Deixaria algumas pendências
Não poderia ir em paz
.
Se eu partisse hoje
Seguiria sob sons de Gardel Paco de Lucia Chopin
Não seguiria desapegada
De “amores com seus
tremores”.
Se eu partisse hoje
Ao chegar a destino (in)certo
Tentaria negociar com o Divino
Pediria mais um tempo
Pra poder ouvir todas
as músicas que não deu tempo de ouvir
Pra poder beijar mais uma centena de vezes
A boca de alguém que mais desejei
Em madrugada fria
Em tarde de sol escaldante
Em amanhecer de
cantos nobres
Em noite de lua cheia.
Sentiria muita falta de minhas incursões
Em sons leituras degustações
Se eu partisse hoje.
Não poderia seguir contente
Sem ter tido tempo pra velejar
Por outros mares
Nem ter dançado a última dança
Com um certo alguém que me faria levitar
E sonhar sonhos deliciosamente loucos...
Não poderia seguir feliz
Sem me despedir triunfalmente
Dos meus anjos de quatro patas.
Se eu partisse hoje
Seguiria indolente
E daria trabalho
Aos que por ventura me recebessem de braços abertos
No destino (in)certo.
Se eu fosse de repente
Sem direito à escolha
Seria tragada pelas
ondas do mar
E todos ficariam na
dúvida-morreu não morreu?
Se eu partisse hoje
Iria angustiada
Sem minha alma –par.
Mas iria realizada
Pelo tesouro deixado
na Terra
Meu legado maior
O melhor de mim: meu filho.
Se eu partisse hoje
Deixaria escritos
Alguns livres por aí
Outros calados em
arquivos.
Teria a única certeza de que
Nunca desisti de amar
Nem de ter fé
Nem de acreditar nas pessoas
E na vida.
Se eu partisse hoje
Seria depois de ter ouvido
Pingos de amor pela centésima vez com “Papas da Língua”
Com alguém pra lá de especial!
Se eu fosse de repente
Iria plena de boas
coisas
Que a vida me presenteou
Mas iria com a sensação de “quero mais”
Muito mais.
Porque é bom demais viver e sentir tantas coisas legais
E é judiação demais
partir
Sem saber se há coisa melhor por lá
No destino (in)certo!
Se eu partisse hoje
Talvez tivesse um
certo burburinho
Em redes sociais
Quem sabe até lindas mensagens
Desejando que eu fosse em paz
E algumas horas
depois
Tudo voltaria ao “normal”...
Porque a vida urge
A vida segue
Porque assim é!
Se eu fosse sem tempo pra despedidas
Pediria apenas que
As pessoas se lembrassem
de mim
Em dias luminosos
Em noites enluaradas
Ritmados por lindas canções que traduzissem
Um sentimento maior
E o barulho das ondas – hoje -de ressaca
Traduziria
A minha teimosia
Em não ter querido
partir.