Houve uma época
Em que achava meu nariz um despropósito de grande
Em que meus cabelos traduziam minha ebulição interior
Em que meus olhos estrábicos distorciam foco e direção
Em que me afligia com meus seios que não “cresciam”
Em que me atormentava com a oscilação de peso
E a turbulência dos hormônios.
Houve um tempo
Em que minhas mãos corriam sôfregas sobre o piano
Em que tive como companheira inseparável uma Monareta
Em que passava mais tempo na rua do que em casa
Entre verdes marrons e azuis e pássaros como companheiros.
Houve uma época
Em que questionava o mundo e tudo a minha volta
Em que abominei o convencional e todos os dogmas
Em que quebrei paradigmas que não mais me representavam.
Houve um tempo
Em que resplandeci pra vida
Em que minhas pernas anunciavam minha chegada
(E denunciavam o quanto o sol e o mar me faziam bem)
Em que abandonei temporariamente todas as leituras
Em que me afastei de Deus e acreditei apenas em minha crença
Em ser feliz.
Houve uma fase
Em que vivi tudo intensamente como se nada mais viesse pela frente
Em que descobri na prática conceitos e valores vitais para prosseguir destemida
Em que não acreditava mais no Maktub
Em que meus pés calejaram por andanças em solos férteis
Em que mergulhei em amores, mares mornos e calmos
E em grandes paixões, mares incandescentes e revoltos.
Houve um tempo
Em que morri por dentro
Em que me voltei para Deus
Em que procurei pelos clássicos menos “malditos”
Em que me inspirei me recriei me sintonizei me abasteci através da música
E de pessoas de boa vibração e de afetos grandiosos
E, então, sobrevivi a tormentas e a contingências.
Hoje é um tempo
Em que sou adocicada abrandada resgatada por minhas escolhas
Em que me sinto brindada (impregnada, blindada?!)
Pela sabedoria do avançar dos anos
Pela leveza apenas de ser o que sou
(Por me esquivar de certa alienação)
Pela libertação que só o conhecimento traz
Ou pela chama acesa do desejo de viver a vida plenamente.
Sem me agregar a rótulos a padrões impostos
Sem me furtar de ouvir a voz (bendita!) do coração.
Há tempo
Pra recomeçar pra me redimir de erros pra passar a vida a limpo
No presente certo.
Hoje
Fecho as portas e as janelas para o passado ruim
E as escancaro- todas elas
Para perdoar fazer as pazes com o mundo e comigo mesma.
Hoje é o tempo
Em que me aceito – com todas “as delícias e dores de ser o que sou”
E também aceito o que não tem como ser mudado
Sem mais espernear.
Hoje
Me amo com todas as minhas ( im)perfeições
E me sinto muito mais abastecida de amor e aceitação
Para amar o outro com suas limitações.
Para relevar ou esquecer
O que não mais acrescenta e me deixa fora de sintonia.
O Hoje é o meu presente, o meu novo olhar
Para um novo despertar
Para a Consciência Cósmica
Para a Consciência Cósmica
Para o Eu Sou o que Sou
Para a chegada de novos sentimentos
Para surpreendentes e deliciosas sensações.
Para a chegada de novos sentimentos
Para surpreendentes e deliciosas sensações.
Agora
Sigo em frente sem olhar para trás sem mais questionar desacertos
(Apenas aprendi com eles e abrandei desassossegos).
Sigo em frente sem alimentar mágoas e maus pensamentos
Prossigo me esforçando pra fazer valer (na prática e de verdade!) a compaixão
Sigo munida e fortalecida
Do acolhimento comigo mesma e para com o outro
Da gratidão com tudo o que a vida me trouxe
Do amor que pulsa pleno e vigoroso
De uma Força Maior
De uma alegria que me invade
E me leva a uma sintonia com o Divino
E me traz libertação e luz.
Hoje
Reside em mim um silêncio
“Que ecoa sonoro”
Trazendo revelação transformação e renovação
Arrefecimento do ego.
Esse silêncio tão esperado
Tão consentido e tão bem-vindo
Hoje
Estanca dores
Cala questionamentos inúteis
Afugenta nefastos sentimentos.
Cala questionamentos inúteis
Afugenta nefastos sentimentos.