Sob o compasso do deus do tempo
Lento dormente devorador
A espera vai se preenchendo na plenitude do espírito
E se encontra nas cavidades
E nelas se esgota e se perde.
No pulsar do sangue
O côncavo procura - em vão - o convexo na noite oca
A distância de oceanos separa amantes
O amor posto que ausente empalidece anêmico
E a dor da saudade sentida
Ecoa latente
E segue
Ferindo feito faca afiada
Cravada no sôfrego peito.
Então mergulho em águas cristalinas
E encontro você no azul
E nos beijamos
E de nossas bocas em movimento vivo
Saem peixinhos e flores
Cores e fragrâncias indefiníveis.
E no tremular das ondas
Sem querer nos mordemos
Essa dor é doce
E se nos afogamos
Num breve absorver simultâneo de fôlego
Essa instantânea morte é bela
E encerra a noite mais um dia
E encerra a noite mais um dia
De ausência diluída em música
Em escritos desmedidos débeis vãos
Em acordes esvaindo-se fluidos no firmamento
E no sentir dos corpos que se clamam e que se ouvem.
Cala-se então o desejo no torpor do Beaujolais-Nouveau
E então sinto ali no tinto encorpado e jovem
O teu sabor frutado
O teu tremular contra mim
Como uma lua na água ondeada...
E diante das labaredas da fogueira alta em noite de gelo
Aos pés da montanha
Eu te desenho
E te espero.
* Inspirada pelos clássicos das letras, da música, pela Lua, pelas estrelas, por Apolo...