondas de extinção em massa e a propriedade privada e seus conflitos, que produziram a maior parte das guerras da humanidade.

Não se trata aqui de nenhuma apologia a ideologias retrógadas. Precisamos sim do agronegócio. Esta última reflexão é apenas um olhar científico sobre o verdadeiro significado histórico e antropológico do que realmente é o agro. Por meio de um olhar mais amplo, fica claro que há necessidade de mais equilíbrio no meio publicitário e maior transparência em instituições como o CONAR.
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As verdades inconvenientes que a campanha “Agro Pop”  tenta esconder

por Equipe OBHA | 22, fev, 2017 | + água no feijão | 

Disponível em Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz): 

Texto publicado no site Ideias na Mesa no dia 21/02/17 de autoria do nutricionista Rafael Rioja.
Desde meados de 2016 a Globo passou a exibir no horário nobre de sua programação e com múltiplas entradas a campanha “Agro é Pop, Agro é Tech, Agro é tudo”. Concebida pela gerência de Marketing e Comunicação da própria emissora, os vídeos de 1 minuto continuarão a ser “martelados” nos intervalos das novelas, jornais e programas até junho de 2018.

Segundo os criadores, a campanha têm entre outros objetivos: “tratar a importância dos produtos agrícolas e das coisas do campo; procuramos também sempre citar quantos empregos aquela atividade agrícola gera e quanto ela movimenta na economia”
O Brasil é sem dúvida um país de vocação agrícola fruto de nossa exuberante biodiversidade, e não por outra razão, tivemos em nossas terras desde que os europeus “descobriram” nossos povos indígenas e nossas riquezas naturais, seguidos ciclos de produção capitaneados por diferentes caravanas colonizadoras. Nos dias de hoje, essa riqueza agrícola continua, sem sombra de dúvidas, a movimentar a economia brasileira. 

Mas o que realmente está por trás da campanha “Agro é Pop” e quais as verdades inconvenientes que ela tenta esconder?

Agro é Tech  

A retórica de que o agronegócio gera riquezas e atua no combate a fome não é recente e nem exclusividade brasileira. A “Revolução Verde” iniciada nos Estados Unidos na década de 50, e que de verde mesmo teve só o nome da cor, trouxe a promessa de acabar com a fome no mundo através do uso da tecnologia aumentando a produção de alimentos. Em termos absolutos, a produção de gêneros alimentícios aumentou, mas mesmo décadas depois, problemas como a fome e a insegurança alimentar e nutricional continuam a assolar mais de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo.

O grande legado da dita “Revolução Verde” foi na verdade a concentração de grandes porções de terras nas mãos de poucos latifundiários e o escoamento de pacotes tecnológicos e de insumos por multinacionais estrangeiras que incluíam agrotóxicos com princípios ativos excedentes da segunda guerra mundial, fertilizantes químicos e sementes transgênicas destinados a países em desenvolvimento como o Brasil.

Em território nacional, agrotóxicos banidos na União Européia e em outros países no mundo circulam com isenção de impostos e linhas de créditos bancárias para pequenos agricultores condicionadas ao uso dos venenos. Esse cenário levou o Brasil à condição de maior consumidor de agrotóxicos do mundo com sérias implicações para a saúde humana incluindo consumidores e trabalhadores rurais, e para o meio ambiente. A Associação Brasileira de Saúde coletiva (ABRASCO), compilou em 2015 sua versão mais recente do Dossiê: “Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde“, livro com mais de 600 páginas reunindo artigos, estudos e pesquisas mostrando entre outros aspectos, as contaminações pelo uso de agrotóxicos que vão desde o comprometimento de aquíferos locais até a presença de compostos tóxicos no ar e no leite materno.

Além de se destacar no consumo de agrotóxicos, o agronegócio brasileiro também nos colocou no patamar de maiores produtores de milho e soja transgênica ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Do ponto de vista da segurança para saúde humana do consumo de organismos geneticamente modificados (OGM), a publicação “Lavouras Transgênicas” analidou 750 trabalhos publicados e mostrou que a única certeza é de que não existe consenso científico sobre o consumo seguro deste tipo de alimento. Não resta dúvidas, no entanto, dos sérios agravos para biodiversidade, soberania e segurança alimentar causados pelo monopólio de patentes das multinacionais que controlam a produção de OGM. Recentemente a equipe do IM traduziu matéria alertando que pequenos agricultores da Tanzânia, estão sendo criminalizados por utilizar e trocar sementes nativas ao invés de comprar as sementes transgênicas  da Syngenta. A situação de extrema gravidade não é exclusividade do país Africano e se repete em outras regiões.

O Brasil saiu em 2015 pela primeira vez na história do mapa da fome segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e essa conquista foi possibilitada não pelo modelo “Agro Tech” sinônimo de agrotóxicos e sementes transgênicas. De acordo com a entidade, os principais fatores que possibilitaram essa conquista foram as políticas de combate a fome e insegurança alimentar e nutricional que resultaram nos programas como o “Fome Zero” e o “Bolsa Família”. As iniciativas de transferência de renda e o fornecimento de uma alimentação adequada e saudável por meio de diferentes ações e programas foram de fundamental importância para esse novo cenário.

O que a campanha do agronegócio esconde atrás do “Tech” é o que ele realmente significa e quem verdadeiramente lucra com as riquezas geradas. Acompanhe a coluna de quinta feira para saber da onde vem a popularidade do “Agro Pop” e por que esse modelo de negócio “Agro(não) é Tudo”.






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