Cosmópolis, 15 de abril de 2010.
QUERIDO AMIGO RODOLFINHO
Hoje faz um mês que você se
foi, faz um mês que você se libertou das
dores, do sofrimento.
Você, com essa sua alma
musical, deve estar flutuando no paraíso que lhe é cabido,
cercado de anjos entoando melodias transcendentais ao som de harpas e flautins.
Pensar em você é me
transportar de volta à infância.
Em “Busca do Tempo Perdido”,
de Marcel Proust, o personagem protagonista do livro viaja através dos cheiros
que guarda na “memória” para resgatar alegrias antigas. E eu viajo agora através de você, mistura de
cheiros e “sabores” de ternura, alegria, sensibilidade, coragem, refúgio seguro
onde me abriguei centenas de vezes.
Passamos a infância toda
juntos, você tentando em vão apartar as brigas entre mim e o Zinho, você e eu
com D. Estela e D. Nena entre solfejos e acordes ao piano, tocando Chopin a
quatro mãos.
Quando angústias e sonhos
apontavam na adolescência e juventude, lá estava você por perto,. E lá
estávamos nós conversando por horas a fio na esquina do Itaú ou sob o sol
escaldante, no Paredão...
Ouvíamos Janis Joplin,
identificávamos com a intensidade e vibração da voz dela; amávamos as letras, a
melodia e o que ela representava: a ruptura com a acomodação, com a mesmice,
com a hipocrisia. Você me deu o “bolachão” de vinil dela e, agora,
no final da sua caminhada, eu lhe dei o livro autobiográfico. Seus olhos
brilharam intensamente e, mesmo sob o efeito
de pesados remédios que o
deixavam em transe, você sorriu e me
disse: “ A qualquer momento as dores passam e eu lerei, com certeza!”
Era 16 de dezembro, eu
estava indo pra praia. Foi a nossa despedida se é que podemos chamá-la assim.
Você foi mais que um amigo,
foi um irmão. Você fez parte de muitos momentos importantes. Você foi o
primeiro a saber da minha gravidez, o
primeiro a dizer: “ Vá em frente, mulher, você é capaz, assuma seu poder,
impossível não dar tudo certo!”...
Você participou das festas
de aniversário do meu filho e, na primeira delas, foi você quem fez o bolo (de morango)
arrasador para 150 pessoas. .. e ele cresceu
ouvindo eu falar de você.
Comemorávamos, sempre
que podíamos , as pequenas conquistas,
as grandes vitórias.
A você, confiei “segredos”
que você levou consigo pra eternidade. Com você, ri, chorei, desabafei, viajei.
Tivemos nossos “altos e
baixos” parecidos, identificávamo-nos com muitas coisas, exceto por você não
curtir o lado “natureba”da alimentação. Você não
conseguia entender como eu conseguia comer tantas maçãs (6 a 8 por dia!) com
semente, casca e tudo...
Você não quis me devolver a
foto 3X4 em que apareço estrábica (vesga mesmo!). Você sempre me dizia que
quando eu aprontasse alguma, você entraria com ela em cena pra “arrebentar...
rsrsrs.
Nos últimos anos, afastada
de Cosmos, encontrávamo-nos esporadicamente ora em Paulínia ora em Cosmos , em
reuniões entre amigos e familiares e aí, eram horas e horas de papos
intermináveis.
Você estava feliz com suas
realizações, mais centrado do que nunca, mais forte do que nunca, haja vista a
luta que você travou pela vida.
Depois, mesmo debilitado,
incentivava-me dando os seus puxões de orelha, ria comigo, ríamos de tudo que
tinha ficado pra trás de ruim e comemorávamos onde havíamos chegado – a duras
penas.
Falar de você é sentir você
plenamente comigo, é saber que tive o privilégio de ter por perto um guardião
querido, um herói – menino que, por onde passou, deixou luz, deixou
carinho, deixou a essência maior: a tradução plena do amor incondicional
ao próximo!
E ainda conseguiu me dar de
presente a possibilidade de rever pessoas queridas em sua partida, deu-me a
possibilidade de“rever” o meu passado e a
oportunidade de prosseguir com outros olhos.
É isso. Você é assim...um anjo inundando luz por onde passa.
Até um dia, meu doce, adorável
e inesquecível amigo, presentaço de Deus pra mim!!!!
Abraços cheiinhos de muuuita
saudade!! De sua eterna amiga
Rosana Gimael