Show em Garopaba-SC em 2013 |
Uauuu! Cheguei na hora, sem nenhum contratempo, vaga
perfeita para o carro, multidão civilizadíssima - coisas do sul? E, de repente,
cessou a chuvinha besta.
Já havia ido a dois shows dele. O de S. Thomé foi surreal,
tamanha a energia que dele emanou e se espalhou pela multidão. Não perderia esse por nada. Amo esse
homem, cujas canções me embalaram as
tardes em Cosmópolis quando, das janelas envidraçadas da casa de minha mãe, eu
mirava o Morro Castanho, sonhando com
novos horizontes, decifrando as letras de suas músicas, imaginando no
que este homem se inspirava pra dizer o que dizia...Beeeem depois vim a saber.
Mas isso fica pra uma próxima crônica!
E ali estava ele, um
nordestino desprovido de uma bela estampa, mas com um carisma
descomunal, elegante em todos os
sentidos. E ali, no gargarejo, estava eu
e Zeus, cantando e dançando todas as suas (16)
músicas, sendo abduzidos pra
outras galáxias, viajando em e com as suas melodias.
“Rebuscando a consciência, com medo de viajar, vejo um velho
cruzar a soleira de barbas longas: é o meu velho e indivisível Avorai...avô e pai. São os olhos, são as asas de Avorai”, mas
poderiam ser do meu querido vô NATO – sem as barbas longas - que tão sabiamente
nos conduzia a novas descobertas, nos lindos tempos de Cosmos.
“Eu desço dessa solidão e espalho coisas sobre o chão de
giz, há meros devaneios tolos a me torturar... eu vou te jogar num pano de
guardar confetes”... e lá vêm amores
represados, sufocados, mal vividos, não correspondidos.
“Eu entendo a noite como um
oceano que banha de sombras um mundo de sol, aurora que luta por um
arrebol de cores vibrantes e ar soberano...
além, muito além do que quero chegar caindo a noite me lanço no mundo, além do limite do vale profundo que
sempre começa na beira do mar”...sempre o mar, feito esfinge, pronto pra ser decifrado ou nos devorar.
“Ah, eu não sei se eram os antigos que diziam em seus papiros que nas torturas toda carne se trai”...as torturas que as engenhosas
paixões(tão irracionais) nos trazem e os sorrateiros trancos do destino para os
que não conseguem suportá-los (ou superá-los!).
“Foi um tempo que o
tempo não esquece ...que os trovões eram roucos de se ouvir e todo o céu
começou a se abrir numa fenda de fogo” ... pode
nos remeter à busca incansável da
espiritualidade. “E o poeta inicia a sua prece, escrevendo seus novos mandamentos na fronteira de um mundo
alucinado, cavalgando agalopado e viajando com loucos pensamentos” ...e lá vamos nós, viajantes, em uma profusão de
dúvidas que balançam nossas crenças, que nos
reforçam as iminentes crises existenciais.
“Sete vezes eu me ajoelhei
na presença de um ser iluminado, como um cego fiquei tão ofuscado ante o
brilho dos olhos que olhei...mas a mente
talvez não me atenda, então eu prefiro um galope soberano à loucura do mundo me
entregar” ...vai consolidando minhas impressões sobre o mundo e
descortinando as janelas da alma.
“Acho bem mais do que
pedras na mão dos que vivem calados, pendurados no tempo, esquecendo os
momentos, na fondura do poço, na
garganta do fosso, na voz do cantador ...e virá como guerra a terceira mensagem
e na cabeça do homem, aflição e coragem...afastado da Terra, ele pensa na fera que o começa a
devorar”...E, então, incorporo o verbo,
me aproprio da Palavra, me jogo no Apocalipse.
“E se o teu amigo, o vento,
não te procurar é por que
multidões ele foi arrastar”...e, romântica que sou, à procura dele pra sentir o rosto açoitado por ele, o vento,
que tudo arrasta, que tudo traga, que revira cabelos e pensamentos.
“Baby , dê- me o seu
relógio que eu quero saber quanto tempo falta pra eu lhe esquecer ...baby, nossa relação acaba-se
assim como um caramelo que chega se ao fim” ... estabelece a intensidade, incongruências e finitude dos relacionamentos se bem que o contexto pra ele
é bem outro, dada a sua vida pregressa- mas o que importa¿ E continuo
a viagem através dos sentidos, do
extrassensorial “apanhando na
beira-mar um táxi pra estação lunar...surge a
bela, linda, criatura bonita, nem menina nem mulher e pelo fogo do seu corpo centelham raios de sol.”
E com “não admito que me fale assim, sou o seu 16º
pai, criptônia desce em
teu olhar e foi no silêncio que
se habitou...e de um cometa que
se espatifou ao meio, surge um asteroide pequeno a que todos chamam
Terra”... agora me transporto `ao
mundo real, sonhando com a ficção, “enquanto
um olho cego vagueia na multidão”.
E em transe, danço
revisitando o passado com a serpente e a
estrela... “ninguém tem o mapa da alma da mulher ...não existe saudade mais cortante que a de um grande amor
ausente, dura feito um diamante, corta a
ilusão da gente”.
E de Menelau a Lampião, de Helena de Troia à mulata da
terra do condor, vai cantando( e descrevendo com maestria!) “o feitiço atrativo do amor” e encantando a
todos com lindas e memoráveis metáforas
(“a mulher tem na face dois brilhantes”) ...até o golpe fatal com “mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem
gemer sem sentir dor”. Uau!
E aí se encerra o
show, deixando a todos extasiados, emocionados, arrepiados.
Uma hora e cinquenta minutos de canções atemporais,
prolongando as horas de encantamento, de momentos inebriantes, de sensações indescritíveis, despertando
sentidos, emoções, arrebatando a multidão delirante.
Grande Zé brasileiríssimo Ramalho, humildemente eu lhe peço
toda a licença poética para aqui despejar desencontradamente ( e ainda inebriada!) fragmentos de sua
poesia, de suas melodias que impregnaram todo o meu corpo, toda a minha alma!
Nada se compara a ir ao show
de um ídolo nosso e estar
tão perto dele!Uuuhuuuu!
Vida loooonga pra vc, Zé!
Um brinde à vida!
Um brinde a vc, meu muso inspirador!